Os dados são assustadores: mais da metade das mulheres em Malawi, na África, acabam se casando antes dos 18 anos.
Quando, há treze anos, Theresa Kachindamoto foi forçada a trocar o seu trabalho como secretária de uma universidade local pelo posto de chefe no distrito de Dedza, no sul do Malawi, não fazia ideia dos horrores que a aguardavam.
Pouco demorou até descobrir a dura realidade para as jovens malawianas, tornando-se uma líder feminista e ganhando a fama de “a destruidora de casamentos” do país.
“Avisei-os [à população] que, gostem ou não, eu quero que estes casamentos parem”, conta Kachindamoto ao site Al-Jazeera.
Só nos últimos 3 anos, ela já ajudou mais de 850 mulheres e garotas de sua comunidade anulando seus casamentos forçados. E mais que isso, as ajudou a voltar a estudar também, para que tenham um futuro melhor.
Juntamente com isso, também luta contra rituais que iniciam crianças sexualmente.
A questão dos casamentos tão novas é cultural, com os pais permitindo isso para reduzir gastos em casa. O que acaba virando um ciclo vicioso de reduzir a participação ativa da mulher na sociedade, seja com trabalho, educação ou voz. Gerando dados alarmantes de abusos sexuais, doenças como HIV. Tornando o Índice de Desenvolvimento Humano cada vez pior, em vez de melhorar.
Segundo dados do FMI, o Malawi é terceiro na lista de países mais pobres do mundo.
Atuando há 27 anos na área, Kachindamoto já obteve importantes conquistas, como tornar lei a maioridade de 18 para casamentos. Outra lei que vem batalhando é para impedir que meninas de 12 anos fiquem grávidas e quer que a idade legal seja depois dos 21.
O trabalho de Kachindamoto incomoda alguns tradicionalistas que não desejam mudanças e ela já foi até ameaçada de morte, mas ela não tem a mínima pretensão de abandonar a causa, e ainda deixa o recado: “se elas forem educadas, podem ser o que quiserem”.
E finaliza: “Disse aos restantes chefes que isto tem de parar ou serão demitidos”.