Bush ironiza os Direitos Humanos

Bush ironiza os Direitos Humanos

O presidente estadunidense, George W. Bush, que assume a autoridade pessoal para matar, seqüestrar, torturar e espiar qualquer “inimigo da liberdade dos Estados Unidos”, ironicamente abriu seu discurso anual na ONU, no último dia 25 de setembro, citando a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O presidente eleito da nação estadunidense fez uso da declaração da ONU, adotada em 1948, para justificar a sua “guerra contra o terrorismo” e outras políticas supostamente adotadas para “eliminar terroristas e ameaças”.

“Para conquistarmos as promessas da Declaração, precisamos confrontar ameaças de longo-termo, e também responder às necessidades imediatas de hoje, incluindo a destruição de redes terroristas e levar à justiça os seus operantes”, afirmou. A frase do presidente estadunidense ironiza a Declaração Universal dos Direitos Humanos e faz pouco caso de estudos internacionais como o realizado pelo jornal médico britânico The Lancet, que alerta que “os números de 655 mil civis iraquianos mortos pela ocupação desde 2003 é subestimado”. Infelizmente, Bush conta com o apoio da mídia ocidental para disseminar as suas propagandas de paz.

Ao analisar brevemente os 30 artigos descritos no texto da Declaração, alguns deles vêm à tona como incompatíveis com a política imperialista conduzida pelo governo dos Estados Unidos: “todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal; ninguém será submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes; ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado; nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma atividade ou de praticar algum ato destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados”. Apesar de Bush e a sua “guerra contra o terrorismo” terem violado todos esses direitos universais, a Declaração ainda sim foi utilizada por ele como a base de sua política criminosa internacional.

Em 2006, a própria ONU, através da sua Comissão de Direitos Humanos, elaborou um relatório de cerca de 40 páginas em que, com base em testemunhos recolhidos junto a ex-reclusos e seus respectivos familiares, concluiu que “o governo estadunidense não só tortura os prisioneiros do campo de concentração de Guantánamo, como lhes nega o legítimo direito a um julgamento imparcial, mantendo-os em prisão arbitrária, em alguns casos há mais de quatro anos”. É no mínimo irônico que o próprio acusado formal de conduzir tais crimes discurse hoje sobre Direitos Humanos perante a ONU, justificando a todo o mundo os seus crimes exatamente através dos artigos pelos quais foi acusado.

Infelizmente, parece que o povo estadunidense, que democraticamente elegeu George W. Bush como seu líder por duas vezes seguidas, continua alienado e aberto somente às interpretações fabricadas pela mídia ocidental. Em setembro, a aprovação quanto à maneira que o presidente estadunidense tem lidado com a guerra no Iraque cresceu, representando um salto de 8 pontos percentuais em relação ao último levantamento, realizado em julho, segundo a última pesquisa NBC/Wall Street Journal. São poucos os estadunidenses que, de fato, conseguem analisar a extensão dos danos causados pelos seus próprios crimes. O pacifista estadunidense Kevin Danaher, integrante da Global Exchange, organização de defesa dos direitos humanos com sede em São Francisco, nos Estados Unidos, explicou bem a relação do governo e da mídia com a ignorância do povo estadunidense: “Nos Estados Unidos, há uma tradição de os governos criarem grandes mentiras. Atualmente, muitas pessoas devem acreditar que foi o Iraque que atacou os Estados Unidos”. “A base do imperialismo é a apatia e a ignorância existente na mente dos estadunidenses”, argumentou Danaher.

Enquanto o governo estadunidense continua os massacres no Afeganistão e no Iraque, no intuito de trocar o sangue iraquiano pelo sucesso econômico e político pessoal de Bush e seus aliados, o povo estadunidense mostrou ser condizente com os crimes pelos quais os Estados Unidos foram culpados pela ONU. As recentes pesquisas estadunidenses fazem lembrar o testamento de Mohammad Sidique Khan, um dos supostos envolvidos nos ataques em Londres em 2005: “Nossas palavras não têm qualquer efeito sobre vocês, portanto vou falar em uma língua que vocês entendem. Os seus governos democraticamente eleitos continuam a perpetuar atrocidades contra o meu povo. Nós estamos em guerra, e eu sou um soldado – agora vocês também experimentarão a realidade dessa situação”. As pessoas morrem com bombas e tiros, mas antes que isso aconteça, elas são assassinadas por idéias – esse é o caso dos Estados Unidos, um risco para a paz mundial.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br

Edição nº77 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_77.pdf

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