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15 de julho de 2009 - 23:50

Uma história de resistência na Selva Central

Por Compas

A determinação das comunidades indígenas do Perú em defender suas terras e a mobilização contra o Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, que não cessou após o confronto sangrento com a violência policial do governo, foi motivo de atenção da mais de 150 pessoas reunidas de 14 a 17 de julho em Belém para o Encontro Pan-Amazônico.

As irmãs indígenas Marishory e Schunita Samariego Pascual, representantes do povo Asháninka, abriram a reunião relatando os 58 dias de marcha pacífica empreendida pelos indígenas da peruanos até o que elas chamam de “a guerra de 2 de Junho”, quando as manifestações foram reprimidas pelas armas do governo de Alan Garcia, resultando em um massacre em que morreram 34 indígenas, 24 policiais e dezenas desapareceram

“Muitos corpos tinham marcas que deixavam saber como morreram”, conta Shunita, lembrando que os assassinatos foram praticados de modo bárbaro e cruel. “Nós, indígenas, não podíamos imaginar isso”, contou a jovem

Mas as manifestações prosseguiram e dada a persistência indígena, o governo peruano pediu prazo de 100 dias para responder às pressões. “Agora estamos aguardando que cumpra a promessa” disse Schunita.

No Encontro, elas descreveram conflitos de sua tribo entre duas escolhas difíceis para sobreviver e educar as novas gerações: aprofundar-se ainda mais na selva, ficando no isolamento, ou ainda mais da cidade, submetendo-se a um mundo que trata indígenas como inferiores.

A menos que o processo de exploração de recursos naturais seja detido, o território onde vivem os Ashaninka não garante mais uma vida saudável como antes, por causa do impacto da exploração petroleira. “A água ficou contaminada, e os peixes também. Não temos escolha, comemos os peixes e ficamos doentes. E o governo não se importa com isso”

O governo de Alan Garcia, presidente que indignou a população ao chamar indígenas de “perros de las hortelanas”, talvez seja o pior de todos na história para os Ashaninka, disseram as palestrantes: “Ele não conhece nem respeita os povos indígenas”.

As duas mulheres pediram que a solidariedade manifestada no Encontro de Belém seja traduzida em ações de apoio. Uma das lutas de seu povo é por uma educação bilingue, que forme jovens professores com conhecimento de sua cultura e sua língua, para que os Ashaninka não desapareçam. “Não somos intelectuais no sentido ocidental. Nossa intelectualidade está mais ligada à caça, pesca, dança, ritos e lendas em forma oral. Mas essa é nossa realidade, não é um sonho. Temos mais de 3 mil anos, e nossa própria língua, e não estamos extintos”

No entanto sua comunidade sofre hoje os efeitos de confrontos entre guerrilhas e exército na selva, uma época que para elas foi de terrorismo, porque os jovens eram recrutados para as guerrilhas e as mulheres levadas como escravas sexuais. “Não nos permitiram criar líderes nessa época porque era muito perigoso”.

Elas desejam também ver a história Ashaninka transformada em livro, escrito por gente de sua comunidade, para as gerações que virão.

Outros artigos sobre o massacre de 2 de Junho no Perú está no especial Ciranda Abya Ayala

Outros artigos sobre o Encontro de Belém está no especial Ciranda Pan-Amazônica

Entrevista em vídeo de Marishory e Schunita, feita pela Cepepo, pode ser vista aquí

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