Irã falava a verdade desde o início

No dia 3 de dezembro, o novo relatório de inteligência dos Estados Unidos concluiu que o Irã desativou o seu programa de armamentos nucleares há mais de 4 anos. Mais uma vez o governo estadunidense tem sua credibilidade colocada em xeque – ao que tudo indica, o mito das “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein (que nunca existiram) voltou para assombrar a administração Bush também no caso do Irã.

O relatório da Estimativa de Inteligência Nacional (EIN) sobre o Irã, que expressa consenso entre todas as 16 agências de inteligência estadunidenses, indica com “muita confiança” que o Irã paralisou seu programa para desenvolver armamentos atômicos em 2003 “em resposta à pressão internacional”. O resultado contradiz as ameaças da Casa Branca de que a República Islâmica estaria atrás de “desenvolver armas nucleares” – o motivo pelo qual duas sanções econômicas foram impostas contra o país recentemente. Ao mesmo tempo, o relatório comprova o que o Irã afirma há anos: que seu programa nuclear é pacífico, voltado apenas para a geração de eletricidade com fins civis.

As “descobertas” da EIN não representam uma novidade para aqueles que seguiam o caso do Irã de perto. O reeleito presidente russo, Vladimir Putin, havia anunciado anteriormente, baseado em suas agências de inteligência, que “não existem evidências” de que o Irã estaria atrás de construir uma bomba. Mohamed El-Baradei, chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), encarregada de inspecionar as instalações iranianas, também respondeu positivamente, afirmando que o relatório sustenta sua posição de que “não há evidências de um programa de armas nucleares não declarado em lugar algum” no Irã.

A novidade significa que o Irã venceu? De acordo com oficiais do Pentágono, o relatório “fortaleceu o Irã e enfraqueceu os demais”. De fato, o Irã comemorou a mais recente derrota da administração Bush. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki, declarou que “está se tornando claro para o mundo que o programa nuclear do Irã é mesmo pacífico”. A televisão estatal iraniana qualificou o relatório como “a confissão nuclear” dos Estados Unidos, e afirmou que o mesmo representa “uma vitória” para a República Islâmica. Apesar disso, a máquina de propaganda militar de George W. Bush não descansou.

Assim como no Iraque, em que a cada vez que uma mito era desmascarado outro novo era criado (das “armas de destruição em massa” à “presença da Al-Qaeda no Iraque”), o governo estadunidense já iniciou a sua nova campanha de acusações contra o Irã. Em uma entrevista coletiva em Washington, Bush disse que o relatório, na verdade, “dá motivo para mais pressão” (sic) contra o governo do líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Após comprovado que a afirmativa do governo iraniano era mesmo verdade, as novas acusações estadunidenses são voltadas para a “intenção” de desenvolver armas nucleares, e não mais a capacidade – um argumento difícil de ser avaliado. Segundo Bush, o Irã pode retomar um programa atômico militar secreto. “O Irã foi perigoso. O Irã é perigoso. E o Irã será perigoso, se tiver o conhecimento necessário para fazer uma arma nuclear”, afirmou ele.

O desenvolvimento de tecnologias nucleares é legal perante a Lei Internacional para os países que assinarem o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Considerando isso, o Irã tem o direito de enriquecer urânio, já que a República Islâmica assinou o tratado ainda em 1968. Apesar disso, os Estados Unidos parecem decididos a atrasar o desenvolvimento do país, que tem um papel fundamental na divisão de poderes do Oriente Médio. Um recente relatório da AIEA, que antecedeu o relatório estadunidense, confirmou inequivocamente que “o programa nuclear do Irã é de natureza civil”, e que “o Irã não tem intenção e nem condição de fabricar armas nucleares”. O governo estadunidense, porém, não se mostrou interessado em fatos. “Acho que o relatório divulgado ontem é um sinal de advertência, porque poderiam [o Irã] reiniciá-lo [o programa nuclear]. Tiveram o programa e o paralisaram”, afirmou Bush, acrescentando que “todas as opções” continuam sobre a mesa em relação às medidas a serem tomadas contra Teerã. Pelo menos por enquanto, a verdade venceu.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº86 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_86.pdf

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