Beguia Mohamed Bachir, Nayat Hamudi Ali, Mariam Salma Said são mulheres do Saara Ocidental que estiveram presentes aos vários encontros realizados em Monastir, na Tunísia, de 12 a 17 de Julho, preparatórios do próximo Fórum Social Mundial, evento marcado para o período de 23 a 28 de março de 2013, naquele país
A presença delas e a forma como foram recebidas em alguns dos encontros, com claro desconforto das mulheres marroquinas presentes, indicam que os conflitos entre os seus povos, devido ao controle de parte do Saara pelo Reino do Marrocos, estarão entre os temas delicados que a sociedade civil do Norte da África enfrentará nessa edição.
No primeiro dia de encontros, durante uma reunião das mulheres do Magreb Mashrek e movimentos internacionais feministas, para organizar agendas comuns, a fala de uma das saaraui foi interrompida por uma liderança feminista marroquina. No entender desta última, que falou de forma exaltada, os relatos e denúncias que vinham do Saara contra o governo marroquino não contribuiriam para a caminhada conjunta rumo ao Fórum, interferindo no alcance da luta das mulheres da região por direitos.
Foi preciso que demais ativistas presentes se posicionassem com firmeza, assegurando as falas das habitantes do Saara, que não foram leves. Uma das ativistas relatou a série de torturas e humilhações a que mulheres presas pela polícia marroquina estão submetidas, devido a seu ativismo pela independencia do Saara: incluiu a nudez forçada na frente dos filhos, deixando marcas e traumas que não se apagaram com a libertação.
A tentativa de inibir a fala de representantes saarui, ocorrida em Monastir, remeteu aos momentos de confronto entre as duas delegações, vividos na edição do FSM 2011, realizada em Dacar, no Senegal, quando grupos marroquinos contrários à independência do Saara tumultuaram atividades como tática para impedir que as falas continuassem.
Os episódios de 2011 repercutiram na reunião em Dacar do Conselho Internacional do FSM, que na ocasião se posicionou pelo direito saaraui de se expressar livremente, e que outra vez em Monastir precisou abrir espaço em sua plenária de 2012, para o desabafo e o apoio às mulheres reprimidas.
Com apoio do Marrocos, que sediou a primeira reunião do Conselho Internacional no Norte da África, em maio de 2009, representantes dos seus movimentos sociais estão engajados desde então na construção do Fórum Social Magreb Mashrek. Buscam soluções pacíficas para os conflitos regionais, mas enfrentam dificuldades quando se trata de administrar a convivência entre ativistas com posições frontalmente opostas ou mesmo de lidar com assuntos tabus para a sociedade civil marroquina, como a monarquia e o controle do Saara, incluindo muro e policiamento ostensivo.
A Frente Polisário, organização que luta pela independência do Marrocos desde o final da colonização espanhola (1975), busca ampliar a pressão internacional – inclusive no Brasil – para obrigar o Marrocos a cumprir o plano de paz acordado junto com a ONU em 1991 e encerrar a ocupação, realizando para isso um referendo para que o povo decida se quer continuar, ou não, subjugado pelo Marrocos.
Em 2011, participantes do Fórum Social Magreb Mashrek promoveram na França, na cidade de Lyon, um encontro envolvendo as diversas partes envolvidas ou interessadas na solução dos conflitos, e divulgaram um documento apontando compromissos comuns em busca de saídas.
Para ativistas do Saara, porém, o que está em jogo é a autodeterminação do seu povo e o FSM é tido como um espaço que deve dar visibilidade a esta luta, sem admitir discriminações.
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