Por Celso Dobes Bacarji*
Começa nesta terça-feira (20/04), aqui em Cochabamba, na Bolívia, a Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática, convocada pelo presidente Evo Morales. O governo boliviano está estimando cerca de 15 mil pessoas na Conferência, grande parte delas vindas de outras cidades do país e muitas do exterior. Desde o domingo estão sendo feitos os credenciamentos, mas hoje, segunda-feira, as filas dobravam quarterões durante todo o dia.
Na tarde desta segunda, houve um painel no principal hotel da cidade, o Hotel Regina, que fez uma espécie de balanço da gestão do presidente Evo Morales, sob o pomposo tema “Construindo um viver bem: resultados de quatro anos de gestão do presidente Evo Morales Ayma”, onde falaram o vice-ministro de Planejamento Estratégico Raul Prada, o ministro de Economia e Finanças, Luis Arce Catacora, o presidente executivo da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), o advogado de defesa legal do Estado, Marvin Molina Casanova, e o diretor de regime consular do Ministério de Relações Exteriores, Alfonso Hinojosa.
A abertura oficial acontece, nesta terça, pela manhã, com a presença do presidente boliviano e representantes de governos convidados, no estádio do município vizinho de Tiquipaya. A tarde, haverá oito painéis, que abordarão os principais temas do encontro, tais como os novos descobrimentos científicos sobre as mudanças climáticas, suas causas estruturais, as negociações internacionais, as migrações, os modelos alternativos para o combate ao fenômeno, o tribunal internacional de justiça, a produção de alimentos e a proposta de Evo Morales de referendo mundial sobre as mudanças climas.
Mas nem tudo são flores para Evo Morales. Movimentos indígenas bolivianos estão se mobilizando, na Conferência, para protestar contra as iniciativas do governo para a construção de duas hidrelétricas na parte boliviana do Rio Madeira. Segundo lideranças dos povos tradicionais da região, os projetos vêm sendo desenvolvidos de forma apressada, sem as avaliações de impacto ambiental suficiente e sem as devidas consultas aos habitantes da região.
Na verdade, Cochabamba representa um alter-ego de Copenhague, contrastando com a cidade européia em diversos aspectos. Enquanto a capital dinamarquesa ostentou sua riqueza e organização, abrigando a elite governante dos países mais poderosos e as ongs mais ricas e influentes do mundo, em Cochabamba o que se vê é a força de movimentos que nascem no meio das populações mais pobres do planeta. Na verdade, caberia bem, para o evento, o título de Conferência Mundial dos Pobres sobre Mudanças Climáticas.
O ambiente no local onde se realizarão a maioria dos painéis da Conferência, uma das principais universidades privadas de Cochabamba, a Univale, está repleto de representantes das mais diversas organizações, de todo o mundo, ligados a temas ambientais, indígenas, trabalhadores rurais, agricultura orgânica, entre outros. Uma diversidade rara, onde circulam os mais diferentes tipos de pessoas, distribuindo materiais de seus movimentos ou falando em público através de auto-falantes.
O governo boliviano vem realizando todos os esforços possíveis para resolver os óbvios problemas gerados pela reunião de tanta gente em uma cidade pobre, sem infra-estrutura suficiente para atender a todos, como Cochabamba. A presença do exército é marcante. Os militares estão participando intensamente, colocando à disposição dos participantes alojamentos e transportes, além de realizarem uma segurança ostensiva, com soldados circulando tanto nas ruas próximas ao evento como dentro da universidade.
As atividades paralelas são muitas. É impossível ir a todas. São filmes, documentários, apresentações culturais, lançamentos de livros, distribuição de jornais, DVDs, sem falar nas iniciativas individuais de pessoas que saem distribuindo panfletos, poemas engajados. Os povos indígenas bolivianos têm lugar de destaque, inclusive com barracas espalhadas por todo o campus vendendo produtos artesanais.
Estarão na Conferência, durante a semana, participando dos debates, nomes como frei Beto, Leonardo Boff, Vandana Shiva, Alberto Acosta, entre outros. A programação completa pode ser acessada no site da Conferência, no endereço http://cmpcc.files.wordpress.com/2010/04/programa-cmpcc-final.pdf.
(Envolverde/O autor)