Honduras saiu da pauta da mídia. Não há mais golpe militar nem presidente asilado em embaixada brasileira, e, diz a CNN, “voltou a democracia”, com as eleições de 2009. Assim, não existem mais motivos para tornar notícia o país. Mas, a verdade não é bem essa. Primeiro que a democracia não voltou coisa nenhuma. As eleições foram realizadas dentro do golpe, portanto, não tem qualquer legitimidade. Nenhum candidato de esquerda ou progressista participou do processo, que era viciado por natureza. Assim, o presidente eleito representa pouco mais de 15% das gentes. A maioria segue em luta, quer de volta seu país, sua liberdade, sua soberania. Coisas que lhes foram tiradas por um golpe alinhavado pelo embaixador estadunidense no país.
Desta forma, mesmo que os holofotes da mídia tenham se voltado para outros lugares, a luta em Honduras prosseguiu. Depois das eleições seguiram as prisões, as mortes, os desaparecimentos. Lideranças sindicais e jornalistas são escolhidos a dedo. Amanhecem mortos. Mesmo assim o povo não esmorece.
Um exemplo disso é a batalha dos professores hondurenhos, que nos tempos do golpe, foram uma das categorias mais mobilizadas. Desde há sete meses que eles vêm buscando conversar com o governo de Pepe Lobo para que ele atenda suas reivindicações trabalhistas e políticas, como o rechaço à Lei Geral da Educação, que limita o direito à educação pública. Mas, o governo se faz de surdo. Por conta disso os professores iniciaram uma greve, e, como sempre acontece, foram brutalmente reprimidos pela polícia. Na tentativa de escapar do violento ataque, os trabalhadores buscaram abrigo na Universidade Pedagógica Nacional Francisco Morazán. Ainda assim a polícia atacou, com bombas, balas de borracha e balas de verdade. Uma ação desproporcional. Em Honduras, os demais trabalhadores, apoiando a luta dos professores por entender que é também a defesa da educação pública, já estão articulando uma greve geral para este dia 7 de setembro.
Mas, na madrugada do dia 5 de setembro, outra ação repressiva das forças de segurança, tornou a situação ainda mais grave e promete levar mais gente às ruas. Policiais fortemente armados invadiram a Universidade Nacional Autônoma de Honduras, para prender professores – dirigentes sindicais – que estavam em greve de fome, protestando contra a demissão ilegal de 184 professores da universidade. Segundo a reitora, Julieta Castellanos, as demissões teriam ocorrido porque os professores eram “subversivos”.
Esta mesma reitora já havia chamado a polícia no dia 3 de agosto, para desalojar trabalhadores que realizavam protestos contra as demissões. Agora, outra vez, atiça as forças policias sobre os sindicalistas em greve de fome, exigindo a prisão de todos os 28 professores que realizam o protesto. Por todo o país, os trabalhadores se solidarizam e chamam a população a se manifestar nesse sete de setembro. Tudo indica que será um dia de mobilizações massivas em todo o país.
A luta dos professores é só uma entre tantas outras demandas que seguem pedindo passagem na Honduras ainda sufocada pelo autoritarismo. E os mesmos homens, mulheres, adolescentes e crianças que enfrentaram os fuzis do golpe militar seguem enfrentando as forças policias do governo “democrático”. Uma gente valente que não esmorece, ainda que não haja mais câmeras filmando suas dores. Neste sete de setembro, quando aqui no Brasil se ouvirá o grito dos excluídos, em Honduras as gentes encherão as ruas. É a interminável luta do povo pela vida digna.