O obstáculo judaico de Israel no Irã

O obstáculo judaico de Israel no Irã

“O Irã é a nova Alemanha Nazista e o seu presidente, Mahmoud Ahmadinejad, é o novo Adolf Hitler”, têm declarado oficiais israelenses pelos últimos meses, em uma campanha com os Estados Unidos para convencer a todos de que um ataque ao Irã é inevitável. Se os recentes relatórios da mídia ocidental são verdadeiros, parece que tal campanha tem tido sucesso ao convencer os duvidosos. Mas, existe algo de verdadeiro em tais acusações? Ao que tudo indica, não.

O atual líder da oposição em Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou recentemente que “estamos em 1938 novamente, e o Irã é a Alemanha. O Irã está correndo atrás de armas nucleares, e Ahmadinejad está preparando mais um Holocausto para o estado judaico”. Algumas semanas atrás, a Aman (órgão de inteligência militar de Israel) alertou, como vem fazendo desde 1990, que o Irã estaria “aproximadamente apenas há um ano do ponto sem retorno”, ou seja, de ter bombas nucleares prontas para serem utilizadas. Netanyahu correu para se pronunciar novamente: “Isso é um problema judaico, assim como Hitler era um problema judaico”, disparou ele. O próprio presidente de Israel, Shimon Peres, entrou no mesmo barco ao afirmar que “uma bomba nuclear iraniana representa um campo de concentração voador”. Ele não se refere, obviamente, à situação catastrófica do povo palestino nos territórios ocupados. O primeiro-ministro Ehud Olmert, afogado em críticas pela derrota militar de Israel para o Hizbollah em 2006, também seguiu o combinado: “Ahmadinejad fala como Hitler falava no período de extermínio de toda a nação judaica”, disse ele ao jornal alemão Bild.

A história foi combinada com extrema perfeição, mas só existe um problema: se Ahmadinejad é mesmo o “novo Hitler”, preparado para “exterminar a nação judaica”, por que existem atualmente mais de 25 mil judeus vivendo pacificamente no Irã, determinados a continuar lá? Tal mito continua sendo reciclado, mesmo depois de passados quase 2 anos do discurso traduzido erroneamente proferido por Mahmoud Ahmadinejad. A “ameaça” de Ahmadinejad nada mais foi, conforme provado por especialistas da língua farsi, do que uma citação do Aiatolá Khomeini, em que promete ao povo palestino que “o regime sionista de Jerusalém será varrido das páginas do tempo”. Obviamente, não se tratava de uma ameaça de extermínio de judeus. Era uma simples comparação da ocupação israelense da Palestina com outros sistemas de governo ilegítimos do passado, como o regime pró-ocidental do Shah (que governou o próprio Irã) e o apartheid da África do Sul. Assim como tais regimes criminosos, o regime sionista deverá partir e abrir espaço para um governo verdadeiro. Apesar disso, uma tradução errada propositalmente fabricada pela mídia ocidental é disseminada sempre que possível.

Enquanto isso, os mais de 25 mil judeus iranianos, que formam a maior comunidade judaica no Oriente Médio fora de Israel, continuam no Irã, em que suas raízes podem ser traçadas até 3 mil anos atrás. Assim como diversas outras minorias religiosas no Irã, os judeus têm a sua liberdade. Eles contam com um representante eleito no Parlamento iraniano, praticam sua religião em suas sinagogas, recebem ajuda financeira de Israel normalmente e são livres para viajar, inclusive para Israel. Como Ciamak Moresadegh exemplificou: “Se você considera que o judaísmo e o sionismo são a mesma coisa, é o mesmo que considerar o Islam e a Al-Qaeda a mesma coisa, o que não é verdade”, afirmou o líder judaico-iraniano. Entretanto, a mídia ocidental tem ironicamente trabalhado muito em expandir o círculo da islamofobia no Ocidente, classificando uma religião de paz como de violência e terrorismo. De fato, os judeus iranianos têm seus motivos por preferirem o Irã a Israel.

Em uma tentativa de evitar que tais realidades sejam divulgadas, o governo israelense iniciou em 2005 uma campanha para trazer os judeus iranianos para viverem em Israel. Contudo, o jornal diário israelense Ma’ariv afirmou que “existe uma falta de desejo dos judeus iranianos em deixar o Irã”, mostrando o fracasso de mais um plano sionista. Segundo as fontes israelenses, apenas 152 dos mais de 25 mil judeus iranianos deixaram o Irã para Israel desde então, a maioria deles justificando sua saída por “questões econômicas”, e não políticas. Ao que tudo indica, para o “lar nacional judaico”, o bem-estar das famílias judaico-iranianas é muito menos importante do que a sua utilidade para incitar ódio contra o mundo muçulmano. Para aqueles que querem cultivar a teoria de uma “batalha de civilizações”, os mais de 3 mil anos de história dos judeus iranianos nada mais é do que um obstáculo para novas guerras.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº71 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_71.pdf

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