Como parte da operação em curso para fazer de Jerusalém cidade israelense (muro incluído), além das colônias e do confisco de terras, estão implantados agora o confisco dos documentos de identidade dos residentes em Al Ram e o fechamento da passagem de fronteira em Beit Hanina.
Beit Hanina é o único ponto pelo qual os palestinos residentes no bairro-subúrbio de Al Ram podem ter acesso às suas casas. Esses cidadãos recebem um documento de identidade, emitido pela administração israelense, “azul” para os que vivem em Jerusalém e “verde” para os que vivem na Cisjordânia.
Slaima Sarhan, presidente do conselho local de Al Ram, informou hoje que o governo israelense converteu em “zona militar” toda a área próxima do muro, no bairro, decisão vigente desde o início de fevereiro. Essa decisão vem depois de a passagem ter sido bloqueada – o que implica dizer que não há via de acesso entre as áreas de Jerusalém norte e Jerusalém sul.
Sarhan alertou para os efeitos dessa decisão unilateral de Israel, de impor, mais uma vez, um fato consumado. “Agora, o único acesso possível para entrar e sair de Al Ram e dos bairros do setor norte de Jerusalém são os postos militares de Qalandiya ou Hizma. Na prática, significa que os moradores estão cercados, isolados do resto da cidade, com acesso muito limitado a estabelecimentos comerciais, escolas, médicos etc.”
O posto de fronteira militarizado de Qalandiya fica na parte sul de Ramállah, na Cisjordânia, e a passagem só é autorizada para portadores do documento verde de identidade. Se a situação persistir, o principal subúrbio de Jerusalém ficará completamente isolado do resto da cidade. O muro, ali, foi construído há anos – construção condenada pela Corte Internacional de Justiça -, impedindo o trânsito pela principal avenida da cidade. Muitos imaginaram que a passagem de Al Ram permaneceria aberta, depois da sentença da Corte Internacional.
Com o fechamento dessa única passagem, cerca de 5 mil estudantes terão de andar muito mais para alcançar os pontos de controle. A decisão de Israel implica fechamento de fronteiras, que deixa Jerusalém ainda mais completamente isolada. A viagem muito mais longa implica custos com os quais muitas famílias não poderão arcar, além de mais estresse para os estudantes. Há estudantes que diariamente enfrentam essas dificuldades para chegar às escolas em Jerusalém; mas muitos não têm como arcar com os custos extra de transporte.
“São decisões que dão andamento ao processo de limpeza étnica” – disse Sarhan ontem à Palestinian News Network. “Com o fechamento da passagem e o muro, eliminam-se laços familiais e sociais.”
Em Jerusalém norte, um funcionário acrescentou: “O fechamento da passagem é, antes de tudo, movimento político. Os que vivem fora das que agora se definem como ‘novas fronteiras’ de Jerusalém perdem a própria identidade. A campanha visa aos portadores do documento azul. São 60 mil pessoas às quais Israel confisca a identidade, para esvaziar Jerusalém dos moradores tradicionais e dar um passo na direção do sonho de Israel, de inventar uma Jerusalém judia.”
Sarhan acrescentou também que as pessoas que hoje residem em Al Ram são, na maioria, os grupos já deslocados da Cidade Antiga, de Silwan e de Ras Al Amud, obrigados a mudar-se por pressão das políticas israelenses contra eles; Israel destruiu-lhes as casas e, depois, negou-lhes a autorização para construir. “Os habitantes tradicionais de Jerusalém foram arrancados, primeiro, do centro da cidade, e deslocados para a parte norte, para o bairro-subúrbio de Al Ram. Agora, estão sendo completamente cercados num gueto, impedidos de se locomover” – disse.
“É cada vez mais necessário resistir às políticas israelenses que visam a expulsar os palestinos. Todos vêem os planos de Israel de ir-se aos poucos impondo-se como única presença em Jerusalém. Mas não temos programa nacional integrado que organize a resistência popular. Agora, estamos exigindo um programa de emergência, que dê apoio aos palestinos de Jerusalém, que lhes dê um mínimo de apoio contra a política israelense de expulsá-los todos de Jerusalém.”
Depois de o muro ter sido erguido ao longo da linha amarela pelo meio da principal rua de Al Ram, muitas lojas fecharam e os moradores têm grande dificuldade de acesso a centros de saúde, hospitais e às escolas.
Sarhan informou que na área de Monte Samoud, vivem 300 famílias que, de fato, estão cercadas, obrigadas a usar cartões magnéticos controlados, para entrar em casa.
* Publicado originalmente em Palestine News Network, em 10/2/2009, 10h44
(http://english.pnn.ps/index.php?option=com_content&task=view&id=4746&Itemid=1). Tradução: Caia Fittipaldi
Em Jerusalém, 60 mil palestinos perderam direitos de cidadania
Eu estive em Al-Ram durante 30 dias, no periodo de 16 Junho a 17 de Julho de 2008, e fiquei horrorizado com a maneira que as autoridades judaicas tratram os arabes, barrando eles nas fronteiras e postos de passagens, eu como tinha passaporte brasileiro e desembarquei no aeroporto de Tel-Aviv, e tinha visto, não tive problemas nas passagens de fronteiras, mas alguns amigos que fiz em Al-Ram me disseram que fazia mais de 4 anos que não iam a Jerusalem e nem tinham acesso a esplanada das mesquitas, achei isto um absurdo, pois todos os amigos que fiz lá são boas pessoas, não consigo entender o porque de não deixar eles entrarem em Jerusalem, ou pior, não deixarem eles sairem de Al-Ram. Até quando as atoridades internacionais (ONU) vão fazer vista grossa a tudo isto. As autoridades judaicas estão confinando a população arabe de jerusalem em guetos. Até quando?
No meu entendimento os arabes e os judeus deveriam viver em paz e harmonia.
Achei tudo muito lindo, os dois povos, arabes e judeus são gentis e hospitaleiros. E fiz amigos nos dois lados do muro.
Neste ano de 2009, pretendo ir visitar meus amigos em Jerusalem, vamos ver como estão as coisas por lá agora?
Giovani Pereira Weis
São Jerônimo – RS