Fórum copyleft

Quem vai ao V Fórum Social Mundial para atuar como
midia alternativa ou quer participar dos projetos
colaborativos do seu Centro de Imprensa pode se
orientar pela altíssima chaminé ao lado do Rio Guaíba,
em Porto Alegre. A velha coluna de 107 metros que
visitantes tomam por referência quando querem fazer um
passeio de barco pelo rio ou assistir, das margens, ao
famoso por do sol no Guaíba, será, em janeiro de 2005,
um marco da comunicação do V Fórum Social Mundial. É
seguir para lá!.

A chaminé faz parte da velha e desativada
termo-elétrica que até hoje mantém o nome de Usina do
Gasômetro e que será o centro de um formigueiro de
comunicadores e midias ocupadas com o FSM. Ao redor
dela se espalharão as tendas de agências de notícias
que levarão suas equipes e equipamentos para a
cobertura jornalística do Fórum. Independentes ou
comerciais, todos os estandes de imprensa ficarão
nessa área.

Dentro do Gasômetro, haverá um Centro de Imprensa que,
à primeira vista, é semelhante ao de qualquer grande
evento internacional, muito melhor equipado que a
maioria. Mas as diferenças que explicitam o forte
compromisso do próximo FSM com o fortalecimento das
midias alternativas estão em quem vai usar e como
serão usados esses equipamentos.

Não haverá distinção entre jornalistas de grandes
agências corporativas e comunicadores de pequenas
publicações comunitárias no acesso a uma parte
importante do centro de imprensa. São os computadores
conectados à internet para redação de artigos e
remessa de textos e imagens para as redações, redes e
sites externos. Os critérios de credenciamento para
empresas jornalísticas e free-lancers (condição de
muitos “alternativos”) estão no site institucional do
FSM (www.forumsocialmundial.org.br).

Outra parte do centro, formada por estúdios de radio e
TV, ilhas de edição, uma sala de operações e outra de
encontros de pauta, terá uso exclusivo pelos projetos
coletivos das mídias alternativas. A utilização será
organizada pelas próprias redes independentes, com
formas de gestão colaborativas, como as que estão
sendo construídas pelos Fóruns de radio e de TV, ou
pelo projeto Memória Instantânea, que é um dos
projetos guarda-chuva do Grupo de Trababalho de
Cultura do FSM dedicado à produção de audio-visuais
durante o grande evento. Através desses projetos, a
Usina do Gasômetro será o coração da cobertura
compartilhada do V FSM.

Os projetos de acolhida

A partir de dezembro, com o desenho final do projeto
de comunicação do FSM – ainda em construção dentro do
Grupo de Trabalho da Comunicação e suas interfaces com
o GT de Cultura, o Acampamento Internacional da
Juventude e o Comitê Organizador Brasileiro –
comunicadores e mídias alternativas que preparam sua
ida a Porto Alegre começarão a conhecer detalhes dos
projetos coletivos que estão sendo montados para
acolhê-los.

Todos se baseiam no princípio do copyleft: produzindo
conteúdos e ferramentas que as mídias não comerciais
que chegam ao Fórum poderão reproduzir, utilizar,
recriar – e disponibilizar também para outras
publicações.

Entre esses projetos, a Ciranda Internacional da
Informação Independente é uma espécie de veterana.
Nascida durante o I FSM, em 2001, e com uma grande
rodada a cada nova edição do fórum, a iniciativa
acolhe jornalistas, comunicadores e publicações não
corporativas que desejam participar de um trabalho
conjunto de cobertura e divulgação do encontro.

Na sala da Ciranda, tradicionalmente, formam-se
equipes de edição em seis línguas (português,
espanhol, inglês, francês, italiano e alemão), além de
edição de imagens e conteúdos de mídias diferentes.
São equipes formadas por diferentes publicações, de
diferentes países. Inclui também redes de publicações
que se organizam para cobrir o Fórum em temas
específicos, como já vem se repetindo nos últimos anos
com o projeto de cobertura feminista organizado pelo
site francês Les Pénèlopes e publicações da Europa e
do Leste Europeu – que tanto alimentam a Ciranda como
aproveitam matérias da produção coletiva em seus
sites.

