Partido Ba’ath: “Estamos prontos para a retirada”
A presença do Partido Ba’ath, de Saddam Hussein, ressurgiu no Iraque após a mais recente entrevista de Izzat Ibrahim Ad-Douri, que lidera a lista de procurados dos Estados Unidos no Iraque com uma recompensa de 10 milhões de dólares por informações que levem à sua captura. O retorno de Ad-Douri e o fortalecimento do Ba’ath no Iraque sob ocupação representam a mais nova ameaça para os Estados Unidos.
Izzat Ibrahim Ad-Douri foi entrevistado pelo egípcio Abdel-Azim Manaf, editor-chefe do jornal Al-Mawqif Al-Arabi, no dia 26 de maio de 2008. A entrevista foi comprada também pela agência internacional Associated Press (AP). Segundo a agência, o “diálogo aconteceu nos campos de batalha, com o comandante em seu esconderijo, ao lado de seus soldados, imerso em sons de tiros e explosões do lado de fora”. O ex-comandante do exército iraquiano, e homem mais próximo de Saddam Hussein sob o governo do Ba’ath, deu a entrevista como “Comandante Supremo da Frente de Libertação e Jihad e Secretário-Geral do Partido Ba’ath no Iraque”. Até então, os militares estadunidenses acreditavam que “Ad-Douri teria uma importante participação em financiar a resistência, mas pouco se sabia sobre seu envolvimento direto com as tropas em solo iraquiano”, segundo o general Petraeus, líder da ocupação no país e herói da mídia ocidental. Agora está claro que o Ba’ath está, de fato, em solo iraquiano, e que Ad-Douri nunca deixou de comandar as forças leais a Saddam Hussein na resistência à ocupação.
O comandante iraquiano identificou três fases da resistência: a primeira, durante os primeiros dias da invasão, quando o exército iraquiano foi “aconselhado a esconder suas armas e esperar”; a segunda, em “iniciar combate contra os invasores estrangeiros em pontos importantes no Iraque”; e a terceira e atual fase, que se resume em “prolongar a resistência e acumular influência em áreas sem presença da ocupação à espera da retirada” dos estadunidenses. Ad-Douri apresentou estatísticas importantes, até então desconhecidas, sobre o número aproximado de “mártires” que tem lutado pela Resistência Iraquiana desde a invasão, em 2003: “Até então, o número de mártires do Ba’ath chega a 120 mil”, afirmou. De fato, após a invasão, milhares de civis se uniram ao já presente exército do Ba’ath, para aguardar ordens de resistência, e o número de homens do então exército de Saddam Hussein mais que triplicou.
Ad-Douri vê a guerra no Iraque como “um episódio histórico e decisivo”, em que “o futuro do Ba’ath é disputado, assim como o futuro da livre nação iraquiana”. “Enfrentar a ocupação é uma responsabilidade coletiva do Ba’ath e do povo iraquiano, uma vez que todos nós fomos vítimas da invasão”. Sobre a realidade da guerra, o comandante iraquiano deixou claro que “derrotamos a aliança do mal, que está deixando o Iraque pouco a pouco”, e “estamos prontos para negociar a retirada dos ocupantes”. “Amigos e inimigos conhecem a nossa estratégia. O Ba’ath não negociará com ninguém que não reconhecer essa estratégia; nem com os Estados Unidos, nem com seus intermediários [do governo-fantoche]. Se o inimigo reconhecer isso, sentaremos com eles imediatamente, negociaremos, e facilitaremos a sua retirada do nosso país com o máximo de proteção”, explicou Ad-Douri. A “estratégia” ao qual o comandante refere-se é o reconhecimento do Partido Ba’ath como representante da Resistência Iraquiana e, portanto, um partido com poder presente na política iraquiana pós-ocupação. Até o momento, as forças de ocupação consideram todos os membros do Ba’ath como “criminosos fugitivos”, e evitaram reconhecer que o partido de Saddam Hussein sempre esteve por trás da incansável resistência armada no Iraque.
Izzat Ibrahim ad-Douri não escondeu que o Ba’ath pretende subir ao poder novamente no Iraque após a retirada dos invasores estrangeiros. “O partido está a mais de meio século no Iraque; faz parte da nação iraquiana. A organização é hoje muito mais forte do que antes da invasão. Eu não vou elaborar isso agora, mas tudo vai ficar claro quando a hora certa chegar. Estamos em todas as cidades, vilas, campos, montanhas e desertos do Iraque. Fora do país, também estamos acompanhando os refugiados iraquianos que foram forçados a abandonar o Iraque”, explicou Ad-Douri, enfatizando que, por trás do banho de sangue por todo o país, o Ba’ath nunca deixou de governar, no literal sentido da palavra.
O futuro não muito distante do Iraque parece estar claramente planejado pelo Partido Ba’ath. “Não haverá trégua com os ocupantes internos [do governo-fantoche]. Desde o primeiro dia da invasão, o Ba’ath convocou a união das forças de resistência como uma necessidade histórica. Isso foi concretizado, após muito trabalho, em setembro de 2007, com a formação da Frente de Libertação e Jihad, que consiste de 33 grupos armados de resistência. Considerando isso, o Iraque não será um estado com único partido, e estrangeiros e traidores não farão parte do governo”, esclareceu o comandante. É vital lembrar que a personalidade de liderança de Izzat Ibrahim ad-Douri aparece com mais freqüência a cada vez que os planos de retirada dos Estados Unidos se intensificam. Quem sabe, o futuro do Iraque esteja muito mais vivo e concreto do que muitos imaginam.
FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº108 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_108.pdf
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