Preâmbulo
O Fórum Social Expandido das Periferias que aconteceu em fevereiro de 2010 no Loteamento Dunas – Bairro Areal, em Pelotas / RS/ Brasil, foi a ocasião de uma agenda de atividades locais múltiplas, entre as quais interconexões internacionais sobre os temas: ambiência e urbanismo / cultura e educação / comunicação e informação / saúde e proteção, em comunidades populares urbanas.
Alguns e algumas participantes desejaram prolongar as trocas realizadas escrevendo o documento abaixo, na forma de texto de referência com considerações, referências, caracterização, convites e encaminhamentos, que não pretende ser uma declaração de princípios, mas pelo contrário, um convite para ações políticas e pedagógicas, concretas e transformadoras.
Texto de Referência
Considerações
Nós, abaixo assinados(as) , moradores e moradoras e ativistas de comunidades populares, educadores e educadoras, pesquisadores e pesquisadoras de movimentos sociais urbanos de diferentes regiões do Planeta, compartilhamos as considerações e convites expressados neste texto.
Coletivamente e integrados(as), reconhecendo os conhecimentos / saberes locais, nós podemos contribuir para construção de uma cidade futura que seja justa, humanizada, unificada e agregadora.
Hoje, mais da metade da população do Planeta vive em territórios urbanos, onde notamos localmente o aumento das disparidades e das segregações. A globalização neoliberal vem transformando esses territórios e agravando a polarização sócio- espacial das aglomerações de moradias, que salientam o isolamento dos habitantes em comunidades populares (Bairros ou em Distritos), separados do restante da cidade por critérios econômicos, sociais e culturais.
Nos territórios de comunidades populares, a concretização dos direitos a moradia e o acesso aos serviços públicos de qualidade não são priorizados pelas políticas públicas.
Lutamos contra estes modelos de cidades fragmentadas, em centro e periferia, que provocam segregações em Distritos fechados ou em Bairros periféricos, afastados das benfeitorias públicas próprias das áreas centrais.
Além de cidades, queremos “sociedades urbanas” que valorizem suas comunidades, que respeitem as diversidades culturais, que protejam a vida e criem condições igualitárias de convivência, superando a polarização centro – periferia.
Mais amplamente, almejamos um modelo societário que garanta o direito à moradia e ao uso dos espaços da cidade para todas as pessoas, como também ao acesso aos serviços públicos urbanos de qualidade.
Desejamos prestar atenção ao uso na nossa linguagem cotidiana de palavras que veiculam concepções coloniais, neoliberais, centralistas e autoritárias. Por exemplo, questionamos a idéia de Observatórios Sociais e sugerimos que se substituam por Transformatórios Sociais.
Referências
Este texto parte das nossas diversas experiências transformatórias dos territórios locais. Consideramos através delas que:
A participação dos habitantes em movimentos autônomos, nas comunidades populares, é um primeiro passo para o fortalecimento de ações pedagógicas nesses territórios, transformadoras do modelo discricionário atual.
Os debates em seminários e palestras, em assembléias populares, em fóruns sociais, em manifestações artísticas ou em oficinas culturais, permitem o aumento de auto-estima e o desenvolvimento de autonomia, favorecendo e fortalecendo poderes locais transformadores, que aproximam as diversas linguagens, reconhecem e valorizam as diferentes culturas.
Durante estas reuniões, as interconexões, participações e intervenções a distancia, pela internet com outros atores no mundo, possibilitam trocar relatos de nossas experiências e encontrar apoios mútuos, colaborativos e solidários. Além disso, facilita o direito de qualquer pessoa de saber experiências planetárias e conviver com outras pessoas através de intercâmbios coletivos e individuais a distancia, por meio da Internet, superando barreiras linguisticas e territoriais.
O manejamento coletivo de internet permite também contribuir como facilitadores para realizar desde as comunidades populares praticas de interconexões, encontros e seminários com outros lugares do mundo, praticar uma capacidade de atuação a distancia nos processos coletivos internacionais e assim “deslocar o centro e a periferia”, para um processo não mais uniterritorial e não mais expandido, mas policêntrico.
Caracterização
Além de nossas experiências particulares, desejamos compartilhar com outros atores e atrizes locais e processos sociais em curso para construirmos uma Rede EmComun participativa, colaborativa, solidária, facilitadora e protetora da vida.
A Rede EmComun caracteriza-se como um espaço internet tendo este texto como referência. Considera-se que as pessoas que assinam o texto aderem a este espaço e se consideram identificados com os princípios e com as dinâmicas do Fórum Social Mundial.
A Rede EmComun é um espaço de trocas de experiências e de geração de iniciativas entre grupos de participantes nas áreas de ativismo descritas no Manifesto.
A Rede EmComun não e uma “rede-entidade” com porta vozes ou representantes, quer dizer que qualquer participante pode falar da rede ao exterior dela para explicar a sua natureza e comentar sobre os conteúdos dos textos de referencia. Então, para evitar polarizar este espaço e gerar problemas, ninguém pode tomar posições sobre outros assuntos “em nome da Rede EmComun” que não constem neste texto de referência.
Convites
Convidamos moradores e moradoras de comunidades populares, ativistas sociais, educadores e educadoras, pesquisadores e pesquisadoras, estudantes de ensino médio e universitários(as), e militantes de movimentos e organizações populares, identificados com os princípios e com as dinâmicas do Fórum Social Mundial, a assinarem este convite e se integrarem na Rede EmComun.
Convidamos atores e atrizes presentes no Fórum das Autoridades Locais de Periferias (Rede FALP), para apoiarem, nos eventos do FSM:
1) as sustentabilidades presenciais de delegados de associações e de movimentos de comunidades populares, com atuações autônomas em processos sociais urbanos em suas cidades;
2) as infraestruturas comunitárias necessárias para realização de interconexões, via equipamentos, dispositivos de Internet e capacitação de recursos humanos, viabilizando a grupos organizados de suas comunidades populares realizarem intercâmbios com grupos de diferentes lugares do Planeta.
Convidamos também grupos universitários, sindicatos de trabalhadores, pessoas e organizações solidárias da sociedade civil, para colaborarem na criação e expansão de Universidades Populares, baseadas em paradigmas que reconhecem inteligências criativas pouco escolarizadas, valorizam conhecimentos / saberes populares (não acadêmicos), e respeitam as diversidades culturais. Queremos fortalecer outros paradigmas de mérito intelectual, que não sejam os baseados na titulometria, mas nas iniciativas criativas individuais e coletivas, nas experiências culturais locais, nos métodos participativos, nas práticas colaborativas e solidárias, nas atitudes protetoras da vida e nos processos auto-gestionários sustentáveis de comunidades populares.
Convidamos especialmente organizadores de fóruns sociais a realizarem seus eventos amigáveis à participação a distância de coletivos de comunidades populares, que não dispõem de recursos financeiros para subsidiarem delegados. Além da transmissão ao vivo e on line pela Internet, facilitar as interconexões e intercâmbios á distância entre pessoas presentes nos respectivos territórios (de cada evento) com grupos de comunidades populares reunidas em diferentes lugares do Planeta.
Encaminhamentos
Durante o ano de 2010, queremos difundir este Convite a Rede EmComun, nos eventos do FSM e mais alem.
Queremos convergir presencialmente e a distância para o Fórum Social Mundial, em janeiro de 2011, no Dakar, para fazer visíveis as experiências de empoderamento local das comunidades populares, com vistas à construção de cidades e metrópoles solidárias e protetoras da vida, como dimensão de um outro mundo possível.