O brasileiro Chico Whitaker Ferreira, um dos pioneiros do Fórum Social Mundial (FSM), figura entre os que ganhadores do prêmio Nobel Alternativo. Outros premiados pela Fundação para a Maneira Correta de Viver (Right Livelihood Award Foundation) foram o denunciante norte-americano da guerra do Vietnã, Daniel Ellsberg, e a ativista indiana dos direitos dos dalits (casta inferior do hinduísmo), Ruth Manorama. Ferreira, um ativista católico, ganhou o prêmio na categoria honorária “por uma vida dedicada a trabalhar pela justiça social que fortaleceu a democracia no Brasil e ajudou a dar vida ao FSM, demonstrando que outro mundo é possível”.
Os prêmios anuais para a Maneira Correta de Viver, também chamados de Nobels Alternativos e criados em 1980, homenageiam os pioneiros pela justiça, a verdade a consolidação da paz na América do Norte, América do Sul e Ásia. Os premiados foram anunciados nesta quinta-feira em Estocolmo pelo criador do prêmio, o sueco-alemão Jacob von Uexkull, filatelista profissional e ex-integrante do Parlamento Europeu. “Os ganhadores demonstraram como a coragem individual, mesmo enfrentando a repressão e interesses poderosos, pode conseguir mudanças importantes’, disse Uexkull.
O primeiro Fórum Social Mundial, reunião anual de organizações da sociedade civil que busca uma alternativa para o atual processo de globalização, aconteceu na cidade de Porto Alegre em 2001. Em 2006, foi realizado em diferentes fases em várias cidades do mundo, entre elas Caracas, Bamako e Carachi. “Este prêmio indica que o trabalho do FSM é necessário, e me anima e aos outros, a assumir um compromisso neste tipo de tarefa”, disse Ferreira à IPS. O ativista trabalhou toda sua vida pela democratização do Brasil e contra a corrupção. Uma vez imerso nessa luta, afirmou, é impossível pisar no freio. “Quando se vê injustiça e desigualdade social e a situação econômica brasileira, não é possivel continuar vivendo como se nada acontecesse”, explicou.
Os prêmios honorários estão dotados de dois milhões de coroas suecas (US$ 275 mil), divididos entre os três ganhadores eleitos entre uma lista de 73 nomes procedentes de 40 países. Daniel Ellsberg, funcionário do Departamento de Defesa dos Estados Unidos que em 1971 vazou para o público informação sobre os enganos do governo de Richard Nixon sobre a guerra do Vietnã (Os chamados “papéis do Pentágono”), foi premiado por “priorizar a verdade, enfrentando um considerável risco pessoal, e dedicar sua vida a inspirar outros a seguirem seu exemplo”. As relevâncias de Ellsberg ajudaram a por fim à guerra do Vietnã. O ativista foi preso e acusado de 12 delitos, sendo absolvido em 1973.
“Este reconhecimento é maravilhoso, 35 anos depois de ser reconhecido pelo governo do meu país com uma acusação judicial. Isto me permitirá seguir adiante com meu trabalho no Projeto Dizer a Verdade”, disse Ellsberg à IPS. Está organização iniciou suas atividades com a publicação em 2003 de uma coluna de opinião no jornal The New York Times às vésperas da guerra do Iraque. Onze ex-funcionários participaram de seu lançamento.
A carta que assinaram chamaram de “a delação patriótica” e permitiu conseguir grande destaque para a Coalizão de Denunciantes da Segurança Nacional, na qual hoje participam mais de 60 funcionários. “Temos a possibilidade de impedir uma catástrofe antes que seja muito tarde”, afirmou Ellsberg, se referindo a um possível ataque dos Estados Unidos contra o Irã. Para impedir isso, “há gente no governo atual capaz de por em risco suas carreiras e, inclusive, ir para a prisão”, disse.
Ao ser anunciado seu prêmio, a indiana Ruth Manorama foi considerada “a mais eficaz organizadora do subcontinente (indiano) em atividade de defesa das mulheres dalit”. Manorama disse à IPS que trabalhou muitas décadas pela igualdade das mulheres dalit, casta com 200 milhões de membros na Índia que costumam ser qualificados de “intocáveis”. A ativista disse que usará o dinheiro do prêmio para divulgar sua atividade internacionalmente. “As mulheres dalit são, sem dúvida, as mais pobres entre os pobres, o mais baixo das castas inferiores”, assegurou. Calcula-se que as dalit constituem 16,3% da população feminina da Índia. Elas não sofrem apenas opressão como conseqüência de pertencer a uma classe e casta, mas também a desigualdade de gênero derivada do patriarcado, afirmou Manorama.
O prêmio também foi concedido ao Festival Internacional de Poesia de Medellín, que ajudou a consolidar a paz nesta cidade colombiana, uma das mais violentas do mundo. Uma conferência de imprensa para os premiados acontecerá no dia 6 de dezembro em Estocolmo, e os prêmios serão entregues no Parlamento sueco dois dias depois. (IPS/Envolverde)
Legenda: Chico Whitaker Ferreira
(Envolverde/ IPS)