Senhor presidente, senhoras e senhores Deputados,
Nas últimas semanas, o sangue do povo palestino voltou a ocupar as páginas dos jornais de todo o mundo. A mais recente ofensiva do Exército de Israel sobre Gaza, iniciada no começo do mês, computou quase 150 palestinos mortos e centenas de feridos, para 5 israelenses mortos atingidos pelos foguetes lançados do outro lado da fronteira. O estado judeu fala de “assassinatos seletivos”, mas a proporção de mortes é vergonhosa: 30 para 1, sendo 40%, de mulheres, idosos e crianças palestinas, o que revela, mais uma vez, a desproporcionalidade da brutalidade de Israel.
Nesta quarta-feira, mediado por representantes dos Estados Unidos, do Egito e de mais de 50 países muçulmanos, foi anunciado um cessar-fogo. Mas os detalhes do acordo ainda não foram divulgados. Sabe-se, por ora, que o bloqueio econômico imposto por Israel a Gaza continua.
O cessar-fogo, no entanto, está longe de resolver os problemas do povo palestino. Incontáveis famílias ainda tentam fugir de Gaza, amedrontadas pelas bombas e pelos panfletos lançados esta semana no norte pela aviação israelense, recomendando à população que deixe a região, porque ela seria atacada.
Nos hospitais de Gaza, a situação é ainda mais desesperadora. O bloqueio naval e aéreo e o fechamento comercial da área desde 2005 impedem até mesmo que equipamentos médicos, remédios e ajuda humanitária cheguem à população palestina. Ou seja, por mais que os bmbardeios parem temporariamente, os palestinos já atingidos continuarão a morrer. Assim, em pouco mais de 360 km quadrados, mais de 1,6 milhão de pessoas lutam pela vida.
Os últimos conflitos em Gaza tiveram início depois que um grupo de adolescentes ligados aos “Comitês de Resistência Popular” lançou pedras e paus contra uma patrulha do Exército de Israel na fronteira, composta de quatro carros blindados. A patrulha israelense invadiu o território de Gaza e atirou no grupo de adolescentes. Um menino de 12 anos morreu. Organizações palestinas em Gaza lançaram então foguetes – e não mísseis – sobre Israel, sem fazer vítimas. E então Israel respondeu com ataques aéreos e mísseis, em larga escala, atingindo alvos do Hamas, de outras entidades de resistência e a população civil. Um dos mortos nos ataques de Israel foi o Comandante do Hamas Ahmed al-Jabri, que vinha negociando um acordo de paz. A situação saiu então de qualquer controle.
É importante lembrar que a volta dos ataques ocorreu às vésperas de o Presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmud Abas, do Al Fatah, apresentar na ONU o pedido de admissão plena da Palestina. A agenda está prevista para o dia 29 de novembro, e tudo indica que a Assembléia Geral da ONU aprovará a entrada. A admissão da Palestina permitirá, por exemplo, que seu governo coloque Israel nos bancos do Tribunal de Haia, ou então peça a formação de uma força de paz da ONU no território, além, claro, de passar a receber os impostos e recursos da Palestina e Gaza, que hoje são recolhidos por Israel. Mahmoud Abbas afirmou que a violência na faixa de Gaza visava afundar seu plano de uma solução diplomática para a região.
O primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, já se mostrou contrário a um tratado de paz definitivo e afirmou sua vontade de derrubar a Autoridade Palestina, inclusive liquidando sua direção, se o país se tornar membro das Nações Unidas. Como precisa de força para resistir a uma eventual pressão da ONU, Netanyahu, além dos ataques, convocou eleições gerais em Israel para janeiro e anunciou a aliança de seu partido com o líder de extrema-direita Avigdor Lieberman.
A verdade, senhoras e senhores deputados, é que os palestinos já tentaram de três maneiras diferentes se libertar da ocupação de Israel: as armas, a diplomacia e a resistência não violenta. E Israel disse não às três. Em 2008-2009, durante a operação “Chumbo Fundido”, também às vésperas de uma eleição, o Exército israelense matou 1.500 palestinos. E, apesar do cessar-fogo, também conseguido na época por intermediação egípcia, e respeitado pelos palestinos até o assassinato do líder do Hamas, os ataques de Israel continuaram.
Já passou da hora, portanto, de a comunidade internacional exigir o fim desta onda de violência criminosa e punir Israel pelos ataques indiscriminados contra a população civil. É urgente também acabar com o bloqueio à Faixa de Gaza e cumprir as resoluções da ONU que apontam para a criação de um Estado palestino. Se a diplomacia não agir agora, a catástrofe será maior. Não é possível se contentar com esta trégua temporária.
Por isso, senhor presidente, estaremos, no próximo domingo, reunidos em São Paulo para protestar contra mais essa ação do governo de Israel e exigir que o governo brasileiro rompa os acordos militares com Israel, e se posicione de forma consistente no cenário internacional contra o massacre do povo palestino.
Manifestamos também nosso apoio ao Fórum Social Palestina Livre, que acontecerá em Porto Alegre de 28 de novembro a 1 de dezembro, tendo como principal objetivo a manifestação da solidariedade internacional a este povo.
Chega de bombardeios e de assassinatos! Por uma Palestina livre, soberana e em paz!
Muito obrigado.
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL/SP