Em debate: mundo globalizado para quem?


Só nos Estados Unidos, vivem mais de dez milhões de mexicanosClique aqui para ouvir(5’41” / 1,3 Mb) – De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), atualmente, 200 milhões de pessoas vivem fora de seu país de origem. A expectativa é que este número chegue a 280 milhões nos próximos 40 anos, ou seja, uma média de dois milhões de imigrantes por ano. Só nos Estados Unidos, vivem mais de dez milhões de mexicanos. Já a Espanha possui mais de um milhão de equatorianos.

Para tentar deter este fluxo migratório, os estadunidenses construíram um muro de mais de três mil quilômetros na fronteira com o México. Já os europeus aprovaram no mês de junho deste ano a lei “Diretiva de Retorno” que torna rigorosas as regras para expulsão de imigrantes com documentação irregular.

Diante da intensificação dos processos migratórios, acontece, a partir desta quinta-feira (11), o terceiro Fórum Social Mundial das Migrações, em Rivas Vaciamadri, na Espanha. De acordo com o secretário do Grito dos Excluídos Continental e organizador do fórum, Luis Basségio, a intenção é lançar um olhar dos imigrantes afetados sobre as políticas xenófobas.

Em entrevista à Radioagência NP, Basségio afirma que os imigrantes são vítimas de um processo histórico, cuja responsabilidade é, em grande parte, dos próprios países ricos, que hoje alegam ser prejudicados pelas migrações.

Radioagência NP: Qual é a razão de ter um fórum com este tema?

Luis Basségio: Na medida em que as políticas neoliberais não criam empregos nos países de origem, nos países em desenvolvimento, as pessoas buscam alternativas de vida nos países de primeiro mundo: Estados Unidos, Itália, Japão, Espanha, França, Portugal, Suíça, etc. Então qual é o grande debate? Na verdade, a Europa, por exemplo, não é que não quer migrantes, ela quer imigrantes sem direitos, ou seja, sem cidadania. Porque aí eles podem ser mais rentáveis.

RNP: E qual é a responsabilidade desses países ricos diante da situação que chegamos?

L.B.: A política que eles fizeram no passado de colonização, de rapina em relação aos nossos países, e as políticas dos últimos dez, 20, 30 anos, neoliberais, são aquelas que destruíram a economia local e que impuseram um tipo de macroeconomia mundial. Então, os culpados são exatamente os países centrais que nos colonizaram e que agora colonizam de outra forma por meio dessas políticas.

RNP: E como os países que recebem os imigrantes encaram o tema?

L.B.: Os Estados Unidos construiu um muro de três mil quilômetros na fronteira com o México, há um muro também no norte da África, em Ceuta e Melilia, um muro na Palestina. Além desses muros físicos, há muros virtuais, muros em sistemas de vigilância, com barcos, com câmeras, com patrulhas armadas, etc. Tanto na Europa, quanto nos Estados Unidos, a linha é a mesma. É impedir a chegada. É a criminalização dos imigrantes. No caso da Europa com essa lei “Diretiva de Retorno”, ela permite que as pessoas sejam presas durante seis meses, que seja considerado crime o fato de não ter papéis, inclusive podendo deter crianças. Então, há uma sincronia entre a política dos Estados Unidos e da Europa, no sentido de impedir a chegada de mais imigrantes.

RNP: Mas várias economias dos países de primeiro mundo dependem da mão-de-obra dos imigrantes. Então, esta política não seria contraditória?

L.B.: No ano de 2006 os imigrantes latino-americanos nos EUA produziram 450 bilhões de dólares pelo seu trabalho e enviaram cerca de 25 bilhões. E eles precisam do imigrante porque o crescimento vegetativo desses países é negativo, então eles precisam de pessoas que venham trabalhar e, inclusive, para rejuvenescer a própria sociedade, porque não nascem poucas crianças lá. Então é extremamente contraditório. O tema das migrações no mundo é “indesejados, mas necessários”. Porque na Europa, nos Estados Unidos, no Japão, os filhos das famílias de lá não querem fazer os trabalhos sujos, perigosos, baixos e indesejáveis, então quem vai fazer esses trabalhos são os imigrantes.

RNP: E o Brasil, um país onde os imigrantes preencheram parte importante de nossa história, poderia dar algum exemplo para o mundo?

L.B.: Primeiro precisa fazer uma lei dos estrangeiros que seja aberta e acolhedora, inclusive uma lei entre os nossos países que permita a integração dos povos. Outra questão é que se desenvolva políticas de desenvolvimento sustentável que permitam as pessoas poderem viver aqui. Que só migrassem aqueles que querem migrar. Então, o Brasil tem essas condições, mas é preciso mudar a política econômica, que não privilegie o agronegócio, mas que privilegia a agricultura familiar, que não privilegie o pagamento da dívida externa, mas que privilegie os direitos sociais, que privilegie a geração de empregos para as pessoas.

De São Paulo, da Radioagência NP, Vinicius Mansur.

08/09/08

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