Basta!

São Paulo, 29 de dezembro de 2008

O Mopat (Movimento Palestina para Todos) repudia mais uma ofensiva militar israelense à Faixa de Gaza, que teve início dia 27 de dezembro de 2008, com saldo de vítimas fatais até agora de mais de 300 pessoas e ultrapassando mil feridos.

Gaza, região mais densamente povoada do mundo, possui uma população de 1,5 milhão de pessoas numa faixa de 40 por 10 quilômetros. Trata-se de uma grande cadeia a céu aberto, onde sua população depende do ocupante opressor israelense para suprir suas necessidades básicas como energia elétrica, combustíveis, água, gêneros alimentícios e medicamentos, sem autonomia sobre suas fronteiras, espaço aéreo e marítimo.

Há 1,5 ano a região vem sofrendo um cerco por Israel que raciona a entrada desses gêneros de primeira necessidade sob a desculpa de represália à eleição democrática do movimento político Hamas.

A ofensiva militar dos últimos três dias é repugnante e desproporcional.

A grande mídia e a comunidade internacional, ao mesmo tempo em que repudiam a ofensiva militar israelense, iniciam sempre seu discurso condenando os ataques de mísseis pelo “grupo radical Hamas” – grupo este que, reiteramos, foi eleito democraticamente pela população palestina.

Posteriormente, é feita a crítica a Israel pelo ataque desproporcional à população civil palestina, alegando a defesa de Israel contra os vizinhos hostis (ou seriam seus prisioneiros hostis?).

Cabe aqui lembrar que os perigosos mísseis lançados pela resistência palestina são de fabricação caseira, e não entram muito mais que 30 quilômetros em território israelense, sendo que nos últimos quatro anos esses causaram a morte de oito civis israelenses contra 1.500 palestinos (só na Faixa de Gaza) e mais de 5.000 feridos.

Enquanto os palestinos lançam pequenos mísseis, Israel responde com a força do quarto exército mais bem equipado do mundo, que desde o dia 27 de dezembro vem proporcionando a Gaza um ataque aéreo, lançando centenas de mísseis a ditos alvos militares, além da preparação para uma incursão terrestre para os próximos dias.

Mas será que Gaza possui centenas de alvos militares como alegam os terroristas de Estado israelenses ou trata-se de uma limpeza étnica? Fala-se em fábricas de armas dos rebeldes palestinos, mas que tipo de matéria-prima usam esses rebeldes para conseguir ter uma fábrica de armas se só entra e sai de Gaza o que os israelenses permitem? Falam em contrabando de armas por um túnel na fronteira de Gaza com o Egito, mas seria este túnel usado para contrabandear armas ou alimentos e medicamentos à população isolada? Diz o governo de Israel que essa é a “última ofensiva”, ou um genocídio que trará uma nova Nakba (catástrofe em árabe)?

A água da Faixa de Gaza está podre. A última análise da qualidade da água, antes do início do cerco, apontava que a água de Gaza estava imprópria para o uso humano. A população está doente e esgotada. Faltam remédios e energia nos hospitais. Trata-se de uma espera constante pela morte. O nível de desemprego em Gaza é de 75% e a população vive da ajuda comunitária internacional, quando Israel deixa esta passar pelo cerco. Esses dados a grande mídia não fornece.

E enquanto isso como reage a comunidade internacional?
Com “declarações de repúdio” e indignação em relação ao massacre do povo palestino. Porém, na prática, concedendo ao Estado de Israel tratados de livre comércio e relações institucionais privilegiadas. A esse apoio tácito e extremamente efetivo, dizemos Basta!

Dizemos que cada centavo gasto em relações comerciais com Israel é um centavo a mais na ocupação militar ilegal dos territórios palestinos e na manutenção de seu regime de apartheid. Enquanto o Estado de Israel negar ao povo palestino seus direitos humanos básicos, incluindo a liberdade de ir e vir, a comunidade internacional não pode conceder ao Estado de Israel a liberdade para o ir e vir de seus produtos e capitais.

Com o mesmo tempo de existência que a Carta dos Direitos Humanos, Israel vem infringindo todos os direitos conquistados pela humanidade e que ainda não foram postos em prática por essa humanidade que não mede os meios para alcançar seus fins.

Chamamos a que:

– o Brasil retire seu embaixador de Israel em sinal claro de rejeição a esse ataque, qualificado como o maior ataque militar aos territórios palestinos dos últimos 40 anos e crime contra a humanidade;

– que o presidente Lula suspenda sua visita a Israel mantendo sua ida aos territórios ocupados;

– que o Congresso Nacional não ratifique o Tratado de Livre Comércio entre o Mercosul e Israel.

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