Por que Annapolis é um teatro?
A mídia ocidental agiu em massa ao comemorar os resultados da recente “Conferência de Paz de Annapolis”, nos Estados Unidos. A iniciativa do presidente estadunidense, que trouxe 49 nações ao país, incluindo a Arábia Saudita e a Síria, além de organizações internacionais, foi relatada como “um primeiro passo de sucesso”. Entretanto, nada foi comentado sobre como o povo palestino e israelense viram a conferência, apesar de serem eles quem realmente decidirão o futuro da Questão Palestina.
Provavelmente, a mídia ocidental ignorou as principais peças do jogo pelo fato de a Conferência de Annapolis ter sido recebida, por ambos os lados, com incerteza e descrença. De fato, os políticos envolvidos, Ehud Olmert (77% da população está insatisfeita com sua condução dos assuntos do país), Mahmoud Abbas (que teve seu partido unanimemente derrotado pelo Hamas nas últimas eleições palestinas) e George W. Bush (que tem uma lista incalculável de mentiras, crimes e fracassos diplomáticos), perderam força dentro de suas nações, e estão sem credibilidade. De qualquer maneira, por eles foi prometido que, até o fim de 2008, “a paz será alcançada” na Palestina.
Todo o espetáculo foi muito bem feito, mas não se mostrou realista. Abbas nem sequer tem o controle da Palestina no momento, isolado na Cisjordânia e ausente na Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas. Olmert, que carrega o peso de sérias acusações de corrupção e da humilhante derrota para o Hizbollah no ano passado, depende de uma coalizão de políticos israelenses que já ameaçaram, mesmo sem o início de algo, que abandonarão o plano caso ele faça concessões de assuntos como o status da cidade de Jerusalém ou o direito de retorno dos palestinos. Além das questões internas da Palestina, a recusa do governante saudita Saud al-Faisal, ministro do Exterior, em cumprimentar Olmert foi uma manifestação clara do longo caminho a ser percorrido.
O jornal israelense Maariv classificou Annapolis como “fazendo paz para as câmeras”. “Cerimônias de paz são feitas quando a paz é alcançada”, criticou o diário. Uma pesquisa de outro jornal israelense, o Haaretz, mostrou que a maioria dos israelenses considera a conferência, de antemão, “um fracasso”. A posição do povo israelense é clara, já que Annapolis pode destruir o sonho de colonos sionistas caso Olmert realmente pare de expandir os assentamentos ilegais sobre as terras privadas palestinas – uma decisão vital para se alcançar a paz. Na Palestina, uma pesquisa na Cisjordânia (controlada pelo próprio Abbas) mostrou que 62% dos palestinos acreditam que “nada mudará” após Annapolis. Em Gaza, protestos anti-Abbas foram marcados pela revolta contra o esquecimento da região na conferência. “As pessoas que se encontraram em Annapolis não representam o povo palestino, mas sim eles mesmos”, afirmou um dos líderes do protesto.
A “Conferência de Paz de Annapolis” começou mal. Assim como nas demais iniciativas no passado, fatores indispensáveis foram deixados de lado pelos mentores do plano. Se os líderes da Palestina e de Israel (Abbas e Olmert) não têm credibilidade dentro de seus países, e Bush, intermediário da questão, é malquisto por toda a comunidade internacional, como o plano poderia ter sucesso? De fato, tudo não passou de um teatro, em que os atores no palco foram aplaudidos, mas aqueles nos bastidores foram ignorados.
FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº85 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_85.pdf
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