Quantos mísseis atingirão Israel?
Na última semana, chamou à atenção a palestra regida pelo general Eitan Ben Eliahu, comandante da Força Aérea de Israel entre 1996 e 2000, sobre o possível cenário de guerra caso combates sejam iniciados contra a República Islâmica do Irã. A temática principal era: “quantos mísseis atingiriam Israel?” Com uma palestra realista, em que Ben Eliahu descreveu a “doutrina de segurança” israelense, as respostas assustaram a muitos em Israel.
Eitan Ben Eliahu iniciou a palestra definindo a “doutrina de segurança” que há anos rege o “lar nacional judaico”. Criado na década de 1950, o conceito israelense considera o uso de força militar de três maneiras: um ataque preventivo; um ataque antecipado, para destruir preparações militares de inimigos; e, em caso de guerra aberta, ações rápidas para destruir de uma vez o inimigo. De acordo com a doutrina, o processo de derrotar o inimigo é baseado em elementos de surpresa, concentrados em eliminar o poderio aéreo inimigo. Como diz o ditado: ”quem controla os céus, domina a terra”. Essas regras, combinadas com o apoio incondicional dos Estados Unidos, nos tempos do seu apogeu, garantiram uma noção de segurança para o governo israelense até o fim da década de 1980.
Desde então, a doutrina não se provou tão eficaz. Israel foi surpreendido por outras forças que usaram esse elemento de surpresa, as guerras se tornaram mais longas e o risco de armas químicas e nucleares do “lado inimigo” cortaram os braços dos militares israelenses muitas vezes. A humilhante derrota para o Hizbollah na invasão de 2006, e o insucesso em sufocar o povo palestino ao manter o recente cerco em Gaza, provam isso. Segundo Ben Eliahu, nos 34 dias de guerra, o partido político e movimento de resistência libanês atingiu mais de 4200 foguetes em território israelense. Por sua vez, Israel conduziu quase 12 mil operações de ataque (uma média de 340 operações por dia), sem chegar a resultado algum. Desde então, Israel expandiu o seu orçamento de defesa anual de 35 bilhões de dólares para 50 bilhões, reconhecendo a necessidade.
O ápice da palestra foi quando Eitan Ben Eliahu descreveu o possível cenário de guerra contra o Irã. Segundo ele, Israel deve se preparar para o seguinte panorama: três frentes de combate (Irã, Líbano e Palestina); destruir o inimigo em uma delas (o Hamas, em Gaza, ou o Hizbollah, no Líbano); conter qualquer avanço da frente palestina; e infligir uma punição de longo termo para o Irã. O comandante estima que o Hizbollah tenha acesso hoje a mais de 14 mil foguetes de curto e médio alcance, e que o Irã consiga atingir o território israelense com cerca de 300 foguetes de longo alcance (Shahab 2 e 3). Os mísseis Shahab 2 e 3, produzidos em série regular e que carregam ogivas pesando cerca de 800 quilos, podem atingir alvos em todo o Oriente Médio. Ben Eliahu assustou a todos ao explicar que, para eliminar completamente um foguete como o Shahab 2 e 3, são necessários pelo menos dois mísseis interceptadores e entre 500 e 700 mísseis simples. “Seriam pelo menos 20 dias de guerra, em um ritmo muito mais tenso do que a última invasão do Líbano”, disse ele. Portanto, segundo o comandante israelense, os riscos e custos de uma retaliação iraniana são “incalculáveis”.
A tensão aumentou recentemente, com as forças israelenses ameaçando lançar uma “ação preventiva” contra instalações iranianas, utilizando bombas de penetração B61-11, fornecidas pelos Estados Unidos. Mas Israel pode estar menosprezando a capacidade militar de seus inimigos. O contingente iraniano soma um milhão de soldados, “preparados para morrer pela nação”, como descreveu o presidente Mahmoud Ahmadinejad. A palestra do general israelense Eitan Ben Eliahu chocou a muitos, mas abriu os olhos de que passou o tempo em que Israel era invencível.
FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº111 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_111.pdf