Colaboracionismo e resistência na França ocupada: os intelectuais e os artistas

A divisão clássica sobre a conduta dos franceses durante os anos da ocupação, entre heroísmo e covardia, que permanece em vigor até hoje em romances e filmes, a começar pelo inevitável “Casablanca” é pura ficção. Na Paris ocupada, entramos numa zona de sombra onde é inútil procurar respostas em preto e branco.

No entanto, num país onde os intelectuais e artistas eram reverenciados como “entes superiores”, e no qual a população era educada para reverenciar suas teorias e atitudes, o mundo cultural teve enorme responsabilidade pelo colaboracionismo com o nazismo, graças a essa influência.

Ao mesmo tempo, centenas de intelectuais e artistas foram mortos, por se negarem a colaborar, participando da resistência armada ou da política contra o inimigo invasor e o nazi fascismo.

Ao final da guerra calculou-se que sessenta mil franceses foram deportados para campos de concentração dos quais jamais retornaram. Além desses, mais de trinta mil homens, mulheres e até mesmo crianças foram fuzilados, ou morreram na forca ou sob a tortura.

Depois da Libertação, a Comissão encarregada de investigar a Colaboração ao Invasor Nazista descobriu que a podridão chegava tão alta e estava tão disseminada que recebeu ordens para fechar todos os casos, com base no argumento, no mínimo discutível, de que o moral da nação, já bastante abalado, não resistiria ao choque de revelações tão abrangentes. O digno Comissário Clos, o chefe das investigações, exclamou: “Mas trata-se de um câncer generalizado!” O governo era exercido pelo General de Gaule. Até hoje não se sabe de quem partiu a ordem para o sumiço dos arquivos das Milícias que jamais foram revelados.

Leia o nosso ensaio em: http://proust.net.br/blog/?p=1366

A palavra colaboracionismo deriva do francês “collaborationniste” e foi introduzida pelo Marechal Pétain no linguajar político. Em discurso radiofônico pronunciado em outubro de 1940, ele exortou os franceses a “colaborarem com o invasor nazista”. Antes mesmo que determinados fatos fossem conhecidos, já era aparente, sem dúvida, que a maioria dos policiais, dos funcionários públicos franceses, havia zelosa e alegremente perseguido judeus, promovido infiltrações nos grupos de resistência, feito fortunas graças a subornos e gratificações oferecidas por agentes de Hitler.

A polícia francesa, a Milícia de Vichy, como era chamada, fez muito mais pela Gestapo do que a Gestapo esperava dela e com muito mais zelo que qualquer alemão. Na França do pós-guerra, a Comissão destinada a estabelecer a verdade sob a ocupação simplesmente foi dissolvida. Gilles Perrault denunciou em 1987: “Depois da Libertação, a Comissão encarregada de investigar a Colaboração ao Invasor Nazista descobriu que a podridão chegava tão alto e estava tão disseminada que recebeu ordens para fechar todos os casos, com base no argumento, no mínimo discutível, de que o moral da nação, já bastante abalado, não resistiria ao choque de revelações tão abrangentes…”

O digno Comissário Clos, o chefe das investigações, exclamou: “Mas trata-se de um câncer generalizado!”. Em 1974, Louis Malle provocou escândalo na França com o filme Lacombe Lucien, ou “como alguém se transforma num colaborador”.

Leia a íntegra do ensaio em: http://proust.net.br/blog/?p=479

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