Líbano: um ano de sofrimento
“Simplesmente, o Líbano se tornou um lar dividido”, afirmou o jornal libanês Daily Star, na última quinta-feira (12), um ano após a invasão israelense de julho de 2006. A guerra iniciada por Israel deixou o país em uma profunda crise econômica e política, assim como abriu as portas para novos e violentos conflitos internos, como o atual caso do campo de refugiados palestinos de Nahr El-Bared.
Em 12 de julho de 2006, soldados do Hizbollah capturaram dois soldados israelenses e deixaram outros seis mortos após uma operação em terras ocupadas ilegalmente por Israel. O governo israelense utilizou o incidente como justificativa para realizar um ataque maciço ao Líbano, já planejado anteriormente, conforme declarado pelo primeiro-ministro Ehud Olmert. O que se seguiu foram ataques pelo ar, água e terra, atingindo principalmente as áreas residenciais, em que cerca de 1300 civis libaneses foram mortos, mais de 1 milhão ficaram desabrigados e a infra-estrutura civil do país foi completamente destruída. Do lado israelense, provando o abuso de força e o ato de punição coletiva contra o Líbano, somente 43 civis foram mortos. As mais recentes estatísticas apontam que Israel matou cerca de 30 vezes mais civis do que o Hizbollah, algo que contraria completamente a autodenominação do Exército de Israel de ser “o exército mais moral do mundo”.
Após os 34 dias de guerra, marcados por bombardeios diários em áreas residenciais libanesas, a ONU ordenou um cessar-fogo que garantiu a vitória estratégica do Hizbollah – Israel falhou em recuperar seus dois soldados, e ao mesmo tempo mostrou sua verdadeira face para o mundo ao castigar injustamente o povo libanês. Apesar da vitória, o último dia 12 de julho não contou com nenhuma comemoração no Líbano. Segundo o jornal libanês As-Safir, “se passou um ano desde a guerra de Israel contra o Líbano, mas inúmeros perigos se seguiram que nos fazem temer a nossa vitória, e cancelar as comemorações para evitar discórdia”. Além de continuar alarmante por todo o sul do Líbano o perigo das bombas de fragmentação israelenses (ilegais perante a Lei Internacional), que ainda tiram vidas de civis um ano após a guerra, o impasse entre os partidos de oposição e o governo pró-ocidental de Fuad Siniora tende a se complicar ainda mais nas próximas semanas, ao se aproximar da data-limite para as eleições presidenciais, em setembro.
As conseqüências econômicas da destruição causada por Israel refletem a brutalidade dos 34 dias de guerra. Os danos materiais dos bombardeios no Líbano foram estimados em 3,6 bilhões de dólares. Por todo o país, mais de 125 mil casas foram completamente destruídas, além de rodovias, usinas e toda a infra-estrutura básica civil. Dos mais de 1 milhão de civis desabrigados, a ONU estima que pelo menos 200 mil ainda não tiveram condições de retornar a seus lares.
A reconstrução do país tem sido lenta. Os civis libaneses acreditam que o governo está segurando o dinheiro do apoio internacional em uma tentativa de pressionar o Hizbollah a se desarmar, forçando uma revolta do povo pela destruição causada por Israel. Nas vilas do sul do país, os residentes recebem ajuda financeira do próprio Hizbollah, o partido político que lidera a oposição ao atual regime pró-ocidental. “Nós precisamos que o Hizbollah nos proteja. Sem o Hizbollah e o Qatar (país que colaborou diretamente com a reconstrução da região) não existiria mais ninguém nessas vilas”, afirmou Ahmed Srour, morador da vila de Aita Shaab.
Israel também pagou caro pela derrota. As conseqüências políticas enfraqueceram a desastrosa liderança de Ehud Olmert, acusado de “falhas severas” pela Comissão Winograd de Israel, que analisa os detalhes da invasão do Líbano. O relatório final da Comissão só será divulgado em agosto, e Olmert deverá ser pressionado novamente a renunciar ao cargo de primeiro-ministro. Apesar das críticas constantes, Olmert se defendeu na última quinta-feira (12): “Estou convencido, assim como estava há 12 meses, que tomei a decisão certa”, disse ele durante uma breve visita às fronteiras de Israel. Entretanto, com a destruição causada aos libaneses, as palavras de Olmert ecoam como um perigo, uma ameaça, semelhante à da invasão pré-planejada do último verão.
FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº65 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_65.pdf
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