Muros e fronteiras

Imagem: Luísa

Em janeiro de 2005 foi realizado, em Porto Alegre , um fórum das migrações, no contexto do Fórum Social Mundial. Agora, acaba de se realizar em Rivas Vaciamadrid , na Espanha, o Segundo Fórum Mundial das Migrações, em evidente continuidade com o fórum de Porto Alegre.

Este segundo fórum trouxe avanços significativos para o adequado enfrentamento do fenômeno migratório. Foi assumido por um leque muito mais amplo de organizações. Foi apoiado decididamente pela administração municipal de Rivas Vaciamadrid, que fez questão de se imbuir do “espírito de Porto Alegre”, vale dizer, manter a perspectiva universal, junto com a convicção de que é possível um mundo diferente, superando a pretensa fatalidade de que o atual processo de globalização quer hoje se revestir.

Nos últimos anos o fenômeno migratório assumiu proporções assustadoras. As estatísticas oficiais procuram quantificá-lo, apresentando a cifra aproximada de duzentos milhões de pessoas que hoje se encontram em processo de migração, em diferentes partes do mundo. Mas por sua situação, fica difícil precisar o número exato dos migrantes. E ainda mais, o problema não se limita a eles. Tanto na origem como no destino, a migração deixa conseqüências e coloca desafios.

O fato é que os migrantes se constituem na interpelação mais forte e mais evidente do atual processo de globalização. Este processo traz duas marcas características, que os migrantes questionam frontalmente. Ele é concentrador e excludente. Os migrantes mostram que eles não aceitam ficar de fora, e não permitem que os benefícios do desenvolvimento sejam apropriados só por uma minoria.

No tempo da confrontação entre Leste e Oeste, o ocidente enfatizava o “direito de emigrar”, que assistiria a todos os cidadãos do leste que quisessem passar para o ocidente. Agora, que caiu o muro de Berlim, o ocidente perdeu o entusiasmo de defender este direito, que deveria vir acompanhado do “direito de imigrar”.

Ao contrário, agora se erguem muros, tentando impedir a entrada de migrantes que buscam sobretudo a Europa Ocidental e os Estados Unidos. A própria Espanha se vê em dificuldade de conter a onda de migrantes africanos que tentam entrar no enclave espanhol situado no Marrocos, para daí passarem para o continente europeu. E’ trágica a situação de milhares de africanos que tentam acessar as Ilhas Canárias, para de lá seguirem depois ao continente. Segundo depoimento de participantes do fórum, são milhares os que já morreram afogados nesta travessia. E assim acontece nas praias da Sicília e no leste da Itália, para onde tentam aportar diariamente os que chegam do norte da África e dos países do leste europeu.

A situação mais trágica e radical se encontra na fronteira entre Estados Unidos e o México. Para deter os migrantes latino-americanos, os Estados Unidos estão construindo um muro de milhares de quilômetros, ao longo de toda a fronteira como o México.

Desde os tempos de Jericó, os muros se mostram inúteis, e as fronteiras são relativas. O mundo precisa ser pensando como a casa comum de toda a humanidade. Esta é a convicção do fórum das migrações, com sua proposta de cidadania universal e direitos humanos para todos. Esta proposta é ainda uma utopia. Mas é preciso começar sonhando, para que se torne realidade um mundo em que seja possível viver com dignidade em todos os países, quando a migração não será mais necessária ou deixará de ser um drama.

( www.diocesedejales.org.br )

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