Como acontece sempre que barcos de ativistas procuram desafiar o ilegal
e desumano bloqueio sionista à Faixa de Gaza, na Palestina, o governo de
Israel entra em desespero. Dessa vez, a vítima é o Estelle, barco sueco que se aproxima de Gaza levando ajuda humanitária, com o objetivo explícito de tentar furar o bloqueio.
Hoje, logo após o almoço, os ativistas da Frota da Liberdade – projeto ao qual o Estelle pertence – receberam mensagem do Ministério do Exterior finlandês (o barco navega com bandeira finlandesa) informando que a embarcação será abordada em águas internacionais, e que todos os seus passageiros serão levados ao porto israelense de Ashdod e detidos. O aviso veio do Ministério das Relações Exteriores de Israel.
“Se Israel cumprir a ameaça, será outro ato de pirataria e de sequestro”,
comentou Irene MacInnes, da organização Canadian Boat to Gaza. “O mundo não pode mais continuar em silêncio diante disso”, completou ela.
No começo da semana, Ron Prosor, embaixador de Israel na ONU, solicitou ao Conselho de Segurança e ao secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, que tomassem medidas imediatas para deter o Estelle, cuja viagem chamou de “provocação”. Em carta às Nações Unidas, Prosor afirmou que Israel não tem interesse em confrontações, mas que “está determinado a manter o bloqueio à Faixa de Gaza”, que, segundo ele, se dá por “razões de segurança” – a já desgastada fórmula usada pelos sionistas para justificar seus crimes contra os palestinos.
Quanto à segurança dos habitantes de Gaza, nem uma palavra. Israel e os
governos do planeta continuam em silêncio sepulcral em relação aos direitos básicos do povo palestino, que Israel vem solapando há mais de 100 anos, quando começou, usando de terrorismo, a roubar as terras da Palestina, massacrando milhões de habitantes, expulsando outro tanto – um processo reconhecido como “limpeza étnica” da população palestina –, tomando os recursos naturais e os meios de vida dessa população. Um crime sem precedentes no mundo contemporâneo, cometido cotidianamente, sob o beneplácito dos governantes do mundo e da ONU.
Campo de extermínio
Israel tomou Gaza durante a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, e desde então mantém a faixa costeira palestina sob estrito controle. Em junho de 2006, foi imposto o bloqueio total: terrestre, aéreo e marítimo. O 1,6 milhão de habitantes de Gaza é mantido como prisioneiro, uma vez que só pode entrar e sair do território sob autorização e preenchendo uma série de exigências. Isso se mantém mesmo depois da queda de Hosni Mubarak do governo do Egito, tradicional aliado de Israel. O governo de Mohamed Morsi, atual presidente, eleito em 2012, não vem facilitando muito a liberdade de movimento dos gazenses, como era esperado. Gaza faz fronteira com Israel, Egito e Mar Mediterrâneo. A entrada em Israel está praticamente proibida, assim como a saída pelo mar.
Os habitantes de Gaza, em consequência do bloqueio, vivem em estado de necessidade, dependendo de ajuda humanitária internacional até para alimentar-se. Em setembro deste ano, novo documento conseguido judicialmente pela Gisha, organização israelense por liberdade de movimento, mostrou que o Ministério da Saúde de Israel controla até mesmo a quantidade de calorias que cada gazense deve ingerir a cada refeição. Isso os mantém num estado próximo à subnutrição, como Brasil de Fato já havia denunciado em março deste ano. E, embora o governo israelense desminta ter posto o plano em prática, ativistas de direitos humanos e funcionários da ONU que vivem na faixa litorânea atestam a carência alimentar imposta por Israel – situação que se mantém até hoje, mesmo com os sionistas alegando ter suspendido o bloqueio à entrada de alimentos.
Estudo recente da ONU afirma que Gaza não sobreviverá além de 2020 caso o bloqueio sionista se mantenha. Desemprego, água e solo contaminados por substâncias tóxicas e radioativas, destruição de fábricas e de plantações, proibição da pesca além de três milhas da costa (os pescadores só podem ficar onde quase não há peixes), controle de entrada de gás de cozinha e de combustível, frequentes cortes de energia elétrica, impedimento de tratamento médico adequado e ataques militares frequentes, com tanques e mísseis, tornam a vida em Gaza um pesadelo. Gaza é um “campo de extermínio”, como afirmam os ativistas que vivem ali.
Diante de tudo isso, pergunta-se: quem é o agente provocador? Quem é de
fato o terrorista? A resposta é fácil: o governo de Israel.