Apesar de ser a segunda vez que tive a oportunidade de ver esse cenário, a experiência foi agregadora, tendo em vista que “as águas de um rio nunca são as mesmas águas”, como dizia o pensador pré-socrático Heráclito de Éfeso. Ao engatar o proseado com “seu” Pedro descobri que ele já tinha feito viagens com seu barco até o rio Padauari a uma distância de cerca de 200 km de Manaus, que fica no limite entre os municípios de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.
Justamente nessa época que estávamos fazendo o passeio, “seu” Pedro também vivenciava a oitava pior cheia no Rio Negro, que havia atingido marca superior a 29 metros, e afetado 14 bairros em Manaus. “Geralmente fica na faixa dos 13 metros”, explicou.
Esse homem, de hábitos simples, também contou que comia peixes praticamente todo dia. Entre os mais comuns, estavam a piranha, o pintado e o tucunaré. Um indicativo peculiar do cardápio local que difere muito dos costumes do Sudeste.
Ao chegarmos ao encontro dos rios, ele parou e fez com que sentíssemos a temperatura diferenciada entre os rios Negro e Solimões (respectivamente mais quente, por causa da menor densidade e acidez, e mais fria), além da característica visível dos diferentes tons da água – preto e barrento. De maneira informal, ele estava nos transmitindo conhecimentos de educação ambiental na prática, o que me deixou a sensação boa de aprendizado.
Quando estávamos chegando à região dos lagos, mais uma parada estratégica. Enormes vitórias-régias estavam ao lado da embarcação. Com um gesto espontâneo, o barqueiro puxou um exemplar e nos mostrou a parte interna e pediu para tocá-la para que conseguíssemos ter noção da diferença de textura, já que é mais grossa, com nervuras, e avistar sua raiz. Nas proximidades, casas flutuantes de madeira revelavam um pouco da vida dos ribeirinhos locais.
Como brinde ao nosso rápido passeio, ele nos levou aos igarapés e a áreas de igapós (vegetação submersa típica da Amazônia) e nos apresentou a árvore parasita (apuí), que poderia ter nos passado despercebida. E quem poderia pensar que em pouco mais de uma hora pudéssemos absorver tantas informações, não é, de forma coloquial?
Moral da história: são nesses momentos do cotidiano, aparentemente de lazer descomprometido, que podemos desfrutar das melhores conversas, que nos acrescentam…Sendo assim, vai a dica: quem for para Manaus, recomendo contratar “seu” Pedro e depois nos contar a experiência.
*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk