Coalizão expulsa de Al-Basra
“Corram da cidade”, foi como o jornal britânico Financial Times descreveu a decisão da coalizão liderada pelos Estados Unidos no Iraque para se retirar da base da província de Al-Basra, que abriga a segunda maior cidade do país, um ponto vital para as forças de ocupação. A descrição reflete a real condição das forças estadunidenses e britânicas no país – sem condições de continuar, procurando maneiras convenientes de se retirar.
Para muitos especialistas, ocidentais ou não, a retirada das forças britânicas de Al-Basra significa a derrota da coalizão na província. A região, que conta com o principal porto do país e é rica na produção de petróleo, era a única parte do Iraque que se mantinha sob controle de forças britânicas. Opiniões das mais diversas, que vão desde Menzies Campbell, líder do Partido Liberal Democrata do Reino Unido, ao clérigo xiita Muqtada al-Sadr, líder da milícia xiita Jaish al-Mahdi, responsável por saquear a base britânica da região, concordam com tal afirmativa. Segundo Campbell, “os mais de 5 mil homens britânicos não conseguirão nada no Iraque”, argumento que concorda com Al-Sadr, que considera as forças estrangeiras (inclusive a Al-Qaeda) como “invasores não desejados”. “Os britânicos desistiram e sabem que deixarão o Iraque em breve. Eles perceberam que essa não é uma guerra que deveriam estar lutando, nem que podem vencer”, afirmou recentemente o clérigo iraquiano, que anunciou uma pausa nas operações militares do Jaish al-Mahdi por seis meses devido à “vitória contra a ocupação”.
As visões de Campbell e Al-Sadr ecoam as vozes de muitos oficiais britânicos no Iraque, que se dizem “cansados” quanto ao contínuo número de baixas no Iraque sem que qualquer objetivo tenha sido alcançado. Apesar das recentes afirmações do governo estadunidense de que a maioria das batalhas no país acontece “entre iraquianos” (um fraco argumento para tirar a responsabilidade do caos no país dos ombros da ocupação), fontes do governo iraquiano confirmaram que aproximadamente 90% dos ataques em Al-Basra eram contra as forças britânicas. A afirmação do governo pró-ocidental iraquiano explica o motivo da desesperada retirada dos britânicos da região.
A invasão do Iraque demonstrou-se desastrosa desde o seu primeiro dia, em 20 de março de 2003, devido à indomável resistência do povo iraquiano. Contudo, enquanto a “coalizão” permanecia unida, com o apoio moral da mídia ocidental, a situação era menos desagradável. As relações entre os Estados Unidos e o Reino Unido, seu principal aliado, ceifaram-se aos poucos até a renúncia de Tony Blair, dois anos antes do que ele próprio esperava, devido a pressões internas por causa do insucesso no Afeganistão e no Iraque. Seu substituto, Gordon Brown, apesar de ter prometido a George W. Bush que as tropas britânicas “não deixarão o Iraque antes das forças estadunidenses”, retirou as forças britânicas de Al-Basra mesmo com a pressão estadunidense, iniciando uma onda de acusações entre os principais aliados da invasão do Iraque. Ao que tudo indica, as batalhas no Iraque também acontecem “entre a coalizão”.
As forças estadunidenses acusaram formalmente os britânicos de “fugir do Iraque” com a retirada de Al-Basra. A acusação partiu do General Keane, retirado do Iraque, mas ainda influente no Pentágono. Segundo ele, os britânicos “abandonaram questões importantes em Al-Basra”. Em contrapartida, os britânicos se defenderam ao afirmar que “as condições de segurança em Al-Basra estão sendo diminuídas pelos estadunidenses”. Segundo o General Sir Richard Dannatt, chefe do exército britânico, “o nosso objetivo não era tornar a situação mais bonita ou pacífica, simplesmente porque isso não era possível no período de tempo que tínhamos”. Em meio à crise interna na coalizão, Al-Basra foi irresponsavelmente entregue ao despreparo das forças oficiais iraquianas, que fazem parte de um frágil governo pró-ocupação iraquiano imposto pelos Estados Unidos, que não deverá se manter no poder por muito tempo.
Durante a última semana, 100 dos principais especialistas em política externa dos Estados Unidos – todos eles estadunidenses – participaram de um estudo do Centro para o Progresso Estadunidense, uma conceituada organização de pesquisa do país. O sumário do estudo afirma que: “A Guerra do Iraque tem um impacto negativo na segurança nacional, além de tornar o mundo mais perigoso”. Dessa forma, se a “guerra contra o terrorismo” tinha como objetivo formar “um mundo melhor, mais seguro, com liberdade e democracia”, conforme proposto por George W. Bush, não restam mais dúvidas de que os Estados Unidos e seus aliados foram derrotados.
FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo –
http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº72 –
http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_72.pdf
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