“É importante unificar a Palestina e pensar”, disse Marmud Zeidan, do Comitê da Campanha BDS em Beirute, no Líbano. Mas a grande preocupação revelada em seu discurso é com a unidade de todos os palestinos, juntando os 12 campos de refugiados inclusive. A luta pelo direito de retorno, uma das principais bandeiras palestinas, é reivindicação de todos os palestinos que se encontram fora de sua terra. A Resolução 194, art. 13, da Declaração dos Direitos Humanos é o principal argumento. “O retorno de um ser à sua terra”, falou o representante dos refugiados no Líbano, “é inalienável e um legado da resistência. Os palestinos constituem um dos maiores movimentos de libertação do mundo”.
Como estratégia dessa luta, Marmud contou-nos da grande marcha pelo direito de retorno realizada em 2011, quando 50.000 echarpes com o número 194 foram utilizadas na manifestação, que trouxe palestinos de vários cantos e gerações, lotando toda a fronteira. Para ele, há uma “centralidade da Palestina na região; a juventude produz instrumentos e material de conscientização, enquanto Israel diz que o retorno não é nada”.
BDS é A estratégia
Já o representante da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), Ali Abu Hilal, defendeu que o BDS deve unificar todas as comunidades palestinas no mundo junto com os movimentos sociais. “É preciso trabalhar para desenvolver estratégias de boicote a Israel nos outros países, trabalhar pelo boicote do comércio militar com Israel”. Hilal defendeu criar um grupo de pressão árabe para atuar no mundo e conquistar para o boicote os sindicatos de trabalhadores, a academia, os ativistas culturais, formar ramos exteriores deste comitê.
Também Jorge Sanchez, da Rede Solidária contra a Ocupação da Palestina, que reúne 36 organizações da Espanha, defendeu a campanha BDS não como uma estratégia, mas sim como A estratégia. “É um mandado da sociedade civil palestina, que une todos os palestinos, então temos que cumpri-lo”, disse. Sanchez chamou o projeto de Israel de “colonialismo anacrônico que não pode mais existir”. O BDS não é fácil de implementar, segundo a experiência espanhola, mas há um mês eles realizaram a I Conferência BDS em Barcelona e a campanha vai melhorar. “São três demandas mínimas”, diz Sanchez, “que nossos governos devem ser empurrados a cumprir. O BDS precisa estar na América Latina”.
Solidariedade internacional necessária
“Israel disse que em duas ou três gerações os palestinos esqueceriam”, falou Rafeef Ziadeh, do Comitê Nacional de BDS na Palestina, “eu sou terceira geração e quero voltar para casa, quero morar na casa”. Agora, a sociedade palestina reivindica a solidariedade internacional com boicotes pelo mundo, e ela explica o BDS. O B quer atingir as companhias israelenses que lucram com violações dos direitos dos palestinos; o D quer focar nos investimentos cúmplices de Israel para que não sejam mais financiados; e o S mira os direitos governamentais, pretende conscientizar as nações. Ela cita a Semana do Apartheid de Israel realizado em Toronto e diz que 260 universidades em todo o mundo tiveram atividades semelhantes no ano passado. Na África do Sul, além da universidade, agora estão sendo trabalhados os sindicatos. “Queremos isso na América do Sul”.
Enfaticamente Rafeef pediu que paremos com a cumplicidade com o roubo das terras palestinas e denunciou empresas israelenses. “É preciso pedir embargo militar contra Israel que exporta 80% da produção militar que fabrica. As armas ‘testadas em campo’ utilizam para isso os corpos de palestinos e também outros povos pelo mundo. E a luta palestina é parte da luta internacional por justiça e liberdade”. A lider do BDS falou sobre o governo brasileiro e seu contrato de cooperação com Israel com companhias militares. “O Brasil é ponto de entrada para o continente, esses acordos tem que ser parados. Por que este dinheiro não está sendo gasto em educação, saúde e coisas assim neste país?!”.
Munadel Herzallah falou pela comunidade de Nova Iorque, onde existe um Comitê de Solidariedade à Palestina. “O cidadão global precisa reconhecer que o Estado de Israel não é inimigo só dos palestinos”, disse ele. “É um Estado colonial que aumenta suas relações de poder, como ocorre na América do Sul e na África do Sul”. Também nos EUA a solidariedade se dá principalmente entre os trabalhadores organizados. “Não temos ilusão com a resolução de ontem da ONU”, analisou Herzallah. “Sabemos que nada mudará no chão; apenas existe a possibilidade de lutar junto à comunidade internacional que reconheceu o direito da luta pela independência”.
Falou também Suraia, representante trabalhista da África do Sul, que contou da experiência da luta contra o apartheid em seu país, e da clareza que exista em relação ao trabalho de solidariedade pela autodeterminação do povo palestino. Também na mesa Khaled Barakat, que trabalha em defesa dos presos políticos e que mostrou o interesse econômico de Israel. “A ocupação é missão de lucro também, sabemos que o objetivo final é dinheiro; nas colônias, as políticas em relação à Cisjordânia e à Gaza, todas visam lucros e ganhos econômicos”. Por isso a importância da campanha BDS. “Os EUA são cúmplices dos massacres”, conclui o advogado, “há cumplicidade de outros países. A luta é do mundo inteiro, é responsabilidade de todos os países, os palestinos nunca vão desistir”.
Finalizando, a coordenadora da conferência, Soraya Misleh, militante brasileira da causa palestina, e também desta Ciranda, falou do lançamento da campanha BDS no Brasil. Ela informou que o Brasil já é um dos cinco principais importadores de Israel, é porta de entrada para a América Latina, “mas utiliza a retórica de apoio ao povo palestino, contraditoriamente”. Soraya lembrou que Israel está ainda mais de olho em nosso país, por causa da Copa e das Olimpíadas, e que, embora difícil, a campanha BDS precisa ser fortalecida no Brasil. Haveria uma reunião com as organizações a seguir para debater propostas concretas para a campanha em nosso país.