Descobrir um país… Estranho país onde os homens estão por todo lado, tanto ao redor das mesquitas quanto nos bares. Ontem pela manhã, a mesquita que fica perto do hotel juntou tantos homens, mas tantos homens, que lotaram a igreja e todas as calçadas em seu entorno, cada um com seu tapete e uma voz para cantar. Hoje estivemos num restaurante/bar, grande, com várias salas; em algumas apenas homens… E os quadros nas paredes?? Mulheres semidesnudas, masturbando-se, tocando-se… em todas as paredes. Apenas em alguns dos quadros as mulheres estavam menos expostas…
Sociedade estranha esta. Divulgou-se no Brasil e em outros países, que a jovem Amina está condenada a tantas chibatadas, que a levem até à morte, por ter postado na internet uma foto sua, com os seios de fora, à moda de movimentos feministas que ela vê no mundo pela web. Enquanto isso, a imagem da mulher que se vê na televisão e publicidade daqui é ocidental e glamourosa, como estamos acostumadas, ainda que com mais roupa. Na rua, não se consegue falar sobre Amina e sobre sua condenação, apoiada até pela própria família. E não é o nosso parco francês a causa disso, pois conseguimos falar de outras coisas, ainda que com dificuldade. Feministas de todo o mundo protestam por esta condenação, enquanto a Rede de Mulheres Muçulmanas explica que os protestos e as notícias que se espalham pela mídia ocidental não refletem a verdade e acabam contribuindo com a postura anti-islâmica difundida no mundo. Ao mesmo tempo na Universidade há um movimento de mulheres que querem continuar usando o véu que está proibido no campus.
Sim, nunca houve tanta possibilidade de acesso e democratização da informação, do conhecimento, da arte e das culturas. Nunca houve tanta condição para o fim das fronteiras e dos nacionalismos toscos, tanta condição de troca de saberes, sabores, valores. Nunca houve tanta possibilidade de coexistência de várias tribos. Mas sabemos que a globalização não tem servido a esse outro mundo possível. As corporações capitalistas continuam a utilizar os oligopólios de meios de comunicação para a sua propaganda, seja no mundo ocidental ou oriental.
Mídias livres pelo direito à comunicação
Um outro mundo possível só existirá com mídias livres, pessoas livres, mundo livre. Sabemos que com direito à comunicação e à liberdade de expressão para todos e todas o mundo poderia ser outro. Por isso estamos aqui organizando o 3º Fórum Mundial de Mídias Livres, desta vez no norte da África, onde já fizemos uma grande assembléia de comunicadores, no FSM anterior, no Senegal, precedendo o 2º FMML.
Voluntários divulgando FMML
Por aqui neste continente da Primavera Árabe, onde blogs e redes foram fundamentais para a comunicação que engendrou as revoltas populares, as rádios comunitárias são ainda muito importantes. Tanto que haverá dentro do FMML o 1º Fórum Social Mundial de Rádios Livres e Comunitárias. Além de oficinas de rádio, haverá oficinas de software livre, vídeo, etc… Por aqui o debate político é visível nas ruas, onde não raro se vê rodas de homens em acaloradas discussões.
Várias atividades culturais durante o FSM
A plenária final do II Fórum Mundial de Mídia Livre, realizado em junho de 2012 no Rio de Janeiro, como parte das atividades da Cúpula dos Povos da Rio +20, aprovou, como uma de suas resoluções, a criação de um decálogo de referência para a garantia da mídia livre nos diferentes países. A proposta é elaborar uma Carta Mundial que traga, em 10 pontos, os princípios e condições gerais para o exercício e fortalecimento da mídia livre em todo o planeta, e que possa ser utilizada como uma ferramenta de ação dos movimentos sociais. Desafio grande, mas necessário para que possamos transformar o mundo… Não à toa o tema da comunicação estará presente em todo o FSM, que começa na próxima terça-feira. O povo deste lado do mundo, em luta por democracia e liberdade sabe como ninguém a importância da comunicação.
Pra saber mais sobre o III Fórum Mundial da Mídia Livre, que começa domingo: www.fmml.net