Documentário mostra guerra do Iraque de perto

Sem equipe e sem segurança, um estrangeiro registra por dez semanas o dia-a-dia cada vez mais caótico de um grupo de moradores de Bagdá, do período que antecede a invasão americana a um ano depois da deposição de Saddam Hussein. Filmando com uma única câmera e submetendo-se aos mesmos riscos vividos por seus personagens _ um professor de poesia, um sapateiro, um treinador de boxe_, o
australiano Wayne Coles-Janess traça um retrato de rara
proximidade da guerra contemporânea em In the Shadow of the
Palms, que os Encontros SESC Videobrasil exibem dia 15.12, às
20h, no SESC Avenida Paulista. Paulo Farah, diretor do Centro de
Estudos Árabes da USP, e André Costa, professor de cinema da FAAP,
debatem o filme com o realizador.

Membro da organização internacional Artistas sem Fronteiras, Wayne
Coles-Janess é adepto de um gênero de documentário político que
envolve militância e risco. Em Bougainville – Our Island, Our
Fight (1998), furou o bloqueio naval imposto pelo governo de Papua
Nova Guiné para mostrar os danos ambientais causados à ilha por uma
mineradora multinacional. Em Bagdá, para mostrar o impacto da guerra
na vida da população civil, viu-se entre dois fogos: “Estava sujeito
aos riscos que os iraquianos enfrentavam duante os bombardeios e às
ameaças de retaliação dos próprios iraquianos”, conta.

“In the Shadow of the Palms é um retrato pungente da sociedade
iraquiana em tempos de guerra. Expõe não apenas a humilhação
provocada pela brutalidade do conflito, mas a inteligência, a força
e a integridade de pessoas reais diante dele”, diz Solange Farkas,
curadora dos Encontros SESC Videobrasil. “O filme é uma história
de perseverança, tanto da parte do realizador, que ficou no país
durante o conflito, quanto das pessoas que tiveram a guerra atirada
em sua direção”, escreve sobre o documentário Philip Shea, diretor
do Festival Internacional de Cinema de Singapura.

A obra

_Segundo Coles-Janess, a idéia de In the Shadow of the Palms é
oferecer ao mundo uma visão da sociedade iraquiana mais
diversificada do que aquela que os meios de comunicação propagam _ e
ajudar a construir, com isso, uma compreensão maior da cultura
árabe. “Minha motivação era abordar o tema de uma forma humana,
pessoal. A única representação que a mídia ocidental tem do Oriente
Médio são homens agressivos gritando ‘Jihad, Jihad!’. Mas,
considerando a história da região, era lógico que houvesse na
sociedade iraquiana um espectro amplo de pessoas, visões e posições”.

Circulando ainda antes do conflito por bairros diferentes de Bagdá,
guiado por um intérprete, ele conheceu os personagens do filme.
Indivíduos de segmentos sociais e níveis de instrução diferentes,
eles compõem, mais do que um corpo estereotipado e único, um recorte
diversificado de uma sociedade idem. À medida em que a guerra se
deflagra, as conversas e visitas a suas casas e locais de trabalho
mostram como, de cidadãos com um papel na sociedade _ do professor
universitário de poesia árabe ao treinador que oferece abrigo a
jovens que abandonaram a escola _ eles se convertem em vítimas
atônitas de uma guerra que não desejam, em alvos militares, em
desaparecidos.

A reação do público ao filme, exibido em 30 festivais de cinema e
premiado nos Estados Unidos e no Japão, atesta o impacto de um
retrato que foge do estereótipo do “inimigo”. “Do Japão à Alemanha,
as platéias ficam igualmente chocadas ao perceber que ‘eles’ são
exatamente como nós”, conta Coles-Janess. “As histórias humanas se
opõem a tudo o que viram antes sobre o Iraque.”

O realizador

_Wayne Coles-Janess dirigiu e produziu programas jornalísticos de
grande audiência na TV australiana antes de se dedicar ao
documentário, à frente da Ipso-Facto Productions. Depois do curta de
ficção /On the Border of Hopetown/ (1992), sua produção se volta
para temas políticos: no documentário/ Bougainville – Our Island,
Our Fight/ (1998), entra clandestinamente na ilha do título para
mostrar os danos ambientais causados por uma mineradora
multinacional; /Life at the End of the Rainbow /(2002)/ /fala de uma
cidade de 521 habitantes que luta para sobreviver no deserto
australiano.

