Em um mundo de conflitos e atrocidades, heróis são raros de se encontrar. Entretanto, quando aparecem, seus valores são evidentes e comovem a todos. Mais do que confirmar a vitória do Hizbollah contra a invasão israelense ao Líbano em 2006, a libertação dos cinco soldados libaneses neste mês de julho marcou uma cena de união entre etnias e religiões por todo o Oriente Médio – um panorama precioso de se encontrar em uma região marcada por contraproducentes interferências estrangeiras. Mas a mídia ocidental tentou apagar a conquista árabe, ofuscando o heroísmo libanês.
É interessante como a imprensa ocidental apressou-se em suavizar a vitória libanesa para consolar a derrota da entidade sionista. “As milícias do Hizbollah são hienas quando assassinam e fazem terrorismo. Tanta violência causa repugnância. Devemos nos resignar ao mal?” indagou a matéria de Gilles Lapouge no jornal O Estado de São Paulo. Ironicamente, foi Israel, com o “exército mais moral do mundo”, que deixou mais de 1.300 civis libaneses mortos ao invadir o Líbano, até ser forçado a retirar-se, depois de 34 dias de bombardeios a áreas residenciais. O Hizbollah deixou cerca de 160 israelenses mortos, 90% deles soldados. “Tanta violência causa repugnância.” Com certeza, mas em que lado está o “mal”?
O libanês Samir Kuntar, herói do Líbano, tornou-se o foco da campanha da mídia ocidental de desinformação na fase atual de abater a vitória libanesa. “Ele é um assassino de criancinhas”, disse David Baker, porta-voz do governo israelense. “Uma de suas proezas foi esmagar a coronhadas o crânio de uma menina judia”, conforme reproduziu O Estado de São Paulo. Acusações como essas foram disseminadas abertamente, mas em nenhum caso os acusadores ousaram descrever a que evento essas incriminações referem-se.
Em 22 de abril de 1979, Kuntar comandou a “Operação Nasser”, um ataque à base israelense de Naharya, a 10km da fronteira libanesa, onde soldados seriam capturados para futura troca de prisioneiros. Com um bote inflável motorizado, Kuntar e seus três soldados passaram despercebidos por seis esquadrões de navios militares israelenses, sob os narizes de soldados e radares da guarda costeira, e chegaram a Naharya, após um breve combate contra uma patrulha sionista. Ao invadir o “Edifício 61” do complexo militar, o grupo matou o sargento israelense Elyaho Shahar e capturou o cientista de energia atômica Dan Harn. Forças israelenses chegaram ao local e abriram fogo. Todos os quatro soldados da resistência foram atingidos. Samir Kuntar tentou fugir com dois capturados – Dan Harn e sua filha. Atingido por cinco tiros, ele entregou-se, aguardando o martírio. “Os tiros foram tantos que até os dois capturados foram alvejados”, escreveu Kuntar em uma carta enviada quando estava em uma prisão israelense. Apesar de Kuntar e o outro sobrevivente do grupo, Ahmad al-Abrass, terem sido detidos no edifício, Dan Harn e sua filha foram encontrados mortos longe do local, “esmagados por coronhadas”. Aprisionado e silenciado por Israel por 29 anos, a notícia oficial fabricada pelo governo israelense e disseminada no Ocidente culpava o libanês pela morte do cientista e da criança. Agora, com a libertação de Samir Kuntar e quatro prisioneiros do Hizbollah, a história mudou.
Há dois anos, Israel invadia o Líbano a fim de recuperar os dois soldados capturados pelo Hizbollah. Hoje, concordaram em trocar os mesmos dois soldados, já mortos, por cinco heróis da resistência vivos e 199 mártires palestinos e libaneses. Há quem ainda consiga afirmar que o Líbano não venceu, mas até a mídia ocidental precisou de todos os seus artifícios para tentar atenuar a vitória da resistência e sobrevalorizar o sofrimento sionista. As comemorações pelas ruas do Oriente Médio contam uma história de heroísmo e triunfo, que não será apagada pela investida ocidental.
FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br – Edição nº112