O congolês Moïse Kabamgabe foi espancado até a morte por cinco homens. Policiais metropolitanos que estavam na proximidade se negaram a intervir no vil assassinato.
A família saiu da África, em 2014, lutando contra a guerra e a fome. Encontrou o massacre em terras brasileiras.
Joseph Conrad viveu no mar a juventude e parte da maturidade e, por isso, participou da exploração colonial da bacia do Rio Congo. De sua vivência e revolta nasceu “O Coração das Trevas”.
As verdadeiras trevas são as daqueles que perderam o coração: os fascistas, os imperialistas, seus traficantes e seus agentes. No peito de cada um deles, se encontram apenas interesses ignóbeis da destruição, lucro a qualquer custo.
“O Coração das Trevas” é um berro contra a exploração colonial, o escravagismo, o racismo e o genocídio. E todo o empenho literário de um dos maiores romancistas ingleses, teve este direcionamento.
Repugna-nos os massacres quase cotidianos a que são submetidos negros e pobres no Rio, o novo Congo brasileiro, quer pela ação das polícias, das milícias suas coirmãs, do narcotráfico. Da justiça, o mais das vezes conivente.
O que lhes resta senão a revolta? Quando o exemplo dos negros norte-americanos, que exigiram nas ruas a punição do assassinato de um Georg Floyd, chegará ao Brasil?
Ou, como frisou Conrad, que a capacidade de o ser humano se revoltar quando submetido “a uma tristeza extrema”… com frequência, infelizmente, toma a forma de apatia”?
É isto o que vivemos?
Carlos Russo Jr
Anexo: Kabamgabe