Representantes dos Comitês Populares da Copa do nordeste que acompanhavam a relatora pelo direito à moradia da ONU, Raquel Rolnik, se depararam com as portas fechadas da Câmara Municipal de Recife na noite de sexta-feira (29) onde participariam de uma audiência pública sobre as remoções para a Copa. Mesmo com o cancelamento repentino, o grupo realizou o debate na Faculdade de Direito de Recife, em frente a Câmara.
De acordo com os vereadores responsáveis pela realização do debate público a Câmara foi fechada devido a uma manifestação que ocorria próximo ao local. Indignada, a relatora da ONU declarou, ao iniciar a audiência, que foi a primeira vez que se deparou com a portas fechadas de uma instituição para realização de um debate público.
De acordo com ela, o ocorrido é um exemplo significativo sobre “a forma como os megaeventos esportivos internacionais constroem espaços para desconstituir direitos”. Na tarde do mesmo dia, os representantes dos Comitês Populares da Copa de Fortaleza, Natal, Recife e Salvador acompanharam Rolnik nas comunidades do Coque e Camaragibe afetadas pelas obras da Copa do Mundo de 2014.
Em Pernambuco, mais de 2 mil famílias terão de deixar suas residências por conta de obras relacionadas ao Mundial 2014. Moradores ameaçados ou que já perderam suas casas relataram que o poder público não propôs nenhum diálogo antes de planejar a retirada dos moradores. Os valores oferecidos pela indenização ou aluguel social estão muito abaixo do atual valor de mercado.
Raquel alertou aos moradores que do ponto de vista da legislação do direito à moradia, o primeiro passo é conversar com a comunidade para pensar alternativas e minimizar os impactos.
Josedete Araújo dos Santos é uma das atingidas, ela está doente e não têm para onde ir. Foi a moradora que recebeu a maior indenização por sua casa, correspondente a 35 mil reais mas disse que com esse valor não é possível comprar nenhum outro imóvel na região. A construção de duas vias de acesso à Arena de Pernambuco tem afetado a comunidade de Camaragibe. Marinalva Ferreira, que vive no local desde 62 conta que agentes públicos chamam os moradores que resistem a deixar suas casas de rebeldes.