Seminário debate a experiência africana do aRtivismo

Valorizar a cultura e as identidades regionais, através da comunicação e das artes, é uma forma poderosa com que o povo africano pode enfrentar e reverter as violências produzidas pelos sistemas coloniais e que estão presentes ainda hoje. Essa convicção da representante do Instituto Panos da África Ocidental, Diana Senghor, na abertura do seminário Artistas, ativistas e mídia: rumo a convergências duradouras pela transformação social, foi também foi a tônica da primeira mesa de debates que reuniu produtores e formadores que atuam no chamado campo do “aRtivismo”, no Senegal.

As várias apresentações do Mali, Nigéria, Tunísia e Senegal mostraram, em comum, a característica de um tabalho voltado a fazer comunicação com artistas, e a envolver comunicadores e ativistas sociais na produção artística, trabalhando juntos. “Nas formações, se estão separados, artistas apenas com artistas, de jornalistas com jornalistas, a sinergia entre as atividades parece silenciosa, explica Danté, representante do Mali. “Quando se juntam, o trabalho é enriquecido e a sinergia é visível.”

Feryel Mbarki, na Tunisia, participa de um trabalho de midiArte que começa com a formação em rádio e vídeo e, depois, tem continuidade na produção conjunta. As atividades incluem artistas e jornalistas que nunca produziram conteúdos audiovisuais e que conseguem trabalhar e se expressar com uso desses meios pela primeira vez.

Fidele, do Senegal, chama a atenção para o potencial do trabalho audiovisual voltado à transformação social. Com ele, é possível dar expressão aos temas de interesse das comunidades e que são fundamentais para a defesa de direitos e resistência cultural.

Geralmente, o processo relatado pelos representantes dos quatro países da África Ocidental onde são desenvolvidas as experiências de aRtivismo proposta pelo Instituto Panos é bastante semelhante. Para além da formação no uso dos recursos, são escolhidos temas que afetam a vida das pessoas, como a condição das mulheres e suas lutas por igualdade e contra a violência, os direitos humanos e, a partir daí, participantes reúnem propostas de abordagens artísticas, técnicas jornalísticas ou midiáticas e recursos tecnológicos para a produção de materiais.

Em vários países da África, há mais de uma língua falada na mesma comunidade. Na Nigéria, por exemplo, onde a língua oficial é o inglês, é preciso trabalhar com pelo menos três linguas. Em algumas regiões da Nigéria, grupos étnicos falam mais de uma língua, além do inglês, que é a língua oficial.O número de línguas atualmente estimado e catalogado na Nigéria é 521, sendo que destas 510 são línguas vivas. Essa diversidade é também um recurso dos quais os artivistas lançam mão. “Trabalhamos em conjunto, no mesmo grupo, com as diferentes linguas”, diz a nigeriana

No Mali, a língua mais falada é o Bambara,que predomina nas produções, Mas não é a única. Há comunidades e regiões falanes de línguas .berberes ( grupo de 25 línguas faladas pelos povos berberes), a língua fula, o grupo de línguas e dialetos Maninka, a lingua moré, o soninquê, as línguas songai. o tuaregue.

Na Tunísia, além do árabe, há seis dialetos, que são utilizados. Os produtos são também traduzidos ao francês para distribuição. No Mali, o Bambara é predominante nas produções.

Uma questão do público remeteu ao problema da religião, quando conflita com direitos das mulheres ou direitos humanos. Amina explica que é preciso enfrentar vários preconceitos, além desses, inclusive aqueles que associam religião ao terrorismo e tratam as pessoas como suspeitas. Ela relata um episódio trabalhado pelo grupo, a partir de situações reais, em que uma pessoa é acusada de terrorismo e torturada na estação policial. São temas que se transformam em conteúdos debatidos e produzidos com linguagem popular.

Um desafio para muitas regiões é o acesso à internet, crucial para divulgar e acessar os conteúdos, mas que nem sempre é disponível para a população, especialmente nas regiões mais pobres do continente. A África subsaariana registra os níveis mais baixos de utilização da Internet no mundo, com menos de 3% da população em países como o Chade, Serra Leoa, Níger, Somália e Eritreia.

Multiplicar os grupos de aRtivismo nos países africanos é a aposta dos participantes do seminário do Senegal como estratégia de formação em comunicação para a resistência social e cultural. Participantes das experiências da África Ocidental devem debater, no terceiro dia do seminário, estratégias para a promoção de um Fórum Africano de Mídia Livre, onde a participação de artistas deve ser tão valorizada quanto é hoje o envolvimento de jornalistas e produtores de comunicação no Fórum Mundial de Mídia Livre.

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