As forças de ocupação israelenses convocaram um menino palestino de quatro anos de idade, residente em Issawiya – bairro palestino comprimido entre a Universidade Hebraica de Jerusalém e o Muro da Separação –, nos territórios ocupados de Jerusalém Oriental, para uma série de interrogatórios.
Muhammad Rabi’ Elayyan foi intimado em sua casa por dezenas de policiais israelenses para comparecer na delegacia de polícia na Rua Salah Eddin, perto do Portão de Damasco, na região da Cidade Velha de Jerusalém.
Após a intimação, Elayyan foi levado por seu pai, Rabi’, para a delegacia, na manhã desta terça-feira (30). O Centro de Informações Wadi Hilweh – ONG com sede em Jerusalém – compartilhou um vídeo que mostra Muhammad chorando quando carregado para dentro da delegacia de polícia. Alguns palestinos de Issawiya podem ser vistos ao redor do pai e do menino, tentando tranquilizá-lo.
A polícia israelense alega que Muhammad atirava pedras contra seus veículos, o que os levou a convocá-lo. O pai do menino, Rabi’, no entanto, contesta as acusações, ao relatar que o filho brincava na rua com outras crianças que correram em direção às tropas israelenses estacionadas no local.
Rabi’ relatou a experiência à agência de notícias palestina Ma’an: “Nessa manhã, tive de dizer ao meu filho Muhammad que o levaria para nadar. Não consegui explicar o que aconteceu. Ficamos assustados com os soldados estacionados em frente à delegacia de polícia na Rua Salah Eddin.”
Quando chegaram na delegacia, um oficial israelense eventualmente recusou-se a permitir que Muhammad entrasse no local para ser interrogado; em seu lugar, levou o pai para os interrogatórios. Segundo relatos, o policial ameaçou Rabi’ de separá-lo do filho caso não o impedisse de atirar pedras contra as tropas israelenses.
Israel é signatário da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a qual declara que “crianças só podem ser presas, detidas ou aprisionadas como último recurso e pelo menor período de tempo possível”.
A mesma convenção também declara: “Os governos devem estabelecer uma idade mínima para que as crianças sejam julgadas em cortes criminais”; segundo a lei militar de Israel, a idade mínima para que sejam responsabilizadas por seus atos é de doze anos, embora permita prisões de crianças ainda menores. De qualquer modo, portanto, a convocação de Muhammad é ilegal tanto conforme a lei internacional quanto a lei militar israelense.
O bairro de Issawiya é alvo de uma repressão severa desde meados de junho, quando forças israelenses passaram a executar invasões diárias e abusos sistemáticos sobre os residentes locais, em grande parte como resposta a pedras atiradas por jovens palestinos.
Durante uma invasão executada no dia 27 de junho, forças israelenses balearam no peito o palestino local Mohammad Samir Obeid, de 20 anos de idade, com uso de munição letal. O jovem foi levado pelas forças israelenses e declarado morto no hospital. Outros 20 palestinos foram feridos por balas de borracha e gás lacrimogêneo. A ONG israelense de direitos humanos B’Tselem desde então denuncia que o assassinato de Obeid foi “injustificado”.
Semanas depois, forças israelenses voltaram a invadir Issawiya e destruíram o monumento erguido em memória de Obeid. Benjamin Netanyahu, Primeiro Ministro de Israel, vangloriou-se da demolição ao compartilhar a ação em sua conta no Twitter: “A pedido meu e em coordenação com o prefeito de Jerusalém, Moshe Leon, e a autoridade de segurança, o monumento em memória de um terrorista em Issawiya foi removido. Não iremos permitir esse tipo de coisa!”
A convocação do menino Muhammad é vista, portanto, como parte do assédio contínuo de Israel contra os palestinos de Issawiya. A ONG B’Tselem reiterou ainda que os abusos sistemáticos da polícia israelense sobre os residentes de Issawiya “é uma parte intrínseca da política de Israel sobre Jerusalém Oriental, com o objetivo de assegurar uma maioria demográfica de judeus na cidade. Este propósito é diligenciado, em parte, pelos recursos e esforços reservados a impossibilitar a vida dos palestinos na cidade, de modo que saíam ostensivamente por vontade própria.”