Encontros SESC Videobrasil – dezembro

Exibição do documentário IN THE SHADOW OF THE PALMS

Debate com Wayne Coles-Janess

Dia 15.12.06, a partir de 20h

Unidade Provisória SESC Avenida Paulista

Av. Paulista, 119, tel. 3179-3700, www.sescsp.org.br

Entrada gratuita. Retirar ingressos a partir das 19h.

Entrevista com Wayne Coles-Janess

Quando você foi para Bagdá, quanto sabia da história que queria contar?

Minha viagem ao Iraque foi a primeira ao país. Tinha pouco
conhecimento da sociedade e do povo. Minha motivação era abordar o
tema de uma forma humana, pessoal. A única representação que a mídia
ocidental tem do Oriente Médio são homens agressivos gritando
“Jihad, Jihad”. Considerando a longa história da região, era lógico
que houvesse ali um espectro amplo de pessoas, visões e posições.
Queria oferecer ao mundo uma perspectiva mais variada sobre a vida
no Iraque e, com isso, ajudar a construir uma compreensão melhor do
povo, dos costumes e da cultura do Oriente Médio.

Você fez o documentário sozinho? Como chegou aos personagens do filme?

Fui e filmei sozinho. Ter alguém sob minha responsabilidade era
perigoso demais. Cheguei aos personagens principais por acaso,
gravando em bairros diferentes, percorrendo ruas tortuosas ou
entrando em um carro com caras que não falavam a minha língua, na
esperança de que me levassem a algo coisa interessante (e de que não
estivessem me sequestrando).

Quais foram os momentos mais assustadores do processo?

Quando a guerra começou, a imprensa foi colocada em dois hotéis:
Palestine e El-Rashid. Consegui lugar em outro, em uma área civil.
Lá, estava sujeito aos mesmos riscos que os iraquianos enfrentavam
com os bombardeios, além das ameaças de retaliação dos próprios
iraquianos. Fui preso pelas forças iraquianas, que me viam ao longe
com a mochila nas costas e achavam que eu era um piloto abatido ou
agente da CIA. Mas um dos momentos de tensão mais prolongada foi
quando atravessei as linhas de combate para ir de Bagdá à fronteira
da Síria. Foram 14 horas de viagem por uma estrada deserta, cheia de
pedaços de veículos alvejados pouco antes e ainda fumegantes.

Por que é tão raro que um veículo da mídia mostre a guerra de perto?

Muitas organizações são um reflexo da situação política de seus
países e não estão interessadas em expandir a compreensão sobre
essas situações. Quando um conflito envolve tantos países e coloca
tanta coisa em risco em termos politicos e econômicos, há pouca
tolerância às histórias individuais ou que humanizem o “inimigo”. E
gasta-se em propaganda de guerra, que cria e mantém estereótipos de
fanatismo, terrorismo, violência e sectarismo.

Encontros SESC Videobrasil 2007 preparam 16º Videobrasil
_
A exibição de In the Shadow of the Palms encerra a programação
2006 dos Encontros SESC Videobrasil, série de programas mensais
criada pela Associação Cultural Videobrasil para o SESC Avenida
Paulista. O artista uruguaio Martín Sastre, o polonês Artur
Zmijevski, o brasileiro Wagner Morales e o curador romeno Mihnea
Mircan foram alguns dos convidados das primeiras edições do evento.

A partir de março de 2007, os Encontros pavimentam as discussões
programadas para o 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica
Videobrasil, que acontece de 4 a 23 de setembro de 2007 no SESC
Avenida Paulista e tem inscrições abertas até março.

Centro internacional de referência para a arte eletrônica, a
Associação Cultural Videobrasil (www.videobrasil.org.br
) produz o Videobrasil, os
documentários sobre artistas da Videobrasil Coleção de Autores e o
Caderno Videobrasil, sobre arte contemporânea. O SESC São Paulo é
um parceiro fundamental nesse trabalho. Os Encontros intensificam
essa relação, realizando com o SESC Avenida Paulista programas
mensais da Associação.

Atendimento à imprensa

Márcia Vaz, FCF Comunicação,
(11) 3031.1509, (11) 9252.3192,* *_ fcfcom@uol.com.br

Associação Cultural Videobrasil, Teté Martinho, (11) 9901.0375, tetemartinho@videobrasil.org.br

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