Lideranças do Município Autônomo de San Juan Copala, indignadas com o cerco que impediu a caravana “Bety Cariño e Jyri Jaakkola” de entregar as mais de 30 toneladas de ajuda humanitária, decidiram recorrer à Cruz Vermelha contra o cerco imposto por forças paramilitares que, desta vez, contaram com ajuda da polícia e participação de moradores da região, para impedir a passagem do comboio.
Em boletim emitido ontem, organizadores da caravana denunciaram que os governos estatal de Oaxaca e federal méxicano, em cumplicidade com um grupo criminoso que mantém o cerco paramilitar sobre o município autônomo, fizeram uma nova barreira para impedir que a missão cumprisse seu objetivo.
O governo estatal, através de sua polícia, e da Procuradoria de Justiça local, armaram um cerco “governamental” para proteger a organização Ubisort, acusada de isolar a comunidade, e para impedir que a caravana chegasse a San Juan Copala e entregasse água e alimentos arrecadados durante as últimas semanas. O novo cerco importo a Copala agora tem a presença aberta e pública das polícias de Oaxaca e federais, que ao contrário de garantir a segurança da missão e atuar em La Sabana para assegurar o livre trânsito e a não agressão, decidiram proteger aos assassinos, argumentando que “não havia condições”, que “foram ouvidos disparos” e, da parte da Procuradoria Estatal, que “seria preciso falar com a Ubisort e convidá-la a integrar a caravana”, sem o que não seria possível garantir a passagem até San Juan.
A caravana foi alertada de que um grupo numeroso de mulheres e crianças da comunidade de La Sapana, simpatizantes de Ubisort, estavam bloqueando a estrada que leva a San Juan Copala. Após este bloqueio, havia outro feito de pedras grandes, resguardadas segundo as lideranças locais pelos mesmos homens armados que assassinaram Bety Cariño e Jyri Jaakkola em outra caravana, barrada por disparos em 27 de Abril desde ano.
A decisão da coordenação da Caravana, integrada autoridades do Município Autônomo, foi a de avançar até um pouco além da comunidade de Água Fria Copala, e analisar as condições de segurança dali em diante, pois a partir de Juxtlahuaca a policia oaxaquenha e a Procuradoria de Justiça já haviam manifestado que não se responsabilizariam pelo que ocorresse, e que a responsabilidade seria da caravana e seus organizadores.
A certa altura, a polícia federal tentou dissuadir o grupo de prosseguir, informando ter ouvido disparos. Segundo as lideranças de Copala, “Esses tiros ouvidos pelos policiais são os que se escutam todos os dias e durante o dia todo em San Juan Copala, e que mantém a comunidade isolada, levando famílias inteiras a abandoná-la e negando acesso a médicos, professores, vendedores de produtos, impondo um estado de sítio por meio das armas e da violência”.
Diante do enorme bloqueio, a organização da caravana decidiu “não expor mais vidas às mãos de assassinos impunes”, pedindo compreensão dos habitantes isolados. “Esperamos que entendam e respeitem esta decisão, por mais dolorosa ou estranha que lhes pareça”.
Para os participantes, ficou claro que nem o governo de Oaxaca nem o governo federal tem capacidade ou vontade para controlar e castigar o grupo paramilitar, não importa o que se passe na região. “Não prendem nem castigam os assassinos e querem que a caravana lhes peça permissão para cruzar o território que o grupo criminoso controla com armas e ameaças” – dizem os organizadores.
Diante da falta de garantias do governo, a conclusão da comitiva é que os habitantes de San Juan Copala, a sociedade civil mexicana, com apoio da comunidade internacional, terão de buscar outros meios de levar ajuda. “As instâncias internacionais jogarão um papel muito importante diante da ausência total de Estado em todos seus níveis de governo”.
Através de seu boletim, as lideranças de Copala informam que:
1. Os alimentos e víveres que seriam entregues ao final desta caravana serão guardados em Huajuapan de León até que se encontre a melhor forma de fazê-los chegar às famílias de San Juan Copala.
2. A partir desta quarta-feira (9), autoridades do Município Autônomo buscarão formalmente o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, assim como diferentes instancias da Organização das Nações Unidas no México, para pedir sua intervenção no envío e entrega das quase 35 toneladas de ajuda recolhida pela Caravana.
3. Pressionaremos y exigiremos que a Procuradoria Geral da República do México apresente resultados imediatos sobre as investigação dos acontecimentos de 27 de Abril, pois com sua inatividade estão agindo como cúmplices dos assassinos paramilitares.
Veja a íntegra do boletim no texto original em espanhol.