São duas as frases basilares com as quais o romance “Anna Karenina” se anuncia. A primeira é: “Minha é a vingança, e a recompensa” (Deuteronômio, XXVII), que a seguir é complementada: “E eu a executarei! ”
Prenúncio que, em sua essência, é o mesmo de uma tragédia clássica, “Medeia”, que Eurípedes escreveu no séc. V a.C. na Grécia Antiga, com toda a sua desmedida, seu sentido ambíguo na traição e a decisão de vingança da mulher desprezada e desesperada.
Tolstói, nesse livro monumental, exerceu a mesma ambiguidade de Eurípedes, condenando a sociedade hipócrita que persegue Anna até a morte, ao mesmo tempo em que invoca as punições inexoráveis da lei moral, aos quais Medeia, entretanto, logra “subtrair-se” no dragão da loucura que a transporta até Egeu, no refúgio ateniense.
Tudo isto e muito mais está em num romance que despertou, desperta e despertará a comoção de milhões de seres humanos, em todos os continentes, e ao final, os leitores terão enorme compaixão por Anna, assim como já o tiveram pela loucura e perversidade de Medeia.
Carlos Russo Jr
Convidamos à leitura de nosso ensaio em: proust.com.br/blog
Anexo: Anna Karenina