Sigilosos planos de permanência no Iraque

Sigilosos planos de permanência no Iraque

Até maio de 2003, seis semanas depois da invasão do Iraque, a arrogância imperialista parecia ser imbatível, com George W. Bush anunciando ao mundo o “fim de grandes operações de combate” no país. Mas as festividades ocidentais acabaram tão brevemente como começaram. Não havia nem sequer debates sobre a probabilidade de se vencer a guerra imposta à nação iraquiana. Portanto, é irônico que a mídia ocidental hoje se foque exclusivamente nas “boas notícias” do Iraque, derivadas do mito do “sucesso do aumento de tropas”. Uma breve análise dos outros “aumentos” conduzidos pelos estadunidenses no país ocupado, ignorados propositalmente pela mídia ocidental, colocaria a presença estrangeira no país em uma perspectiva bem diferente.

Em 19 de março de 2003, Bush anunciou a invasão do Iraque, afirmando que “não temos ambições, exceto remover uma ameaça e devolver o controle do país para seu próprio povo”. Como não é mais notícia, em poucas semanas as riquezas iraquianas foram saqueadas, roubadas e exportadas para o exterior. Escolas, hospitais, museus e bibliotecas – tudo que tinha um significado nacional – foram levados. Foi nesse momento que aconteceu o primeiro “aumento” conduzido pelos invasores, omitido invariavelmente no Ocidente: o aumento da presença das grandes corporações estadunidenses agindo no Iraque. Escritórios ministeriais de Saddam Hussein (exceto, é claro, o do petróleo e energia) foram doados para empresas como a Halliburton e sua subsidiária KBR, a Bechtel e muitas outras associadas diretamente à família Bush, para terminar a pilhagem sob o lema de “reconstruir o Iraque”. Em menos de um ano, esses administradores coloniais desapareceram com 20 bilhões de dólares “investidos” pelo governo estadunidense na “reconstrução”, no que foi descrito por Ed Harriman, do London Review of Books, como “a administração menos transparente e responsável do Oriente Médio”.

Como conseqüência natural da missão colonialista, outros “aumentos” incógnitos se seguiram. Ao se aproximar o fim do mandato da ONU da permanência estadunidense no Iraque (em 31 de dezembro de 2008), houve o “aumento” de “conselheiros” e “mentores” estadunidenses instalados para “dar suporte” ao governo-fantoche iraquiano. Oficiais escolhidos a dedo pela administração Bush foram instalados em todos os órgãos do governo: entre os militares, na polícia iraquiana, no sistema acadêmico, em um perfeito exemplo de prática colonialista. Nunca foi comentado pela mídia ocidental, por exemplo, que a empresa estadunidense de segurança DynCorp International tem hoje 800 “conselheiros de segurança” infiltrados nas forças policiais do governo-fantoche. Nunca se ouviu falar que antropólogos, cientistas políticos e sociólogos estadunidenses haviam sido instalados em todos os níveis da estrutura de ensino iraquiana, para “promover uma compreensão cultural” – ou seja, enganar os iraquianos quanto aos verdadeiros motivos da presença dos ocupantes estrangeiros no país. Aliás, dois desses acadêmicos, Nicole Suveges, cientista política com PHD na Johns Hopkins University, e outro que permanece anônimo, foram mortos esse ano como conseqüência dos combates liderados pelos Estados Unidos contra o Jaish al-Mahdi.

Outro “aumento” jamais comentado se refere ao aumento de prisões construídas pela ocupação em território iraquiano, fora do alcance de jornalistas independentes ou curiosos. Pelo menos 20 mil iraquianos estão detidos hoje, sem acusação formal ou direito de defesa, nas prisões estadunidenses de Campo Bucca e Campo Cropper, continuamente expandidas em total sigilo. Walter Pincus, do Washington Post, confirmou o recente “aumento de prisões” e, logicamente, de prisioneiros. “Um novo centro de detenção com capacidade para 5 mil prisioneiros está quase terminado próximo ao Campo Taji, como fase inicial de um contrato de expansão dos centros de reconciliação”, escreveu Pincus. Novas prisões também estão em fase de construção na província de Al-Anbar. É no mínimo irônico, porém, a expansão desses “centros de reconciliação”. Reconciliar o que? Os milhares de detidos que nem sequer sabem por que estão detidos? Ou trata-se, na realidade, de uma estratégia para instalar uma ocupação de longo termo?

Enfim, tudo indica que a concentração do foco dos militares estadunidenses e, conseqüentemente, da mídia ocidental, no “sucesso do aumento de tropas”, serve para camuflar os verdadeiros interesses colonialistas da invasão. No último ano, houve dezenas de “aumentos” em todas as áreas da guerra, tudo colocado em prática secretamente. A intenção é estabelecer uma profunda estrutura estadunidense por todo o Iraque, enraizada em todos os setores do país, algo que garantiria uma ocupação de longo termo e impossibilitaria uma retirada completa. Até o presente momento, unicamente o que não “aumentou” foi a qualidade de vida da nação iraquiana.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº111 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_111.pdf

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