Entre rios de resistência

Desde o primeiro dia da invasão do Iraque pelos Estados Unidos, em 2003, atrás das “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein, que nunca existiram, a heróica resistência do povo iraquiano se mostrou presente. A missão de conquistar o petróleo iraquiano e garantir seu controle por meio da produção e da exportação não vingou pois, coletivamente, os iraquianos sabiam que a invasão nada tinha de “liberdade” e “democracia”.

A resistência consiste em muito mais do que insurgência militar, que é falsamente sumarizada como “terroristas da Al-Qaeda” pela mídia ocidental. Não é exagero admitir que, em todos os níveis da sociedade, e com muito sacrifício, o povo iraquiano frustrou os planos imperialistas dos invasores. Na primeira manhã após a invasão ao país, na importante cidade de Al-Fallujah, e introduzindo um processo que rapidamente se expandiu por todo o Iraque, líderes locais formaram um novo governo baseado em estruturas tribais. Ao invés de esperarem pela “liberdade” e “democracia” que “estavam a caminho”, esses subgovernos evitaram revoltas civis ao formar suas próprias milícias para policiar suas comunidades. Ninguém contava com apoio dos estadunidenses. São essas dezenas de grupos locais, formados após a invasão ao país, que hoje são classificados pelos militares estadunidenses e pela mídia ocidental como “Al-Qaeda”, em uma completa e proposital ignorância da realidade da guerra.

Em outra arena, a do petróleo, o histórico fator predominante no envolvimento dos Estados Unidos no Iraque, a situação não foi diferente. A missão imediata com a invasão em 2003 era a captura de terminais e campos petrolíferos, dobrar em pouco tempo os níveis de produção do pré-guerra e transferir o controle da produção e exportação para empresas estrangeiras. Nesse campo, as milícias e os civis iraquianos agiram em completa harmonia contra os interesses dos invasores. Dos mais conceituados engenheiros aos mais simples trabalhadores das refinarias iraquianas, a produção de petróleo foi completamente nulificada após a invasão. Engenheiros boicotaram o trabalho, trabalhadores sabotaram as refinarias e as milícias incendiaram campos de petróleo e oleodutos. Com isso, planos imperialistas como a imediata da transferência do porto de petróleo de Al-Basra para a estadunidense KBR, subsidiária da aliada da família Bush, a Halliburton, foram abortados.

A guerra pelo petróleo continua, mas mesmo 5 anos após a invasão, o povo iraquiano resiste. Neste início de junho, em uma total omissão da mídia ocidental, líderes sunitas e xiitas rejeitaram um novo “acordo de segurança” proposto pelos Estados Unidos ao governo-fantoche iraquiano, que garantiria o controle do petróleo, o estabelecimento de 13 bases permanentes nos quatro cantos do país e imunidade a cidadãos estadunidenses das leis iraquianas. O mandato da ONU de permanência estadunidense no Iraque termina em 31 de dezembro de 2008, e esse acordo poderia dar margens à expansão da permanência militar no país. Em mais um ato de resistência, figuras importantes do governo recusaram o pacto, e forçaram os Estados Unidos a iniciar uma procura por novas vias de burlar as leis da ONU.

Uma recente pesquisa conduzida pela World Public Opinion avalia que 78% dos iraquianos são contra a presença das forças estrangeiras no país, e “acreditam que a presença dos mesmos contribui com a violência, ao provocar mais conflito do que prevenir”. Mais do que isso, 53% dos iraquianos acreditam que “a segurança irá melhorar em poucas semanas após a retirada”. Os iraquianos pagaram um preço terrível pela resistência. A invasão e as mudanças sociais e econômicas que lhe acompanharam destruíram o Iraque, deixando a sociedade arruinada. Conscientemente, eles se sacrificaram para conter o avanço dos Estados Unidos pelo Oriente Médio, rico em petróleo e no coração das terras árabes. A resistência vive!

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº107 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_107.pdf

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