Minga, substantivo feminino incorporado ao espanhol. Na antiga tradição dos incas, era o trabalho comunitário, sem valor mercantil, feito para o desfrute de todos. Em Quito, entre 25 e 30 de julho, foi o nome da rede de publicações independentes que ofereceu a melhor cobertura sobre o Fórum Social das Américas (FSA), ao erguer de novo a bandeira do copyleft – o trabalho intelectual compartilhado. Articulados pela Agência Latino-americana de Informação Independente (ALAI), profissionais de dezenas de jornais e revistas reuniram-se em torno da Minga Informativa dos Movimentos Sociais. Produziram reportagens, análises, entrevistas e crônicas sobre o Fórum Social que destacou a emergência do movimento indígena. Publicados instantaneamente via internet, seus textos permitiram acompanhar cada dia de trabalho do encontro. Agora, este material ganhará as páginas de publicações alternativas de todo o continente.
A Minga segue a tradição da Ciranda Internacional da Informação Independente. Formada desde 2001, em todos os Fóruns Sociais Mundiais (FSMs), a Ciranda é ao mesmo tempo ferramenta de trabalho e alternativa para novas relações da comunicação não comercial, no futuro. Aposta no jornalismo cooperativo, para garantir cobertura ampla de um evento onde centenas de atividades acontecem simultaneamente.
Diversidade e troca não financeira
Publicações alternativas de todo o mundo acorrem aos Fóruns. Ao contrário dos jornais de mercado, interessam-se pelo conteúdo dos debates – os avanços na busca de alternativas, as ações comuns desencadeadas, as insuficiências – não pelos fatos folclóricos. Mas mobilizam, em geral, equipes pequenas. Isoladas, pouco poderiam fazer. A virtude da Ciranda está em uni-las, respeitando ao mesmo tempo sua diversidade. Cada uma segue seus interesses e pautas específicas. A soma dos múltiplos enfoques e pontos de vista assegura a abrangência da cobertura.
As matérias produzidas podem ser consultadas instantaneamente, numa página que recebe, durante o período do Fórum, dezenas de milhares de visitas diárias. A difusão não se limita à internet. Em muitos casos, o texto publicado pode ser reproduzido, também em papel, por outra publicação integrante da rede – quando esta é a política dos autores ou da publicação de origem. Para acordos entre publicação e autor, o contato é facilitado com a divulgação de email ou página de origem do texto ou foto. Para a internet, graças ao princípio do copy left, a cessão dos conteúdos publicados na Ciranda é automática e sempre sem contrapartida financeira.
O sucesso da experiência coloca, para os que se dedicam ao jornalismo independente, algumas questões instigantes. A criação de uma grande rede de publicações independentes não seria uma alternativa viável para enfrentar o monopólio da comunicação? Nesse caso, como fazer para que a articulação, hoje limitada aos Fóruns Sociais, torne-se permanente?
Novidades no V FSM
São respostas para construir em parceria. Vale a pena, enquanto isso, comemorar algumas novidades positivas. Já estão em andamento os preparativos para armar em janeiro, em Porto Alegre, a V Ciranda. Graças a entendimentos concluídos em Quito, com a Rádio Mundo Real e a Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc), ela permitirá também, pela primeira vez, a transmissão de programas de rádio e TV. Planeja-se criar no Brasil, após o Fórum e com base em programas de software livre, um progama de compartilhamento de informações entre publicações alternativas e movimentos sociais.
Além de disponíveis no site da Minga, textos produzidos pela imprensa independente desde Quito podem ser encontrados em Rádio Mundo Real, Aler/Amarc, Terra Viva/ IPS, Alai, Adital, Rebelión, La Insignia, FSA/Al Dia, Agência Pulsar, Choike, Caminos, La Selva, e no site institucional do Fórum Social Mundial.Informações mais amplas sobre a V Ciranda podem ser obtidas, desde já, por correio eletrônico.
http://www.portoalegre2003.org/publique/cgi/public/cgilua.exe/web/templates/htm/1P4OP/view.htm?editionsectionid=244&user=reader&infoid=8871