Honduras: políticos ligados a Zelaya são assassinados

Roger Iván Bados, de 54 anos, foi morto a tiros em sua residência, na
colônia de Rivera Hernández, em San Pedro Sula, norte do país. A outra
vítima foi Ramón García, de 40 anos, também assassinado por homens armados
ao descer de um ônibus no município de Macuelizo, departamento de Santa
Bárbara, oeste de Honduras.

Em entrevista , o presidente da UD, Renán Valdés, indicou que García era um
dos líderes dos protestos em Santa Bárbara, e que Bados também sempre
participou de manifestações pró-Zelaya.

Para ele, por este motivo, os dois homicídios configuram um ”ato de
represália” perpetrado pelo governo de facto do país, encabeçado pelo
presidente Roberto Micheletti, nomeado pelo Congresso.

Em um comunicado, a Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado
ressaltou que as mortes ocorreram em meio à ”grave crise política vivida
por Honduras e sob claras condições de perseguição e repressão desencadeadas
pelo governo de facto contra dirigentes populares em todo o país”.

Na nota, o grupo exige que as autoridades investiguem ”estes cruéis
assassinatos” e levem à Justiça seus ”autores materiais e intelectuais”.
”Convocamos o povo hondurenho a continuar participando de todas as
atividades de resistência até que a ordem constitucional seja restituída e
os golpistas abandonem o poder, ao qual chegaram mediante usurpação”, diz o
texto.

*Sem toque de recolher, mas com censura

*Ontem, o governo de facto hondurenho decidiu pôr fim ao toque de recolher
que estava vigente no país desde o dia 28 de junho. Por outro lado, a
censura aos meios de comunicação persiste, com toda a força.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, denunciou que um grupo de
jornalistas da cadeia multiestatal Telesur e da tv pública venezuelana VTV
foram ameaçados de morte em Honduras e tiveram que abandonar o país neste
domingo.

”Eles foram deportados. Essa é a democracia que nos querem impor no
continente: a ditadura. Eles foram ameaçados de morte”, afirmou Chávez em
seu programa de rádio e tv dominical ”Alô, Presidente”.

Chávez qualificou de ”covarde” a ação do governo. Jornalisas da Telesur e
da VTV denunciaram ter sido presos e obrigados a abandonar Honduras depois
de terem seus quartos de hotel invadido pela polícia.

Eles disseram ainda terem ficado presos durante algumas horas e aconselhados
a abandonar o país por ordem do governo de fato de Roberto Micheletti.
Segundo a polícia, a prisão foi punição por um roubo, mas os jornalistas
afirmam que foi uma tentativa de amedrontá-los.

Vários oficiais da Imigração, acompanhados por policiais armados e
encapuzados, percorreram vários hotéis de Tegucigalpa para checar a situação
migratória de jornalistas estrangeiros.

*Pressão
*
Enquanto isso, a pressão internacional cresceu sobre Micheletti e seu
governo, com apelos pelo restabelecimento imediato da ordem constitucional e
o congelamento de fundos de ajuda por parte de organismos multilaterais de
crédito como o FMI.

”A suspensão da ajuda internacional é gravíssima, porque cerca de um terço
do Orçamento Nacional – aproximadamente 1,5 bilhão de dólares – dependem de
ajuda bilateral e multilateral”, declarou o economista Nelson Avila,
ex-assessor de Zelaya.

O economista Martín Barahona, ex-presidente do Colégio de Economistas de
Honduras, advertiu por sua vez que o país só ”tem capacidade de se
sustentar de forma autônoma por mais quatro ou cinco meses”.

”Nas atuais condições, é impossível que um governo consiga resistir por
mais de seis meses”, concordou Wilfredo Girón, professor de Economia da
Universidade Nacional Autônoma de Honduras.

*Mediação da Costa Rica

*O presidente costarriquenho Oscar Arias anunciou que retomaria a mediação
entre as duas partes da crise política hondurenha dentro de uma semana.
Arias disse no domingo em San José que espera convocar um novo encontro
entre representantes de Zelaya e do presidente interino Roberto Micheletti
dentro de aproximadamente oito dias. A primeira reunião terminou na
sexta-feira sem nenhum compromisso concreto, a não ser o de um novo
encontro, sem data definida.

A mediação de Arias, apoiada pelos Estados Unidos, foi criticada no domingo
pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, para quem a única solução aceitável
para Honduras é a restituição de Zelaya.

Com agências