Após “A Peste”, obra em que desenvolveu com profundidade o conceito existencial da solidariedade humana, Albert Camus escreveu “A Queda”, em que as esperanças sociais parecem se desvanecer, pois quase todo ser inteligente sonha em ser gangster e imperar sobre a sociedade unicamente pela violência, “com isso, envereda-se geralmente pela política e corre-se para o partido mais cruel”.
“A Queda” foi publicada em 1956, e, em 1957, Camus foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura. Numa elegia póstuma a Albert Camus, Jean-Paul Sartre descreveu o romance como “talvez o mais belo e menos compreendido” dos livros de Camus. Exatamente por trazer A MORAL À POLÍTICA!
Nosso ensaio traz o espírito de “A Queda” para os tristes anos que atravessamos desde o golpe de estado contra Dilma Roussef. Ao invés de uma cantina de Marselha, nosso ambiente é uma cela de prisão.
Tal qual “A Queda”, este é ficcional. Tal qual na obra de Camus, tanto Clemence quanto os Juízes Penitentes possuíam traços dele mesmo, Camus, assim como dos Sartre, dos Aron, etc.
Confesso que a personagem da vida real que mais me inspirou o “delator”, jamais a única, foi Palocci; já o narrador é totalmente ficcional, embora possua o cinismo conhecido de uns, o autoritarismo de outros, a arrogância de muitos, a incapacidade de analisar os erros próprios com humildade de muitos.
Por concordar com Camus para quem somente “quando formos todos culpados, será possível a democracia”, caso contrário imperará o autoritarismo, decidi publicar o mesmo.