O serviço de inteligência norte-americano desarticulou o movimento dos Panteras Negras por dentro, plantando disputas territoriais por pontos de venda de drogas nos bairros onde o movimento contava com simpatia e adesão da população. É logo no fim dos anos 70 e início dos 80 que o movimento se desarticula por completo, e o FBI e a CIA cumprem o seu papel. As comunidades que antes estavam sendo fomentadas por um pensamento revolucionário e emancipatório, passaram a ser reduto de disputas internas por pontos de tráfico de drogas.
Houve uma transferência da venda de entorpecentes, que antes eram feitas por máfias de imigrantes de origem européia, e agora estavam nos bairros periféricos de latinos e principalmente negros. Nada disso foi por acaso, havia claramente uma política do serviço de inteligencia norte-americano de transferir o tráfico para as comunidades pobres e marginalizadas, fazendo assim com que o foco se desviasse. Ao invés de lutar contra o Estado, a rápida ascensão sócio-econômica trazida pelo tráfico despertou a disputa interna, de comunidades contra comunidades, o aumento das gangues nas cidades estadunidenses foi alarmante nesse período.
Mas afinal de contas, qual a relação disso com o Brasil? Em pleno regime militar e em contexto de guerra fria, esse tipo de política foi importada para a América Latina, onde todos os regimes militares ditatoriais tinham apoio e intervenção do governo norte americano. Na mesma época em que o Movimento Panteras Negras foi desarticulado surgia o Comando Vermelho, numa tentativa de aproximar os ideais revolucionários de intelectuais marxistas da população marginalizada das periferias. O tráfico de drogas nos morros do Rio de Janeiro surge exatamente nesse contexto, e o Comando Vermelho perde seu foco, se tornando facção criminosa de disputa territorial por pontos de venda de drogas.
Essas “coincidências” nos mostram que os governos descobriram um modo de desarticular a organização popular nas comunidades, nas favelas. Isso não foi aplicado somente no Brasil e nos EUA, mas em várias partes do mundo, foi o modo como os Estados capitalistas, aliados aos interesses das mega-corporações e do mercado financeiro, arquitetaram uma maneira de reprimir as comunidades, as marginalizando. O tráfico de drogas foi implementado para que a intervenção truculenta e arbitrária do Estado através da sua força policial fosse legitimada pela classe média alta alienada, que diga-se de passagem, foi e é a que mais movimenta economicamente esse mercado.
É por isso que é urgente por fim à política de “guerra contra as drogas”, que não passa de uma manobra sórdida de criminalização da pobreza, como vimos nessa breve história, de modo que as disputas entre comunidades rivais, tire o foco do Estado capitalista, principal responsável pelas desigualdades que levam à pobreza, ao mesmo tempo que incentivam o consumismo. Esse processo consequentemente leva muitos jovens da periferia a optar pelo caminho mais curto, e é assim que o capitalismo “tira o seu da reta”, colocando os irmãos das comunidades uns contra os outros.
Mas como diz o grande sambista Wilson das Neves: O dia em que o morro descer e não for carnaval, ninguém vai ficar pra assistir o desfile final.
Já está acontecendo, é só ver a reação da população periférica do Rio de Janeiro a essa farsa das UPP’s, que tem ceifado a vida de vários moradores da periferia, sejam eles envolvidos com o tráfico ou não, pois já vimos que o tráfico de drogas é a armadilha utilizada pelo Estado, pra que esses jovens matem e morram pra viverem o sonho do poder de compra e ostentação fomentados pelo capital.