Toda boa história começa com mistério. O mistério colocado me parece por quê os preços da Petrobrás em Bolsas de Valores não reagiram mais após o anúncio de aumento nos preços de combustíveis no último dia 29 de janeiro. A razão, consensuada na rodinha dos excelentes analistas financeiros que cobrem a empresa, pode ser bem sintetizada nas palavras de um deles:
“Petrobras announced the much awaited increase in refined products prices: +6.6% for gasoline and +5.4% for diesel, effective Jan. 30. In our view, any increase is positive for Petrobras, since it should contribute to a reduction in losses arising from importation of gasoline and diesel at international prices and re-selling at prices below cost. However, the announced adjustment still leaves a relatively sharp gap (estimated at 9% for gasoline and 13% for diesel). As a result, we do not expect any significant positive market reaction to the announcement”. [BoAML]
Aparentemente, o “mercado” antecipava aumento de 7% médios ao longo do ano, sendo o gap restante ainda não coberto estimado em 9% para gasolina e 13% para o diesel. Dessa maneira, o mistério pode ser recolocado mais tecnicamente como: dado que não havia info pública sobre montante de reajuste agora e, considerando-se que resta ainda gap a ser preenchido em termos de aumento de preços, como os analistas calibraram ex ante a régua do aumento nas suas projeções?
Afastada hipótese conspiratória de vazamento de informações, quiromancias ou outras maluquices, nos parece razoável supor que trata-se apenas dos velhos expedientes de “mercado”.
É notória a importância dos investimentos da Petrobrás nos próximos anos (corresponde a cerca de 1/3 das inverões totais esperadas para a indústria brasileira) para a continuidade do crescimento econômico do país. Haverá exigências de indice de nacionalização para equipamentos, o que contribuirá para alavancar receitas para o frágil setor tecnológico de bens de capital. A infraestrutura aeroportuária que será desenvolvida para produção do óleo no pré-sal mudará o aproveitamento do mar brasileiro. A indústria naval, cuja ausência tanto pesa nas contas nacionais, demandará insumos industriais em larga escala. Com o pré-sal em andamento, a demanda por engenheiros aumentará exponencialmente, o que contribuirá para formação de massa crítica tecnológica em escala ainda não alcançada. Enfim, múltiplos argumentos sustentam a importância histórica da nossa empresa de petróleo neste momento.
O correto dimensionamento dos níveis de produção em cada momento determinará o tamanho relativo que o complexo pertrolífero ocupará em relação a outras cadeias produtivas no país. Caso muito grande, grande também será esperada a influência dos interesses internacionais do petróleo na formação do pacto político brasileiro. É isso que queremos?
Se a empresa quisesse maximizar divisas apenas, aumentaria o preço dos combustíveis em busca de antecipação das receitas. Focaria em algumas áreas e deixaria inteiramente ao capital estrangeiro a responsabilidade de dimensionamento do complexo petrolífero no país.É isso o que deseja, aparentemente com mais furor que as big sisters a banca internacional com atuação no Brasil.
É importante lembrar que os garimpeiros internacionais dependem do financiamento público brasileiro para montagem da necessária infraestrutura logística. Do contrário, colocarão mais dinheiro que o costume.
Ainda que o ritmo de investimentos possa ser mais lento como estratégia para aumentar a participação da Petrobrás (e da indústria brasileira) sobre a exploração das reservas no pré-sal, faltam recursos no caixa da empresa. Contribui para isso aumentos reais de renda dos trabalhadores brasileiros nos últimos anos (custo em Reais) e limitações macroeconômicas para autorização do aumento de preços de combustiveis.
Considerando-se que o gradualismo é o mantra dos analistas financeiros, difícil acreditar que não tenham percebido que o aumento autorizado pode ser sucedido de novos aumentos no futuro próximo, dependendo-se do comportamento de preços do agregado energético (incluindo-se eletricidade).
A hipótese que se pretende levantar para a dormência das ações da Petrobrás na Bolsa de Valores parece esclarecer o mistério de maneira muito mais simples. Que tal se os bancos que organizam e influenciam o mercado de capitais, incluindo-se bolsas de valores, estejam jogando xadrez, cientes de seu poder relativo?
Explica-se melhor. Como sócio majoritário e controlador da Petrobrás (foi quem a criou e tanto defendeu!), o Estado brasileiro possui alternativas ao aumento de preços para compor o caixa da Petrobrás. Pode-se, também, fazer uma chamada de capital para, por exemplo, liquidar dívidas. Neste caso, o “mercado” teria direito de preferência para manter a composição no capital da petroleira. Caso haja interesse, claro.
Ao manter os preços das ações da Petrobrás deprimidos em bolsas de valores, os market makers diminuem o “custo” que terão que incorrer, sob as circunstâncias atuais, para acompanhar uma possível chamada de capital.