Claudia Jardim, de Tegucigalpa, Honduras
Simpatizantes do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, incrementam a pressão contra o governo ditatorial de Roberto Micheletti há 40 dias do golpe de Estado. A paralisação convocado pela Frente de Resistência contra o Golpe de Estado em Honduras abrange quase a totalidade das escolas, hospitais e o aeroporto internacional do país, que está tecnicamente fechado.
Nesta sexta-feira, uma das associações de taxistas se uniram às manifestações bloqueado com aproximadamente 100 veículos a via de acesso à Corte Suprema de Justiça.
Na quinta-feira, o governo ordenou a militarização dos hospitais públicos na quinta-feira depois que os trabalhadores decidiram cruzar os braços em repúdio ao golpe de Estado.
“As portas estão abertas, mas não há atendimento. Exigimos a volta da ordem constitucional e resistiremos até o fim”, disse ao Brasil de Fato Edwin Canales, do sindicato dos trabalhadores da saúde, enquanto era cumprimentado por centenas de manifestantes que marcharam pelas ruas da capital na quinta-feira exigindo a restituição da ordem constitucional.
Estima-se que cerca de 8 mil trabalhadores da saúde mantêm paralisadas as atividades nos 27 hospitais públicos e em outras centenas de postos de saúde.
O mesmo ocorre com o setor educativo. O Colégio de Professores de Educação Média de Honduras convocou um paro indefinido para pressionar pela volta de Zelaya à Presidência e de acordo com a direção desta organização, 90% dos professores estão paralisados, o que corresponde a cerca de 50 mil profissionais.
Os voos nacionais e internacionais também estão ameaçados. O sindicato dos metereologistas aderiram ao paro na tarde da quinta-feira. “Nos unimos nessa luta, estaremos paralisados indefinidamente, aguentando firme as pressões, para que Zelaya seja restituído”, afirmou ao Brasil de Fato Ramón Garcia, vicepresidente da Associação Nacional de Meteorólogos.
A Organização da Aeronáutica Civil Internacional proíbe a realização de voos sem a emissão do relatório que detalha as condições de tempo no trajeto das aeronaves. “Se as companhias insistem em voar estarão colocando em risco a vida de seus passageiros”, afirmou Garcia.
Oficialmente o aeroporto está aberto. No entanto, as aerolíneas TACA, uma das principais operadoras na América Central, e a estadunidense Continental Airlines confirmaram a suspensão de seus voos com saídas e chegadas à Honduras. “Já foram cancelados 13 voos e a situação deve ser mantida até que haja condições para operar”, informou a assessoria de imprensa da TACA.
Em resposta, a governo Micheletti anunciou a criação de uma comissão de juristas para pressionar os sindicatos que aderiram à paralisação. O Ministro do Trabalho, Obdulio Chévez, disse que o governo ainda “não quis tomar medidas”, mas advertiu que o código do Trabalho “proíbe” greves ou paralisações que não estejam diretamente vinculadas com demandas trabalhistas.
Para esta sexta-feira, milhares de pessoas são esperadas em uma nova manifestação convocada para o norte da capital Tegucigalpa. De norte a sul do país, milhares de hondurenhos caminham em uma peregrinagem de dezenas de quilômetros à Tegucigalpa e San Pedro Sula, dois pontos de encontro da “Grande Marcha Nacional Contra o Golpe”, com previsão de chegada para a próxima quarta-feira.
Missão OEA
Nesta sexta-feira a Organização de Estados Americanos (OEA) deve anunciar os nomes dos chanceleres que participarão da missão especial que deverá chegar ao país na próxima semana para avaliar a crise.
O governo interino de Honduras adiantou-se em informar que a missão da OEA que não conseguirá promover a volta de Manuel Zelaya ao país, e poderá apenas fazer “sugestões” em relação a crise. O presidente deposto, Manuel Zelaya, se reuniu com o presidente mexicano Felipe Calderón e deve vajar ao Equador e Brasil, na próxima semana. O giro do presidente deposto seria um pedido de Washington, que queria ver Zelaya afastado das fronteiras do país, onde milhares de hondurenhos se reuniram esperando o regresso, que não ocorreu.