O colapso de um “dependente” de petróleo
As invasões ao Afeganistão e ao Iraque não marcaram somente humilhantes derrotas morais, políticas e militares para os Estados Unidos, mas também a queda do chamado “único superpoder”. Assim como o fim da União Soviética (1991) foi simbolizada pela derrubada do Muro de Berlim (1989), a “Nova Cruzada” de George W. Bush reflete a nova fase do declínio do imperialismo estadunidense. Ironicamente, apesar de ter invadido o Iraque para tomar posse dos recursos minerais, os Estados Unidos foram derrotados pela sua dependência incontrolável por petróleo.
Atualmente, um soldado médio estadunidense no Iraque gasta cerca de 80 litros de combustível diariamente. Esse é um número importante a ser considerado, uma vez que ele representa mais do que o dobro do volume diário consumido pelos mesmos soldados em 2004. Esse dado reflete o quão despreparados estavam os estadunidenses quando decidiram invadir o Iraque em 2003 – cinco anos depois, os gastos dobraram, e nenhum sucesso está previsto. Segundo o Centro de Suporte Energético da Defesa do Pentágono, são gastos mais de 11,5 milhões de litros de petróleo por dia somente no Iraque. É esse um dos problemas que assola os Estados Unidos.
Historicamente, controlar o petróleo do Iraque foi o fator predominante no envolvimento dos Estados Unidos naquele país. Na “guerra contra o terrorismo”, não é surpresa que o petróleo seja o principal foco estratégico para a Casa Branca. O primeiro objetivo das forças invasoras em 2003 era a captura de terminais e campos petrolíferos do país. Em 20 de março de 2003, os estadunidenses travaram o primeiro combate da guerra, quando lançaram uma invasão-surpresa aos terminais cargueiros de petróleo de Mina al-Bakr e Khor al-Amaya, no Golfo Pérsico. Poucas horas depois, o tenente Therral Childers tornou-se o primeiro militar estadunidense a morrer em combate na invasão, ao combater no campo petrolífero de Rumaylah, sul do Iraque. A história não foi diferente quando as forças de invasão chegaram a Bagdá em 8 de abril. Embora a Biblioteca Nacional do Iraque, os Arquivos Nacionais e o Museu Nacional de Arqueologia fossem saqueados e queimados, o edifício do Ministério do Petróleo permaneceu intacto. Isso aconteceu devido a uma operação especial com soldados e meia dúzia de veículos de assalto, designados para a guarda do ministério e de seus registros.
Contudo, os militares e o novo governo-fantoche de Bagdá, colocado no poder pelos estadunidenses, não conseguiram assegurar-se do estilhaçado setor petrolífero iraquiano. De acordo com A.F. Alhajii, economista e professor estadunidense da Universidade de Ohio, “seja quem for que controle o petróleo do Iraque, ele controla o Iraque”. Entretanto, desde a invasão em 2003, não existe tal pessoa. Os invasores nem sequer têm poder para controlar territórios no Iraque. Eles são apenas uma das muitas milícias que competem pelo poder num Estado sem leis. Fato que reflete isso é que o próprio consumo de petróleo dos estadunidenses no Iraque é importado do Kuwait. Só em 2006, o Centro de Suporte Energético da Defesa do Pentágono comprou cerca de 910 milhões de dólares em combustíveis para motores da empresa estatal Kuwait Petroleum Corporation. Portanto, a ocupação nada tem de dominação.
Somente em 2007, os militares queimaram mais de 4,2 mil milhões de litros de combustível no Iraque. Mais de 5 mil caminhões-cisterna estão envolvidos no transporte combustível – um investimento caríssimo. Em novembro de 2006, um estudo da Academia Militar dos Estados Unidos estimava que entregar um galão (3,78 litros) de combustível no Iraque custa 42 dólares aos contribuintes estadunidenses, sem incluir o custo do próprio combustível. Para aquela taxa, cada soldado custa 840 dólares por dia. Para manter os 160 mil militares no Iraque, os Estados Unidos gastam 923 milhões de dólares por semana, ou seja, um terço de todas as despesas com o andamento da guerra. Essa ascensão dos gastos com combustível é conseqüência direta da campanha da Resistência Iraquiana. As forças estadunidenses foram forçadas a defender-se dos famosos IED (dispositivos explosivos improvisados), artefatos caseiros responsáveis por mais de 50% das baixas da ocupação no Iraque. Os militares investiram milhões de dólares em contramedidas de alta tecnologia para combater a Resistência, mas fracassaram.
A administração Bush decidiu adotar uma estratégia que não tem precedentes na história estadunidense – perseverar numa guerra que já foi perdida nos quesitos moral, estratégico e militar. E o prosseguimento desse combate tem seus custos. Os Estados Unidos estão hoje muito mais fracos, em todos os setores, do que quando Bush tomou posse de seu primeiro mandato, em 2000. O poder dessa nação consumida pelo vício em petróleo continuará a deteriorar-se. Haverá a retirada do Iraque, mas não em um momento escolhido. Ao invés disso, o conflito finalizará quando não houver mais capacidade econômica para travar a guerra, e esse momento não está muito longe. Dessa forma, pode-se afirmar que a guerra no Iraque assinala o fim do intervencionismo de grande escala dos Estados Unidos da América.
FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº105 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_105.pdf
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