Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, recomendou a partilha da Palestina em um estado judeu e um árabe, sem consulta aos habitantes locais. Essa ação forneceu as bases para que o movimento sionista – que visava a criação de um estado exclusivamente judeu em terras palestinas – colocasse em marcha um plano deliberado de limpeza étnica. Iniciado 12 dias após a recomendação na ONU, culminou, segundo escreve o historiador israelense Ilan Pappé, na expulsão de 800 mil palestinos de suas terras e propriedades e destruição de 531 aldeias. O relato de um deles e a a apresentação de um rapper palestino de Gaza poderão ser ouvidos em sessão solene que o mandato do deputado Adriano Diogo (PT) promove, juntamente com a Frente em Defesa do Povo Palestino, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Plenário Juscelino Kubitschek) a partir das 19h desta sexta-feira (29 de novembro).
A data foi instituída em 1977 pela ONU como o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Desde então, anualmente, realizam-se na ocasião, em todo o mundo, atividades para lembrar a catástrofe (no termo árabe, nakba) que se abateu sobre os palestinos e denunciar que essa população ainda espera por justiça, 66 anos depois. Atualmente, há, segundo a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA), 5 milhões de refugiados em campos a um raio de 150km de distância dos territórios palestinos.
Essa população – e outros milhares espalhados pelo mundo – até hoje aguarda e luta para retornar a suas terras e propriedades – direito assegurado pela própria ONU em sua Resolução 194 de 11 de dezembro de 1948 e reiterado centenas de vezes desde então. As negociações intermediadas pelos Estados Unidos entre representantes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e Israel nunca garantiram o cumprimento desse direito legítimo. Pelo contrário, são demonstração clara de que a paz não passa de retórica. Jamais se apresentou proposta justa à mesa.
Oslo e Said
Neste ano de 2013, completaram-se 20 anos dos acordos de Oslo, que alguns palestinos denominam “nova nakba”. De fato, nada a comemorar. Nessas duas décadas, segundo dados divulgados por organização de direitos humanos, somaram-se mais 7 mil mortos palestinos, mais 12 mil casas destruídas e mais 250 mil assentamentos ilegais construídos por Israel em território ocupado militarmente por esse estado. Intensificou-se a fragmentação da sociedade palestina e a desmobilização. E Israel fundamentou, desde então, sua economia sobretudo no desenvolvimento e exportação de tecnologias militares.
O Brasil se tornou, nos últimos anos, porta de entrada para a indústria armamentista israelense, ampliando os acordos militares com a potência que ocupa a Palestina. No momento em que se reabrem negociações, com a ameaça de um “novo Oslo”, urge fortalecer no País campanha de boicotes, desinvestimento e sanções (BDS) a Israel, aos moldes do que foi feito para derrubar o apartheid na África do Sul nos anos 1990.
Também neste ano, completaram-se dez anos da morte do intelectual palestino Edward Said. É o momento de homenagear uma das vozes que dedicaram a vida a divulgar a causa palestina, denunciar o pensamento orientalista – que inventa binário baseado em “Oriente” formado por bárbaros e atrasados, em contraponto a “Ocidente” civilizado –, bem como a tragédia que representou Oslo e o servilismo das lideranças palestinas. Neste 29 de novembro, a lembrança de uma de suas célebres frases é mais que oportuna: “Se um de nós for eliminado, dez outros devem vir em seu lugar. Essa é a marca genuína de nossa luta, e nem a censura nem a simples cumplicidade covarde hão de apagá-la .” Uma saudação à heroica resistência palestina e um chamado nesta data à comunidade internacional por solidariedade.
Ambos mais do que urgentes, diante da ameaça de novas expulsões, desta vez de beduínos palestinos do Naqab (Negev), mediante a possibilidade de aprovação no Parlamento israelense, em segunda e terceira sessões, do chamado Plano Prawer. Diversas manifestações têm ocorrido na luta contra esse projeto de lei. Em diversos pontos da Palestina, a próxima será no dia 30. Em São Paulo, a data também não passará em branco: além de mais essa tentativa de limpeza étnica ser lembrada durante a sessão do dia 29 de novembro, no dia seguinte, a Frente em Defesa do Povo Palestino e o Sindicato dos Metroviários de São Paulo realizarão na sede dessa última entidade, às 17h, exibição de vídeo e debate. Convidamos aqueles e aquelas que lutam por justiça, contra a opressão e o apartheid a se somarem a esse movimento, rumo à Palestina livre.