No projeto Ciranda, as pessoas participantes escrevem
suas matérias no Centro de Imprensa do Fórum e podem
inserí-las diretamente no site, através de ferramentas
hoje bastante simplicadas da internet. As equipes de
edição fazem um trabalho de finalização de títulos,
chamadas, seleção de imagens e mantêm o site renovado
constantemente durante o FSM. O envolvimento das
pequenas mídias alternativas, além de algumas grandes
e fortes divulgadoras do Fórum (como Terra Viva, da
IPS, que também participa regularmente) na cobertura
conjunta faz o contraponto criativo e colaborativo ao
trabalho da imprensa tradicional. Na Ciranda, é
possível construir pautas conjuntas (temas e
atividades a serem cobertas com determinado interesse
ou abordagem), mas ninguém é pautado pela Ciranda, a
não ser por sua publicação ou critério pessoal.

Uma sala de operações

Em 2005, a Ciranda se constituirá em uma plataforma de
divulgação das midias alternativas que produzem
textos, fotos, audio e vídeo, acolhendo ou linkando
conteúdos de outras plataformas coletivas. Mas a velha
sala de edição de textos e fotos da Ciranda no FSM
ficou pequena demais para este ano Nasceram e
cresceram com ela projetos compartilhados para mídias
específicas, como radios comunitárias e TVs. Outros
projetos coletivos inspirados no mesmo conceito de
copyleft e gestão colaborativa despontaram, precisando
de espaço para concretizar-se e acolher participantes,
a exemplo da Minga, uma espécie de Ciranda promovida
por movimentos sociais do Equador para cobrir o Fórum
Social das Américas em Quito. Para apoiar o
compartilhamento de experiências, o centro de midia do
V FSM terá uma de sala de operações da mídia
alternativa onde as equipes responsáveis pela edição e
atualização dos projetos multi-mídia coletivos poderão
trabalhar captando os materiais trazidos pelo conjunto
de comunicadores espalhados pelo FSM.

Já está entre os grupos de acolhida a iniciativa Fórum
de Radios, que deverá fazer a gestão do uso coletivo
de dois estúdios, transmitir boletins conjuntos para o
território do Forum Social Mundial, através de uma
antena instalada especialmente para isso, além de
programas criativos. “Nossa idéia é fazer divulgação
da campanhas radiofônicas produzidas pelas redes que
chegam ao Fórum, como alguma campanha do comércio
justo, ou do Grenpeace, naquele intervalo entre as
notícias que as emissoras comerciais utilizam para
fazer publicidade”, explica Maurício do Los Santos, da
Radio Mundo Real e do Núcleo Gestor do Forum de
Radios. É esperada a participação das Redes Abraço, do
Brasil, AMARC e ALER, internacionais, além de radios
independentes.

Da mesma forma, iniciativas como o Ciranda TV, que
soma emissoras não corporativas da Venezuela, Brasil e
Cuba, o Memória Instantânea e as TVs comunitárias
brasileiras devem participar de um núcleo gestor dos
recursos para audio-visual, compartilhando estúdios de
TV, programas, imagens, documentários. “A Vive TV
deverá dedicar três horas diárias de sua programação
para divulgar coberturas do FSM”, explica a jornalista
brasileira que hoje reside na Venezuela, Cláudia
Jardim, reponsável pela articulação Ciranda TV.

Para além do Gasômetro

Conviver e compartilhar experiências de mídia são
propósitos de dois outros projetos vinculados ao Grupo
de Trabalho de Comunicação do COB/FSM, mas de livre
gestão. O Laboratório de Conhecimentos Livres deve ser
realizado pelo Acampamento Internacional da Juventude
e coletivos de mídia e arte que construirão ou
acolherão oficinas e atividades envolvendo novas e
velhas midias e apropriações tecnológicas.

Com oficinas de radio, fotografia, internet e jornal
impresso a Casa Macunaíma – projeto já realizado no I
Forum Social Brasileiro, em Belo Horizonte, e no III
Fórum Mundial da Educação, em São Paulo – terá uma
versão adpatada para o Fórum Social Mundial. Promovida
pela rede Abraço de radios comunitárias, a Casa
funcionará em uma escola pública, como das outras
vezes, mas possivelmente não oferecerá hospedagem aos
comunicadores que chegam para as atividades. O formato
da Casa também está em definição.

Nas próximas semanas, até o V Fórum Social Mundial,
Planeta Porto Alegre trará matérias especiais sobre as
várias iniciativas de comunicação compartilhada no FSM

Informações/participação na Ciranda:
ciranda em ciranda.net

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