CoP-16 deve se espelhar na Conferência de Cochabamba, diz especialista

Image: Kris Krug

Metas mais ambiciosas e a ampliação das discussões sobre as mudanças climáticas no planeta para além das salas de reunião. Em entrevista ao Opera Mundi, o negociador mexicano na CoP-15 Luis Alfonso de Alba fez um balanço das negociações sobre o clima, comentou os esforços do México para reduzir suas emissões, elogiou o programa de etanol brasileiro e falou de suas expectativas para a CoP-16 em Cancún. “A marca dessa conferência (Cochabamba) é a oportunidade para que possamos ouvir a sociedade civil”, sublinhou.

Por que as negociações em Copenhague não tiveram o resultado esperado?

A CoP-15 não obteve sucesso porque os governos não fizeram um esforço suficiente de negociação e também porque os textos a serem discutidos durante a CoP-15 ainda estavam muito imaturos. As propostas estavam longe de produzir um acordo.

Qual é o caminho para que não haja um novo fracasso na CoP-16 em Cancún?

Para que tenhamos um acordo efetivo na próxima CoP, os governos dos países desenvolvidos deveriam apresentar metas mais ambiciosas. Com as metas apresentadas em Copenhague não conseguiremos fazer com que a temperatura suba menos de dois graus até o fim deste século. As reduções deveriam ser de pelo menos 25% em relação ao nível de emissões de 1990. Mas o ideal seria que os países industrializados cortassem suas emissões em até 40% em relação aos níveis verificados 20 anos atrás.

Há climatologistas que criticam as iniciativas de mitigação das emissões. Qual é a posição mexicana sobre o assunto? As propostas de REDD (redução de emissões por desflorestamento e desmatamento) são uma forma de expulsar as populações tradicionais de suas terras?

Os esforços de mitigação devem ser estimulados. O problema é que eles sempre serão iniciativas nacionais. O padrão de emissões é muito variado é isso torna difícil um esforço conjunto para iniciativas desse gênero. O México também aposta em mecanismos de REDD. Pagamos aos índios para que mantenham a floresta de pé, fazendo extrativismo sustentável, turismo ecológico e também por outros serviços de conservação ambiental.

Quais outras medidas o governo mexicano está tomando para reduzir suas emissões?

Outro aspecto importante na luta contra o aquecimento global é a geração de energia renovável e a diminuição do consumo de energia. No México, ainda é muito comum as famílias queimarem lenha para cozinhar. Para resolver o problema, o governo subsidiou a troca desses fogões a lenha por fogões elétricos. Também estamos trabalhando para trocar as lâmpadas incandescentes por iluminação fluorescente.

É possível enfrentar o lobby das petrolíferas e ter carros mais eficientes e ambientalmente limpos?

A indústria automotiva tem se esforçado para produzir carros mais limpos e eficientes. No entanto, por mais que exista a tecnologia, é necessário dinheiro e tempo para que essas inovações sejam implementadas.

O etanol brasileiro é criticado pelos EUA por ser menos limpo do que se imagina. O senhor acha que o etanol pode ser uma solução para os carros?

Devemos apoiar qualquer forma de geração de energia que seja de fontes renováveis. O etanol brasileiro é uma dessas soluções e o governo mexicano deverá estabelecer uma parceria com o Brasil nessa área. Minha maior ressalva ao etanol se relaciona com a segurança alimentar. É preciso fazer um bom balanço para manter os níveis de produção agrícola e alimentar.

Quando se fala em aquecimento global, o foco são sempre os incentivos. Qual é a sua opinião em relação a punir as indústrias poluidoras? Alguém conseguirá fazer isso?

O México tem uma Procuradoria Ambiental, cujo foco é justamente fiscalizar e punir as indústrias poluidoras. Essa Procuradoria tem sido efetiva e muitas indústrias foram multadas. Mas ainda que alguns defendam um “imposto ambiental”, acho que a melhor solução é financiar novas tecnologias.

Qual é a sua avaliação da Conferência de Cochabamba e como o México se prepara para receber a CoP-16 em dezembro?

Espero que a CoP-16 seja similar à Conferência de Cochabamba. Como há mais aspectos em comum entre a Bolívia e o México, creio que haverá muita gente debatendo fora das convenções e painéis oficiais. Essa é a marca desta conferência, uma oportunidade para que possamos ouvir a sociedade civil. Um dos meus desejos é que Cancún ofereça condições para que haja mais interação entre os governos e outros setores. Claro que há iniciativas que são somente da sociedade civil, mas na maior parte das medidas contra o aquecimento global, governos, empresas e sociedade devem agir juntos.

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