A face do oportunismo na Palestina

A face do oportunismo na Palestina

O comportamento habitual de perdedor de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, e de seus aliados na Cisjordânia, não pode ser visto como um benefício para o povo palestino – enquanto sofrem em busca de direitos humanos, liberdade e igualdade, procurando driblar Israel, seu maior obstáculo, Abbas parece simplesmente se aproveitar do drama na Palestina para fortalecer o seu status e posição política, mesmo que isso signifique o fim do sonho de recuperar os direitos da nação.

A resposta da Autoridade Palestina, de Israel e da comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos, à vitória do Hamas nas eleições nacionais palestinas de 2006 indica que, para eles, “democracia” é um simples veículo de oportunismo político: ela serve para iniciar guerras, justificar ocupações ilegais e, obviamente, para abastecer alguns membros da elite do lucro financeiro. O Hamas e o povo palestino pagaram o preço por ter concordado com a “solução democrática” da comunidade internacional para o governo da Palestina – infelizmente, eles votaram no “partido errado”, aquele que, segundo os planos ocidentais, seria calado após as eleições.

Abbas provou ser do clube que acredita que uma democracia válida deve passar antes pelas mãos dos Estados Unidos – o famoso teste em que um governo só se torna “democrático” se servir aos interesses estadunidenses; caso contrário, deverá ser substituído com meios que vão desde punições coletivas ao povo do país (sanções econômicas) até invasões militares. É irônico pensar que “países amigos” (do ponto de vista estadunidense) que falham completamente em agir de acordo com valores democráticos são classificados como “moderados”, enquanto outros que inclusive passaram pelo teste da democracia, aplicado pelos próprios Estados Unidos, permanecem no grupo dos “extremistas”, como é o caso do Hamas.

Enquanto a mídia ocidental propositalmente falha em reconhecer a natureza antidemocrática do regime de Abbas, que o colocará nos livros de história ao lado das elites e líderes que cederam aos inimigos do seu povo em troca de recompensas pessoais, os políticos israelenses não têm sido nada discretos quanto ao papel que Abbas deverá atuar: suas forças de segurança deverão fazer o “trabalho sujo” de assassinatos e seqüestros para colocar a resistência palestina em ordem – tarefas que vão de acordo com a política israelo-estadunidense.

Como recompensa pelo ativo envolvimento da Autoridade Palestina em levar ainda mais o povo palestino ao desespero, isolando Gaza e impedindo os palestinos de se unificarem, Mahmoud Abbas ganhou a ilustre oportunidade de se encontrar uma vez a cada duas semanas com Ehud Olmert, o primeiro-ministro israelense; também ganhou a admiração e confiança da Secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, e seu chefe, George W. Bush. Qualquer tentativa de reconciliação com o Hamas – algo que o povo palestino realmente deseja – irá tirar de Abbas toda essa recompensa, um risco que ele certamente não tomará.

Ao se aproximar da realização da Conferência de Paz para o Oriente Médio, convocada para novembro pelos Estados Unidos, Abbas deverá demonstrar ainda mais a sua aliança com Israel e seus aliados estadunidenses à custa do próprio povo palestino, que se tornaram enfraquecidos em sua mais poderosa arma dessas seis décadas de batalha: a coletividade, a união do povo que sobreviveu aos mais difíceis obstáculos. O dia em que essa união for completamente perdida, a vitória de Israel estará completa.

FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº72 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_72.pdf

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