A final da Copa das Confederações não será jogada apenas em campo. Fora do gramado do Maracanã, repaginado a um custo de 1 bilhão de reais para abrigar a elite “com ingresso”, os comitês populares da Copa – criados para defender os interesses da população nos megaeventos – preparam manifestações no Brasil inteiro, a começar pelo Rio de Janeiro, a sede da final Brasil x Espanha.
Ali está prevista uma caminhada saindo da praça Saens Peña, na Tijuca, até o Maracanã, com encerramento na Praça Afonso Pena. As principais reivindicações são a imediata anulação da privatização do Maracanã (reformado com dinheiro público), com a reabertura e reconstrução dos equipamentos públicos em seu entorno – o Parque Aquático Julio Delamare, o Estádio de Atletismo Célio de Barros, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Friedenreich – além da devolução da Aldeia Maracanã, o antigo Museu do Índio, simbolicamente ocupado por representantes de diversas etnias.
Igualmente importante é a reivindicação pelo fim das remoções e despejos em nome da Copa e das Olimpíadas – há 11 mil pessoas que correm o risco de perder suas casas no Rio – com destaque para a permanência e urbanização da Vila Autódromo, ameaçada pela construção do Parque Olímpico, e a regularização fundiária do Horto, encravado no bairro nobre do Jardim Botânico.
“Nós estamos abertos ao diálogo com a presidenta e sempre estivemos abertos ao diálogo com os governantes. Entregamos o Plano Popular da Vila Autódromo ao Eduardo Paes no ano passado e até hoje não tivemos resposta” diz Renato Cosentino, membro da ANCOP (Articulação Nacional dos Comitês Populares).
Manifestação em Belo Horizonte (MG)
Em São Paulo, que não faz parte das cidades-sede da Copa das Confederações mas tem sido um dos principais palcos dos protestos que tomaram o país nas últimas semanas, a principal palavra de ordem do Comitê Popular da Copa (SP Copa) é a desmilitarização da Polícia Militar, com ênfase no protesto contra a criminalização e repressão à população decorrente dos megaeventos. Com essas bandeiras, o comitê pretende fazer um ato no domingo às 15h no Vale do Anhangabaú na Fan Fest, espaço de eventos públicos onde se realizam os jogos da Copa em São Paulo.
A desmilitarização da PM é uma pauta que “atravessa todas a outras pautas dos movimentos sociais no Brasil” diz Juliana Machado, representante do SP Copa. “As remoções forçadas é a polícia que executa; a perseguição aos ambulantes é a polícia que faz, a população de rua é a polícia que age de maneira truculenta, enfim, a própria repressão aos movimentos sociais” explica.
O Comitê Popular da Copa também lançou um manifesto destacando que “entre 2000 e 2011, foram mais de 4.600 mortos pela PM em São Paulo, considerando apenas as denúncias que chegaram até a Ouvidoria da própria corporação”. E chama a atenção para a expansão dessa violência na onda de protestos do país: já no dia 13 de junho, nas primeiras manifestações, “200 pessoas foram presas e muitas outras feridas – entre elas, 20 jornalistas, com um deles tendo perdido a visão de um olho”.
O que, segundo o manifesto, vai se agravar na Copa 2014. A Força Nacional de Segurança, que reúne polícias militares de diversos estados, esteve presente em 5 das 6 cidades-sede da Copa das Confederações: Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Belo Horizonte e Fortaleza. Daqui a um ano, essas forças ocuparão as 12 cidades-sede da Copa da FIFA “e as notícias de violência nas manifestações que recebemos hoje certamente se repetirão”, afirma.
Lembrando os acontecimentos recentes em Brasília, em que o recrudescimento da repressão policial contra os manifestantes foi anunciado na segunda-feira passada pelo tenente coronel da PM Zilfrank Antero, Juliana Machado diz: “A gente tá percebendo que as forças armadas estão cada vez mais presentes no cotidiano das cidades, qualquer problema político elas são chamadas a intervir. Mas em vez de coibir a violência, a PM faz parte dessa violência”. E acrescenta: “A PM é uma instituição militar e isso faz com que tenha pouco ou nenhum controle externo”. Ou, como afirma o comunicado: “Porque não se trata de maus policiais ou de falta de preparo: é a própria existência de uma polícia com caráter militar, oriunda da ditadura também militar, que tem que ter um fim.”
Não somos contra o futebol!