Elas não separam sua luta daquela empreendida pelo povo palestino há mais de 60 anos por sua libertação. “A causa palestina não é limitada”, disse Muna Namura, da União de Mulheres Palestinas e da FDIM, “ela é parte da luta dos povos da Terra pela justiça, liberdade, democracia”. Participaram algumas expressivas lideranças feministas palestinas, que nos contaram histórias muito tristes da rotina de sofrimento que levam as mulheres que decidem lutar ao invés de conformar-se.
Aliás, “desde o século XIX as mulheres palestinas lutam ao lado dos homens”, disse Khitam Saafir, feminista da MMM. “Toda mulher palestina educa seu filho com identidade palestina, história de nosso povo, que nunca será vencido. E vamos continuar apoiando as lutas por liberdade em qualquer parte do mundo”. Esta é outra coisa que elas têm em comum, o orgulho de sua nação e grande esperança de que irão vencer no final. Talvez elas se tornem fortes por tudo que passam, pois os relatos são de muita dor que acompanha a resistência.
Palestinas na marcha de abertura do Forum
A dor da resistência
Layal Dora, do Centro de Democracia e Direitos dos Trabalhadores, disse que assim que acabou a última guerra contra Gaza, ela viajou para o Brasil. “Israel usou bombas fosfóricas, proibidas internacionalmente, contra crianças e mulheres”, denunciou Layal. “Morreram 140 mulheres, milhares estão feridas, 13 delas mortas por essas bombas israelenses”, continuou. Suas lembranças de Gaza incluíam uma mulher que morreu amamentando, outras assassinadas na frente dos filhos. “E as que lutam são terroristas!”. A advogada diz que as sobreviventes vivem com medo do futuro, incerteza frente ao desconhecido, “e são as mulheres as responsáveis pela proteção da casa e da família”.
Um bom exemplo de outra condição bastante comum às mulheres palestinas – criar os filhos longe dos pais – é a vida de Abla Saadat, esposa do Secretário Geral da Frente Popular Palestina, Ahmed Saadat, preso há 13 anos. “Presos os pais, as mulheres continuam”, diz Abla, “a esposa tem que aprender paciência e resistência. Cada dia que passa há mais mulheres presas, há doentes, há greve de fome”. Ela lembrou ainda do “sofrimento da família proibida de visitar os presos. Estes não tem comunicação com o mundo exterior, ficam fora da realidade, não sabem o que se passa com sua família”. Segundo Abla, há casos de presos há mais de 20 anos sem comunicação, os filhos crescem sem pais.
Lares sem casa
O sofrimento dos filhos é outro agravante para as mulheres. “Como explicar para uma filha de cinco anos o ataque à Gaza?”, perguntou Arabiya Mansour, lembrando desse fato que se passou em outro ataque de Israel à Gaza em 2008. “Como explicar o ataque de agora?”. Arabiya já perdeu um filho e acusou o movimento sionista de tentar limpar etnicamente o território dos palestinos. “As mulheres lutam diariamente para proteger as suas casas, que muitas vezes são no deserto, nem tem endereço”.
Thaira Zoabi, outra ativista pelos direitos dos trabalhadores, vivendo em Ramalah, nos conta que há ruas separadas para judeus e palestinos, formas de transporte controladas e que as mulheres tem nível de educação maior que o dos homens. “Entretanto, ficamos paradas pois é difícil chegar ao trabalho, e as mulheres recebem pagamento menor”. O salário mínimo é de 400 dólares.
MMM saindo do painel para a marcha
A representante da juventude, Taghreed Jamaia, de 28 anos, diz que já viu muito sofrimento das mulheres. Militante da Marcha Mundial, ela considera que “a mulher palestina está na vanguarda da luta”. Vivendo em Haifa, norte de Israel, Taghreed diz que “os jovens sofrem deformação de sua memória coletiva”. Na escola em que ela estudou, nada aprendeu de sua própria história. A ativista já esteve presa, sofreu muito na cadeia e denuncia a perseguição aos jovens, já que Israel dizia que aquilo não passaria de duas gerações. “As mulheres tem medo que seus filhos tornem-se militantes e tenham problemas por isso”. Semelhante à parcela da juventude atual, Taghreed diz que não acredita mais nos governos. “Os jovens falam com os povos, não acreditamos nos governos, os povos é que fazem as mudanças”.