O governo-fantoche de Bagdá

O governo-fantoche de Bagdá

A mídia ocidental tem noticiado rumores sobre a recente “posição firme” e “força” do primeiro-ministro do Iraque, Nouri al-Maliki, insinuando que ele tenha alcançado um grau de confiança para desafiar a ocupação estadunidense do país. A história surgiu como conseqüência do impasse causado pelo “plano de segurança” de longo termo proposto pelos Estados Unidos, que supostamente foi recusado por Maliki, e a posição favorável a um plano detalhado de retirada. Mas tudo não passa de ingênua especulação.

Nada disso é verdade. Desde seu primeiro dia como primeiro-ministro, em 2006, Maliki se provou um fantoche dos Estados Unidos, fraco e submisso. A base política do governo apresenta-se cada dia mais inerte, e o Partido Dawa representa uma força política inexistente no Iraque atual. O poder de Maliki depende de uma frágil coalizão de outros partidos pró-invasão, o principal deles sendo o Conselho Islâmico Supremo do Iraque, uma milícia xiita associada à Guarda Revolucionária do Irã. Essa situação complicou o caráter do primeiro-ministro iraquiano, uma vez que ele tornou-se também um fantoche dos interesses iranianos. Já os sunitas iraquianos permanecem ignorados e desfavoráveis aos interesses do governo-fantoche. Nas eleições internas de 2005 e 2006, que formou o governo atual, somente 2% dos sunitas iraquianos participaram, em um completo boicote ao corrupto sistema político. Essa é a “democracia” liderada por Nouri al-Maliki, instalada pela ocupação.

Maliki procura balancear o apoio que recebe dos Estados Unidos, que arma e treina o exército e a polícia do governo-fantoche, e o Irã, que tem vasta influência política e militar no Iraque pós-invasão. Ciente dessa necessidade de Maliki, Bush dobrou o apoio financeiro ao treinamento de forças militares iraquianas em 2007 e 2008, a fim de sujeitar o Iraque aos interesses estadunidenses. Mas ao mesmo tempo o Irã tem pressionado Maliki para ver as forças estrangeiras fora do Iraque, uma cobrança sofrida pelo governo-fantoche vinda de diversos partidos nacionalistas iraquianos, sunitas e xiitas. Em resumo, Maliki se mantém hoje no governo graças ao balanço interno de forças entre os Estados Unidos e o Irã. O dia em que um lado ou outro ceder, cairá o governo iraquiano.

A divulgação sobre a “posição firme” e “força” de Maliki começaram há dois meses, com o ataque encomendado pelos Estados Unidos contra as forças do Jaish al-Mahdi, leais ao clérigo xiita Muqtada as-Sadr, em Al-Basra. Mas, de fato, a falaciosa operação diminuiu o seu apoio. Ele encontra-se hoje sob forte pressão iraniana e sob a ameaça de golpe de Estado por militares do próprio governo. “O parlamento é a instituição menos respeitada na sociedade”, disse Stephen Biddle, conselheiro do general Petraeus, líder da ocupação no país e herói da mídia ocidental. “Se nós deixarmos o país, com certeza veremos os militares tomando o poder”, concluiu.

Não é possível encontrar essa “força” de Nouri al-Maliki, por mais que a mídia ocidental procure fortalecer a imagem dele no Iraque. Maliki possui aliados escassos e fracos, e o Partido Dawa foi desintegrado. O Conselho Islâmico Supremo do Iraque é atacado diariamente pelos próprios xiitas nacionalistas, por render-se aos interesses iranianos. Quanto aos sunitas, não há necessidade de comentários. Os curdos ainda apóiam o primeiro-ministro, mas não têm qualquer importância fora de seu enclave no norte do país, onde são atacados esporadicamente pelo Irã e pela Turquia, sem ouvir uma voz de defesa vinda do governo iraquiano. Ao que tudo indica, os dias de Maliki estão contados: quando a ocupação se for, ele também irá.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº113 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_113.pdf

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