Uma nova iniciativa de paz
A atenção de muitos tem se focado, pelos últimos anos, na máquina de propaganda que representa a mídia ocidental, que continuamente pinta o Islam como uma ideologia violenta, desumana e desestabilizadora da paz mundial. Mitos como esses se tornaram comuns, após a declaração da “guerra contra o terrorismo”, ou “Nova Cruzada”, conforme definiu George W. Bush. Mas o que devem fazer os muçulmanos para inverter essa situação?
A pluralidade religiosa nesse mundo é algo querido por Deus, como o próprio Alcorão diz. O livro sagrado considera a morte injusta de um ser humano – seja ele muçulmano ou não – à destruição de toda a humanidade. O Alcorão também propõe a reconciliação em tempos de tensão política e guerras. Entretanto, no Islam, guerrear é permitido aos muçulmanos, caso se encaixe dentro de ao menos uma das três condições: uma questão de autodefesa, a remoção de um líder opressor ou força tirânica, ou contra aqueles que quebrarem um acordo de paz. Dessa forma, está claro que, para os muçulmanos, guerra e violência são tão negativas e temidas como qualquer para outra pessoa.
A tolerância para com pessoas de outra fé faz parte da cultura islâmica – não somente como diz o Alcorão, mas na prática a história comprova isso. Um belo exemplo, e irônico se analisada a questão dos palestinos atualmente, aconteceu com o governo do Califa Omar após a conquista de Jerusalém, no ano 637. Além de permitir que fiéis de outras crenças continuassem a seguir normalmente suas rotinas, Omar recusou o convite do então Arcebispo de Jerusalém para rezar na Basílica do Santo Sepulcro, onde a tradição cristã afirma que Jesus Cristo foi crucificado, sepultado e de onde teria ressuscitado no Domingo de Páscoa, temendo que, no futuro, muçulmanos transformassem a igreja em uma mesquita. Outro exemplo aconteceu na Idade Média, quando os judeus eram perseguidos na Europa – eles encontraram a paz, proteção e aceitação entre os muçulmanos no Império Mouro da Espanha. De fato, os próprios judeus se referem a essa época da história judaica como a “Era de Ouro”.
Portanto, a questão da “violência muçulmana” vista hoje através da mídia ocidental deve ser contextualizada, e não isolada. A questão palestina, que representa a raiz do conflito Árabe-Israelense, é crucial. O povo palestino, que tem suas terras privadas diariamente engolidas pelo “lar nacional judaico”, há anos luta pelo seu direito de um estado independente – um tema que não é tabu na comunidade internacional, como foi visto no recente apoio à independência de Kossovo. São muitos os casos semelhantes que envolvem o povo muçulmano – além da Palestina, no Afeganistão, Caxemira, Chechênia, Iraque, para citar alguns.
O mundo ocidental se exalta de sua “liberdade e democracia”, mas erra ao não reconhecer que, como em qualquer outro sistema político, existem direitos e deveres. Em uma democracia, o povo elege o seu representante, em que o líder eleito, portanto, representa os interesses do povo. Nesse caso, é errôneo culpar apenas líderes de nações democráticas, como os Estados Unidos ou Israel, por suas políticas criminosas – os povos dessas nações escolheram seus líderes e, portanto, dividem igualmente uma parcela de responsabilidade por suas decisões. Da mesma forma, os civis de nações como a Palestina, Afeganistão e Iraque, têm o direito de questionar e batalhar por seus direitos e, nesses casos, os inimigos estão claramente marcados.
Concluindo, a partir dessas afirmativas, fica claro que a paz não existe por si só – paz é a direta conseqüência da justiça. Portanto, onde existe injustiça, existe o risco de violência. Cabe então aos muçulmanos lançar um movimento de união internacional, sob o slogan “não há paz sem justiça”, para combater as forças opressoras em nome das vítimas e dos explorados, seja no campo político-religioso, como é o caso da Palestina, ou simplesmente ideológico, como a “Nova Cruzada” estadunidense. Se a mídia ocidental age de forma unida, respeitando os interesses políticos e corporativos que as controlam, cabe aos muçulmanos também se unirem – logicamente, é a única saída. As guerras de hoje não são vencidas com armas, mas com palavras. São mais de 1 bilhão de muçulmanos no mundo -vozes que merecem serem ouvidas, como todas as outras.
FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº91 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_91.pdf
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